Teoria Das Linguagens
Trabalho Escolar: Teoria Das Linguagens. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: 16101994 • 21/10/2014 • 2.430 Palavras (10 Páginas) • 282 Visualizações
O percurso da Lingüística Textual
A adoção do texto e do discurso como unidade básica dos estudos lingüísticos não foi um processo unitário e uniforme, já que houve várias orientações, às quais correspondiam propostas teórico-metodológicas diversas. De forma genérica, essas propostas podem agrupadas em duas tendências: a Análise do Discurso de linha francesa e a Lingüística Textual, oriunda, sobretudo dos países germânicos (Alemanha, Países-Baixos) ou do Reino Unido. Na primeira, as preocupações dominantes são o sujeito da enunciação (um ser situado num dado momento histórico) , os sentidos que ele produz e a ideologia que subjaz à sua mensagem. A Lingüística Textual tinha por objeto específico os processos de construção textual, por meio dos quais os participantes do ato comunicativo criam sentidos e interagem com outros seres humanos.
Na seqüência do texto, são expostos os três passos principais da evolução da Lingüística Textual: as análises transfrásticas; a Gramática de Texto; a Teórica do Texto.
Análises transfrásticas
As análises transfrásticas ainda não consideram o texto como o objeto de análise, pois o percurso ainda é da frase para o texto. Aliás, as análises transfrásticas surgiram a partir da observação de que certos fenômenos não poderiam ser explicados pelas teorias vigentes na época (estruturalismo e gramática gerativa) , por ultrapassarem os limites da frase simples e complexa: a co-referenciação (anáfora); a correlação de tempos verbais (“consecutio temporum”); o uso de conectores interfrasais; o uso de elementos e indefinidos. Veja-se o exemplo a seguir:
(01) “O que os escândalos do governo Lula mostram é um antídoto à desculpa tipicamente nacional de que corrupção existe em todo lugar. Afinal revelam um padrão que, como gosta de dizer o presidente, “nunca, em 500 anos de história”, foi muito diferente do que é agora. Portanto, têm uma especificidade, e sem olhar para ela, o problema não será combatido e atenuado” (Daniel Piza, “O labirinto da corrupção”, O Estado de S. Paulo, 3/7/05, D3, p. 03)
Verifique-se, no fragmento acima, a presença dos conectores interfrásticos (afinal, portanto); a presença de relações anafóricas entre termos situados em frases diferentes (o presidente, retomando Lula; as elipses – afinal Ø revelam; Ø têm – que remetem escândalos; o problema, referindo-se a corrupção); o emprego dos tempos verbais (presente e futuro).
Se observados a partir de uma perspectiva textual, os elementos citados (anafóricos, conectores, tempos verbais) passam a ser encarados a partir de uma perspectiva diferenciada. Com efeito, os anafóricos deixam de ser considerados meros substitutos (termo que entra no lugar de outro) e passam a ser vistos como termos que possibilitam a retomada do dado, para que a ele sejam acrescidas novas informações. Assim, a retomada de Lula por o presidente indica que ele sabe da existência da corrupção. Os conectivos afinal e portanto têm um nítido papel argumentativo: o primeiro introduz um fragmento que retoma o que foi dito e, ao mesmo tempo, encaminha o leitor para uma conclusão. Já o portanto encaminha o leitor para as conclusões desejadas pelo autor.
Os autores dessa fase valorizaram sobretudo o estudo dos vínculos interfrásticos (elementos coesivos). Nesse sentido, HARWEG (1968) define texto como “uma seqüência pronominal ininterrupta” e menciona como uma de suas (do texto) principais características o fenômeno do múltiplo referenciamento. ISENBERG (1971) conceitua texto como uma “seqüência coerente de enunciados” e enfatiza que o papel dos elementos coesivos no estabelecimento da coerência textual.
O papel atribuído aos elementos coesivos no estabelecimento do sentido global do texto, porém, foi questionado quando se verificou que os citados elementos não são essenciais para a compreensão do sentido global do texto. Vejam-se os exemplos a seguir:
(02)
(2a) Não vi o acidente: não posso apontar o culpado.
(2b) Não vi o acidente: naquela hora, tinha acabado de entrar na / loja.
(2c) Não vi o acidente, contaram-me que ele não respeitou a preferencial.
Mesmo sem a ausência de conectivos; ouvinte/leitor tem a capacidade de construir o significado global da seqüência, porque pode estabelecer as relações lógico-argumentativas entre as partes dos enunciados:
2a: relação conclusiva (portanto).
2b: relação explicativa (pois).
2c: relação adversativa (porém).
Em outros textos, verifica-se que a presença de elementos coesivos não basta para assegurar o sentido global ao texto:
(03) Ivo viu a uva.
A uva é verde.
A vagem também é verde.
Vovó cozinha a vagem.
A necessidade de considerar o conhecimento intuitivo do falante na construção do sentido global do enunciado e no estabelecimento das relações entre as sentenças, e o fato de vínculos coesivos não assegurarem unidade ao texto conduzem à construção de outra linha de pesquisa. Nessa nova linha, procurou-se considerar o texto não apenas como uma lista de frases, mas um todo, dotado de unidade própria.
Gramáticas de texto
De acordo com MARCUSCHI (1999) , as gramáticas textuais, pela primeira vez, propuseram o texto como o objeto central da Lingüística e, assim, procuraram estabelecer um sistema de regras finito e recorrente, partilhado (internalizado) por todos os usuários de uma língua. Esse sistema de regras habilitaria os usuários a identificar se uma dada seqüência de frases constitui (ou não) um texto e se esse texto é bem formado.
Esse conjunto de regras constitui a competência textual de cada usuário e permite aos usuários diferenciar entre um conjunto aleatório de palavras ou frases, ou um texto dotado de sentido pleno. Outras manifestações dessa competência são a capacidade de resumir ou parafrasear um texto, perceber se ele está completo ou incompleto, produzir outros textos a partir dele, atribuir-lhe um título, diferenciar as partes constitutivas do mesmo e estabelecer as relações entre essas partes.
CHAROLLES (1983) admite que o falante possui três competências básicas:
Competência formativa: permite ao usuário produzir e compreender um número infinito de texto e avaliar, de
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