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Textos De Machado De Assis

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Por:   •  9/5/2014  •  864 Palavras (4 Páginas)  •  313 Visualizações

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Círculo Vicioso

Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:

- Quem me dera que fosse aquela loura estrela,

que arde no eterno azul, como uma eterna vela !

Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:

- Pudesse eu copiar o transparente lume,

que, da grega coluna á gótica janela,

contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela !

Mas a lua, fitando o sol, com azedume:

- Misera ! tivesse eu aquela enorme, aquela

claridade imortal, que toda a luz resume !

Mas o sol, inclinando a rutila capela:

- Pesa-me esta brilhante aureola de nume...

Enfara-me esta azul e desmedida umbela...

Porque não nasci eu um simples vaga-lume?

No alto

O poeta chegara ao alto da montanha,

E quando ia a descer a vertente do oeste,

Viu uma cousa estranha,

Uma figura má.

Então, volvendo o olhar ao subtil, ao celeste,

Ao gracioso Ariel, que de baixo o acompanha,

Num tom medroso e agreste

Pergunta o que será.

Como se perde no ar um som festivo e doce,

Ou bem como se fosse

Um pensamento vão,

Ariel se desfez sem lhe dar mais resposta.

Para descer a encosta

O outro lhe deu a mão.

A uma senhora que me pediu versos

Pensa em ti mesma, acharás

Melhor poesia,

Viveza, graça, alegria,

Doçura e paz.

Se já dei flores um dia,

Quando rapaz,

As que ora dou têm assaz

Melancolia.

Uma só das horas tuas

Valem um mês

Das almas já ressequidas.

Os sóis e as luas

Creio bem que Deus os fez

Para outras vidas.

Um Apólogo

Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:

— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo?

— Deixe-me, senhora.

— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.

— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.

— Mas você é orgulhosa.

— Decerto que sou.

— Mas por quê?

— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?

— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu e muito eu?

— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...

...

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