A Berçarista x Criança
Por: Maryon • 20/5/2015 • Artigo • 1.169 Palavras (5 Páginas) • 294 Visualizações
A berçarista tem como trabalho:
Desenvolver uma escuta e um olhar atento que a permite conhecer cada um dos
bebês, percebendo suas preferências e os seus diferentes modos de ser, agir e
sentir. Essa sua percepção ficará evidente nas atitudes cotidianas pelas quais
demonstrará que as crianças são efetivos sujeitos e não apenas corpos a serem
banhados, alimentados ou trocados.
As crianças devem ser avisadas daquilo que irá acontecer (hora do banho, da
troca de fraldas, da alimentação, da ida para a área), sendo que em muitos
momentos elas são convidadas para qualquer uma dessas atividades.
Pode parecer incomum um convite para uma troca de fraldas no qual a criança estenda os braços
para ir com a berçarista. Da mesma forma, a berçarista avisa as crianças quando
irá ausentar-se da sala. Também são fomentadas, no berçário, brincadeiras e
possibilidades que as vezes são improváveis se partíssemos da concepção de criança
descrita pelos manuais de desenvolvimento infantil, nos quais bebês tão pequenos
são vistos como seres que não têm capacidade de simbolizar, de fantasiar, de se
concentrar, de se relacionar com o outro.
Essa observação que a berçarista faz das crianças revela a
concepção de criança-bebê que constrói. É mais fácil pensar que as crianças são
atores sociais, potentes, criativos, quando falamos de crianças maiores. Aqui, no
entanto, referimo-nos a bebês e, assim sendo, é um desafio pensar em alteridade
quando este outro é um bebê.
O que a berçarista no berçário faz, é desenvolver uma prática de
observação das crianças que lhe dá elementos para perceber as particularidades
de cada uma delas, respeitá-las e interagir com esses bebês como efetivos seres
sociais, que não se comunicam de forma oral, mas que têm canais de comunicação
com as quais nós, adultos, precisamos, via observação e respeito à alteridade do
outro, aprender e apreender. O trabalho docente com bebês requer que a
comunicação entre crianças e berçarista supere a oralidade exclusiva, pois os
pequenos têm outras linguagens que são fundamentais para conhecê-los e
compreender o seu ponto de vista.
O trabalho pedagógico com bebês não se resume a observá-los, mas a
observação é base para organizar as ações pedagógicas que tenham como meta o
respeito para com cada um, pelas suas singularidades, pelos sinais comunicativos
que emitem. Conhecendo cada um dos pequenininhos haverá mais elementos para
estruturar a prática.
No seu cotidiano a berçarista, em muitos momentos, traduz
para a linguagem oral sensações e desejos das crianças, percebendo os sinais que
os bebês emitem, de modo a constituir o que chamamos de empatia. Muitas vezes essa
comunicação é feita com a mudança de voz da berçarista, que passa a falar
como se fosse o bebê, em outras, ela fala com a criança demonstrando conhecê-
la muito bem:
A berçarista fala: “Vamos Pedro tirar o xixi?”, muda a voz e continua:
“minha fralda é de pano e eu to com a bunda gelada”, já no banheiro volta
a falar com a sua voz: “vamos tirar o xixi que a bunda do Pedro já está
virando um picolé, hoje está frio, não é gostoso ficar com o xixi gelado
esfriando o corpo”.
A berçarista mostra para a auxiliar que João está de bruços, fala como se
fosse o bebê: “Eu quero aprender a ficar de bruços, cansei de olhar vocês
de longe, eu quero ficar brincando pertinho de vocês”.
A berçarista está sentada dando o lanche para Luiz, Davi
aproxima-se e deita no colo da berçarista, esta fala: “tu não dormiste o
suficiente, né, Davi. A Sara está ficando bagunceira e te acordou,
tu ainda dormirias muito mais. Descansa mais um pouquinho no meu
colo”.
O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa refere-se à empatia como
sendo a capacidade de se identificar com outra pessoa, de sentir como ela sente, de
querer o que ela quer, de apreender do modo como ela apreende; ou ainda como o
processo de identificação em que o indivíduo se coloca no lugar do outro. Os
excertos acima demonstram essa capacidade que a professora desenvolveu. Se
conseguirmos aceitar que as crianças têm muito o que nos dizer, que têm vontades,
sentimentos, pensamentos, é necessário que admitamos a nossa incompreensão do
seu modo de ser e construamos formas para nos comunicar com elas.
Empaticamente, traduzindo em palavras aquilo que percebia dos bebês, a
berçarista conseguiu legitimar o ponto de vista dos pequenos, fazendo um esforço
para captar a perspectiva da criança e construindo uma relação
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