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A Crise Da Leitura

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Por:   •  28/1/2014  •  867 Palavras (4 Páginas)  •  482 Visualizações

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A crise da poesia e da palavra é também crise da leitura. O exílio poético, a peste que desfigura a linguagem, a carência da arte de viver e conviver, a perda das palavras, o abandono da leitura não são questões relativas apenas ao grande mundo, ao macro-cosmos do tempo em que vivemos. Essas questões estão presentes na história de cada dia, de cada sujeito.

De um modo mais claro, esta presente no cotidiano de quem trabalha com as palavras. Assim, um dos campos que mais explicita a crise é a sala de aula. Em quarenta anos de trabalho com leitura e redação, e nas constantes conversas com professores de diferentes partes do país, nunca encontrei tanta perda de sentido como em nossos dias.

O leitor de olhos livres, que faz leitura criadora, em diálogo com o texto, tem sido cada vez mais raro. Assim como – no ato de ler e para além dele – é raro o gosto de pensar pela própria cabeça e falar pela própria boca, assim como é rara a alegria de aprender, por paixão do conhecimento, na travessia com os livros e para além deles.

Os sinais de desinteresse e desencanto estão em toda parte. De modo semelhante, no ato de escrever raramente se encontra um texto escrito com alegria de pensar, alegria de dizer, um texto com rosto, com singularidade, com sinais de autoria de palavras e de pensamento.

A convivência com a criação poética, a leitura de poemas, é um grande antídoto para a crise de linguagem, de leitura, de escrita, mas a poesia nunca foi tão ignorada. Existe a argumentação de que em nenhuma outra época se leu e escreveu tanto, como hoje. Argumentam que milhões de mensagens de texto são trocadas cotidianamente, a todo instante, principalmente pelos jovens. No entanto, é preciso perguntar: o que está sendo escrito e lido? Como tem sido a escrita e a leitura? Na maioria das vezes, trata-se de mensagens consumíveis, esquecidas em segundos, em meio a muitas outras, igualmente descartáveis.

À banalização se segue a indiferença. Essa dispersão se agrava com outra marca do nosso tempo: a avalanche de informações a que estamos submetidos todos os dias. Saturados de estímulos e solicitações, sob poderosas forças centrífugas de dispersão, vamos ficando ao mesmo tempo excitados e entediados. Por um lado, abrem-se novas possibilidade de conexão, de convivência com a multiplicidade de referências.

Por outro lado, e ainda mais, multiplicam-se novos processos de desagregação, perda reflexiva e confusão. Uma questão: que quadro sinóptico poderia representar essas leituras superficiais, fragmentadas, corridas, dispersivas? Nelas não há arborização, nem rizomas. Demasiadamente descontínuas, elas se enveredam por ligações quase aleatórias, por laços metonímicos com um elemento de outros textos.

Muitas vezes essas leituras se dispersam e não retornam à questão principal, ao tema motivador, ao fluxo do raciocínio, à tessitura das imagens e dos sentidos. Não raro, elas se esquecem de si mesmas, do seu próprio motivo de sua realização.

Uma ressalva: ler de modo descontínuo, nômade, passeando com os olhos, em enumeração livre – e até mesmo caótica – pode ser um processo criativo, como momento de um processo de criação, com algum grau de consciência ou intencionalidade.

No entanto, se feita de modo irrefletido e indiferente, essa leitura tende a tornar-se dispersão, ruído e insignificação.

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