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A Miscigenação étnico-racial E Sua Influência Na Construção Social Do Brasil

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Por:   •  16/6/2013  •  1.471 Palavras (6 Páginas)  •  531 Visualizações

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Em 1933, é publicado o livro Casa-grande e senzala, de Gilberto Freyre. A obra, que se

tornaria um dos grandes clássicos da sociologia brasileira, rebatia as teorias, até então dominantes,

que apregoavam a inferioridade do mestiço e justificavam cientificamente o racismo. As teorias

raciais que adentraram o Brasil em meados do século XIX explicavam a desigualdade social entre

brancos e negros como um fato dado pela natureza supostamente inferior dos negros. Por meio

de medições de crânio e comparações entre os diferentes fenótipos, esses teóricos afirmavam

que haveria uma desigualdade biológica entre as pessoas. Com o fim da escravidão (1888) e a

proclamação da República (1889), essas teorias seriam usadas politicamente para justificar as

desigualdades sociais que continuaram a existir em relação aos escravos libertos. Ao mesmo

tempo, o fim da escravidão no Brasil era visto como um processo mais brando do que ocorrera em

outros países, uma vez que aqui não teria sido implantada uma política oficial de segregação depois

da Abolição.

No Brasil, as teorias raciais nem sempre se opunham à miscigenação. Ao contrário, o

incentivo à imigração europeia foi feito com o objetivo de branquear a população. A cor branca

passa, assim, a ter um valor social mais elevado e os conflitos não são tematizados em termos

raciais. Na década de 1930, esse cenário se altera de modo mais radical. A mestiçagem deixa de

ser vista como um meio para atingir o branqueamento e passa a ser considerada não só em termos

biológicos, mas também como uma mestiçagem cultural. É neste contexto, que Gilberto Freyre

publica Casa-grande e senzala.

Freyre, que estudou nos Estados Unidos com um dos precursores da antropologia

americana moderna, Franz Boas, teceu sua interpretação a partir da perspectiva culturalista, que

refutava o determinismo biológico. Desse modo, na obra de Gilberto Freyre, a cultura brasileira

é tratada como uma totalidade na qual se integram os aspectos econômicos, o meio ambiente, a

cozinha, as religiões, os rituais e os comportamentos humanos. No Brasil, teria se dado, segundo

ele, uma colonização marcada pela miscigenação de portugueses, índios e africanos, havendo

uma interpenetração dessas três culturas, que teve como resultado uma formação nacional muito

singular. Gilberto Freyre se contrapõe aos argumentos de muitos de seus contemporâneos, que

consideravam a mestiçagem como causa para a miséria e para a indolência do povo brasileiro.

Freyre destacará, ao contrário, que muitos dos problemas seriam provenientes do próprio sistema

escravocrata, marcado pela violência e pelo sadismo contra os negros. O foco do autor se dirigia,

principalmente, para as relações privadas, do lar, destacando a tolerância, a convivência cultural e 6

oficina

a intimidade sexual.

No trecho do documentário “Café com leite (água e azeite?)”, de

Guiomar Ramos, você pode aprofundar um pouco mais essa discussão

sobre a ideia de democracia racial em Gilberto Freyre.

A abordagem de Gilberto Freyre sobre a formação nacional

teria implicações não apenas no plano teórico, uma vez que rebatia as

justificativas científicas daquela época para o racismo, mas teria também consequências no plano

político. Neste sentido, a teoria fornecia uma nova autoimagem para os brasileiros, fundada numa

valorização da mestiçagem. Mais que isso, essa afirmação de um Brasil mestiço fundamentava a

ideia de uma identidade nacional coesa, que seria a base de uma comunidade política bem integrada.

Desse modo, o sentimento de pertencimento nacional assumia o primeiro plano, invisibilizando as

diferenças, fossem elas étnicas, religiosas ou de idioma.

A ideia de um Brasil mestiço passa a fazer parte do discurso oficial a partir dos anos de 1930.

Entre os elementos apropriados como parte de uma identidade nacional estão, por exemplo, a

feijoada, a capoeira e o samba. A feijoada deixa de ser uma comida de escravos para se converter

em um prato nacional. Já a capoeira, que havia sido reprimida criminalmente até o século XIX,

torna-se um esporte oficial em 1937. O samba, por sua vez, passa da repressão à exaltação,

contando com patrocínios oficiais também a partir desse período. Mesmo no campo religioso, a

escolha de Nossa Senhora da Conceição Aparecida como padroeira nacional na década de 1930

alimentava essa ideia de um Brasil mestiço. Encontrada imersa no rio Paraíba do Sul, a imagem

escurecida da virgem tornava a santa meio branca meio negra, como os próprios brasileiros. Assim,

muitos elementos associados às culturas africanas trazidas pelos escravos, que eram anteriormente

reprimidos, passam a compor a definição do que seria a identidade nacional brasileira. A unidade

dessa identidade era dada pelo pressuposto de que as diferenças raciais não

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