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A REPETIÇÃO NA LÍNGUA PORTUGUESA

Por:   •  23/4/2015  •  Projeto de pesquisa  •  6.202 Palavras (25 Páginas)  •  359 Visualizações

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A REPETIÇÃO NA LÍNGUA PORTUGUESA

Carlos Alberto Gonçalves Lopes (UNEB)

Resumo

Este ensaio consiste numa sistematização e discussão dos mecanismos de repetição encontrados na língua portuguesa a partir da análise do “Sermão da Primeira Sexta-feira da Quaresma” do Padre Antônio Vieira e parte do pressuposto de que a repetição, longe de ser um defeito de expressão, é um recurso lingüístico riquíssimo e muito útil para a expressão não só dos nossos pensamentos como também dos nossos sentimentos.

Palavras-chave: língua portuguesa; estilística; semântica.

Introdução

Esta pesquisa constitui-se num trabalho teórico e prático que tem por propósito examinar o fenômeno da repetição na língua portuguesa, tomando como corpus o Sermão da Primeira Sexta-feira da Quaresma do Padre Antônio Vieira, além de propor uma sistematização teórica desse importante mecanismo lingüístico, seguindo de perto as recentes pesquisas realizadas por eminentes estudiosos da língua portuguesa.

Motivaram-na o estudo que realizamos de Lingüística Textual no curso homônimo ministrado pela Profª Ingedore V. Koch no módulo I, da disciplina SEMINÁRIOS AVANÇADOS II, do Curso de Doutorado em Letras da UFBa, através do qual constatamos que muitos casos de repetição nada mais são do que intensificadores por extensão do tipo construções sintagmáticas enfáticas.

Para a fixação do corpus utilizado na aplicação dos pressupostos teóricos desenvolvidos nos três primeiros capítulos deste trabalho monográfico, optamos pelo sermão supracitado inserido no volume dois da coleção Obras Completas, do Padre Antônio Vieira, editada pela Lello & Irmão, por considerarmos uma boa edição em termos de fidedignidade textual; e, para uma melhor apreciação, fizemos uma atualização ortográfica dos textos transcritos, de forma que, nas citações, nos limitaremos apenas a informar a página da qual foi extraído o texto citado.

Inicialmente, faremos uma breve exposição teórica sobre os mecanismos repetitivos para, no final, aplicarmos, a teoria exposta, no corpus.

É claro que não desejamos, aqui, esgotar o tema, por se tratar de um trabalho de fim de curso. Sendo assim, o que se almeja, a priori, é realizar apenas um modesto ensaio e, quem sabe, ensaiando os primeiros passos, projetar para o futuro uma investigação mais arrojada e abrangente acerca desse palpitante tema.

Como se constatará, o mérito desta monografia não está no tema inusitado mas principalmente em ousar oferecer uma modesta contribuição ao estudo da repetição em português.

Finalmente, esclarecemos que, para evitar sobrecarregar a página com notas de rodapé, optamos pela solução prática de indicar a fonte das citações no próprio corpo do ensaio, mediante o recurso da transcrição, entre parênteses, do sobrenome do autor em caixa alta (que remete para a bibliografia) seguido do ano de publicação da obra e da página onde se encontra o trecho transcrito, salvo exceções.

A repetição

Por repetição pode-se entender desde uma simples tautologia até uma reiteração fonológica. Daí a importância da definição desse termo como pré-requisito para os estudos que serão feitos posteriormente.

MURCUSCHI (1992: 6), tratando deste assunto, define a repetição dizendo ser ela a "produção de segmentos discursivos idênticos ou semelhantes duas ou mais vezes no âmbito do um mesmo evento comunicativo", não importando aí o tamanho do segmento repetido ou se o que se repete é o mesmo conteúdo, a mesma forma ou ambos.

Convém, todavia, observar para o fato de que a posição de MARCUSCHI (1992) sobre a noção de repetição aplica-se à conversação, embora não fique excluída sua validade, mutatis mutandis, pare a modalidade escrita da língua. Outrossim, delimitando aquilo que se pode considerar como sendo repetição, ele exclui do rol das repetições a reiteração de elementos funcionais isolados tais como pronomes, preposições, conjunções, artigos ou verbos de ligação, assim como as hesitações, os marcadores conversacionais freqüentes na conservação e alguns casos de paráfrase que seriam, mais propriamente, estratégias de reformulação textual, considerações estas a respeito das quais não partilhamos, porque, dessa forma, teríamos que excluir o polissíndeto da relação das variedades reiterativas, quando se sabe muito bem que a repetição da conjunção aditiva pode resultar em efeito retórico incontestável, como se pode constatar no seguinte exemplo: "E sobe e desce e torna a subir e torna a descer e se estrebucha no chão".

Em síntese, pelo que pudemos aprender a respeito, reconhecemos que a repetição nada mais é do que a recorrência intencional, com ou sem variações, de unidades lingüísticas formais, ou semânticas, num determinado enunciado.

Por conseguinte, podemos dizer, então, que a identidade da repetição está na natureza do elemento repetido e na intencionalidade de quem repete, assuntos estes que serão desenvolvidos nos próximos capítulos.

classificação da repetição

Sobre a classificação da repetição há divergências e convergências. Aqui, limitar-nos-emos em dar uma sucinta visão panorâmica da teoria exposta por alguns estudiosos do assunto, para concluir apresentando a nossa proposta.

Comecemos com RAMOS (1933), que não apresenta uma classificação formal por se limitar a mencionar apenas tipos de funções, já que opta por desenvolver uma tipologia repetitiva centrada na função comunicativa preocupada com a facilitação da compreensão do destinatário.

Bessa neto (1991) oferece uma classificação formal da repetição semelhante a de MARCUSCHI (1992), mas o seu trabalho se concentrou na repetição lexical, apenas.

MARCUSCHI (1992) opta por uma classificação que consideramos ser a melhor dentre as mencionadas neste estudo, apesar de ter restringido um critério que julgamos importante exatamente por ser o responsável por variados efeitos estilísticos, dentre outros, que é o da distribuição dos elementos repetidos no enunciado.

Distribucionalmente falando, ele se refere apenas à repetição por contigüidade, proximidade e distância, enquanto a Retórica se esmera numa classificação muito detalhada. Outrossim, o mesmo autor inclui no seu quadro classificatório a auto-repetição (em que a matriz e a repetição são produzidas pelo mesmo falante) e a heterorrepetição (em que a matriz e a repetição são produzidas por falantes diversos), detalhe este peculiar à conversação, ou melhor, à língua falada.

Seguindo de perto a tradição e as experiências recentes de uns e de outros, sem a pretensão de dar a última palavra a respeito deste assunto, apresentamos o seguinte quadro classificatório da repetição, que servirá de base para os estudos subseqüentes.

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