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ABORDAGENS GRAMATICAIS NOS LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA PORTUGUESA

Por:   •  15/3/2016  •  Artigo  •  2.286 Palavras (10 Páginas)  •  706 Visualizações

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LÍNGUA(GEM) E ENSINO DE SINTAXE: ABORDAGENS GRAMATICAIS NOS LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA PORTUGUESA[1]

Manuely Regina de Almeida Antoniassi[2] 

 Gabriella Duarte dos Reis[3]

Introdução

Os estudos gramaticais tradicionais trabalham a noção de língua enquanto sistema inflexível e invariável. Assim, a gramática normativa centra sua abordagem no funcionamento das regras e das normas de bem dizer/ bem escrever. Nessa direção, as escolas e os professores de Língua Portuguesa tomam o estudo gramatical como parâmetro para a explicação dos fenômenos linguísticos, desconsiderando, assim, as variedades da norma culta. Parece-nos, necessário, então, reformular práticas e reajustar condutas nos espaços das salas de aula de língua materna com o propósito de priorizar atividades cujo foco seja a utilização de distintas manifestações da linguagem, sob formas de gêneros textuais, sem, no entanto, preterir as regras referentes ao uso da norma padrão da língua.  

Dessa forma, o propósito do presente trabalho é o de compreender as diferentes abordagens no ensino de gramática e a aplicação do conteúdo referente aos aspectos sintáticos em duas atividades do livro de Língua Portuguesa “Ser Protagonista”, de 2013, do 3º ano do Ensino Médio. Com esse estudo, objetivamos identificar as abordagens de ensino de gramática ou Análise Linguística (AL) presentes nas atividades selecionadas para a análise.

Dessa maneira, consideraremos, a partir de Travaglia (1995) três abordagens de ensino: a) prescritiva; b) descritiva e c) produtiva. Ainda segundo esse teórico,  inscritas nestas abordagens de ensino, os exercícios sintáticos podem focalizar a gramática sob quatro perspectivas: 1º- gramática teórica; 2º- gramática normativa; 3º- gramática reflexiva e 4º- gramática de uso.

Nossa trabalho, divide-se, essencialmente, em três partes. Na primeira, discorreremos sobre as quatro abordagens gramaticais à luz dos estudos de Travaglia (1995) e Koch (2003). A segunda parte consiste na análise dos corpus coletado, constituído por atividades extraídas do livro citado anteriormente, no qual priorizaremos atividades do campo sintático da língua. Para finalizar nossa pesquisa, propusemos alguns modos de se trabalhar a linguagem por meio de análises linguísticas tal como as preconizam os PCN’s de Língua Portuguesa de Ensino Médio: trata-se de propostas que visam articular “reflexão” e “uso” de modo a otimizar o desempenho linguístico dos alunos, melhorando o desempenho quanto aos aspectos sistemáticos da língua.  

  1. ABORDAGENS NO ENSINO DE GRAMÁTICA

As aulas de língua portuguesa devem ser utilizadas para que os alunos possam exercitar e ampliar suas habilidades comunicativas de modo a fortalecer sua competência em produzir distintos gêneros textuais demandado por situações de interação sócio comunicativa.  Sobre esse entendimento os professores de língua materna devem privilegiar atividades de leitura e produção de textos, visto que estes modos de se trabalhar a língua constituem práticas que tomam a linguagem pelo seu funcionamento na realidade.

Atualmente, alguns professores têm abandonado o ensino sistemático de gramática; outros, ao contrário, tomam-na a partir de uma perspectiva “textual”, embora o texto, em alguns casos, ainda seja utilizado como pretexto para ensinar análises metalinguísticas. A propósito das diversas formas de se pensar as abordagens de ensino, temos, segundo Travaglia (1996), três perspectivas. A primeira, prescritiva, tem por objetivo conduzir o aluno a substituir as condutas e atividades linguísticas dos alunos, na troca, de práticas consideradas erradas por outras tidas como corretas. A segunda abordagem (descritiva) tem como propósito visibilizar tanto a estrutura quanto o funcionamento da língua portuguesa, sua forma e função. Ou seja, a descrição é uma abordagem de ensino em que o aluno e o professor observam juntos a língua funcionando, em seus mais diversos modos de textualização, em distintas esferas discursivas. A terceira abordagem de ensino é da ordem da produção, que busca desenvolver as habilidades linguísticas e ao mesmo tempo fortalecer os saberes do aluno sobre a língua.

A primeira abordagem está relacionada a gramática normativa, que prega a variedade culta da língua, conhecida como padrão, com a forma “correta” de se escrever ou falar. Sem dúvidas à escola cabe o papel de ensinar esse padrão, uma vez que é a instituição cujos espaços de saberes instituídos pela regularização dos modos de dizer/escrever. A escola é, então, lugar da legitimação de tais saberes e da legalização/normatização do funcionamento da língua. Entretanto, esta instituição não deve desconsiderar as outras variedades linguísticas, uma vez que fazem parte do cotidiano dos alunos, afetando-os sócio historicamente.

A segunda abordagem liga-se à gramática descritiva, que de acordo com Teixeira (2011, p.165) representa “[...] uma metalinguagem própria, compondo um conhecimento teórico sobre a língua”. Por fim, a terceira abordagem de ensino configura um meio mais eficiente de se trabalhar a língua, uma vez que não desconsidera o saber linguístico pré-existente dos alunos, rotulando-os de certo ou errado. Ao contrário, nessa abordagem, as habilidades linguísticas do aluno, tanto escrita quanto oral, são privilegiadas por atividades que visam desenvolver e fortalecer a competência comunicativa/discursiva do educando.

O professor tem a possiblidade de fazer uso dessas três modalidades de se trabalhar com a gramática, embora enfatizemos que a terceira concepção ainda apareça mais eficaz no trabalho com os alunos.

  1. A SINTAXE NO LIVRO DIDÁTICO: CONCEPÇÕES E ABORDAGENS

Como mencionado anteriormente, tomaremos, em análise, duas atividades relativas ao capítulo de sintaxe do livro que selecionamos para a escrita deste trabalho. Dessa maneira, o que nossas análises permitirão compreender são os modos pelos quais os autores do livro didático abordam e colocam em funcionamento a língua(gem) cujos modos de textualização são agenciados por determinadas noções de língua e de gramática. Assim, partimos do pressuposto de que concepções de língua e de gramática não se diferem de maneira estanque, tampouco se excluem, mas se complementam.

A primeira atividade analisada é constituída por quatro questões referentes a uma tira, localizada na página 199. Vemos, nesta atividade, que a função do aluno é a de ler a tira e a de identificar alguns aspectos relacionados às palavras que a compõem. Segue, abaixo, a tira sobre a qual são elaboradas as questões:

 [pic 3]

A primeira questão pede que o aluno responda: “o que a personagem principal esperava encontrar dentro da garrafa? Justifique”. Nesta atividade, o aluno é remetido ao nível do sentido, portanto, no âmbito da semântica do texto. Isto implica em considerar a interpretação do aluno-leitor, uma vez que este deve ser capaz de inferir o sentido, apontando uma resposta “correta” para a pergunta.  Assim, ao considerar a crise da água, se espera que o aluno possa induzir que a resposta correta seja qualquer outro líquido.                

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