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Animais de cura própria

Abstract: Animais de cura própria. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  25/3/2014  •  Abstract  •  1.351 Palavras (6 Páginas)  •  427 Visualizações

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Existem dois tipos de águia no Brasil: a do jogo do bicho e a águia-pescadora, pertencente à Família das Pandionidae, também conhecida como como águia-pesqueira, águia-do-mar, guincho ou sangual. Segundo o CEMAVE do IBAMA, a águia-pescadora (Pandion haliaetus) vem do hemisfério Norte, periodicamente, nos visitar.

Essa historinha edificante não diz qual das águias, ave de rapina da Ordem dos Falconiformes, teria o suposto comportamento descrito: a águia-pescadora, que nos visita de vez em quando, a Aquila chrysaetos, a Aquila heliacasua ou a sua famosa prima Haliaeetus leucocephalus o símbolo dos Estados Unidos e também conhecida como águia careca (bald eagle). (Veja Á águia careca americana, bald eagle - Haliaeetus leucocephalus.

Na verdade, nenhuma delas apresenta o comportamento descrito.

A mensagem com traços de auto-ajuda circula em mensagens, está presente em várias páginas da web e também possui versão em .pps.

Segundo essa lenda, ao completar quarenta anos de idade as garras das águias ficam flexíveis e não mais conseguem segurar as presas.

O bico alongado e pontiagudo se curva, apontando contra o peito.

As asas estão envelhecidas e pesadas em função da grossura das penas, e voar já é tão difícil!

Então, a águia só tem duas alternativas: morrer... ou ... enfrentar um dolorido processo de renovação que irá durar 150 dias.

As águias frágeis, desprovidas de coragem, sucumbem ao envelhecimento. As mais corajosas, valentes e audaciosas tomam uma decisão radical: se refugiam no alto de uma montanha e iniciam um processo de automutilação.

É verdade que algumas águias vivem cerca de quarenta anos, é verdade que depois de certa idade elas não mais conseguem segurar as presas nem voar com a mesma desenvoltura. No entanto, esse processo de automutilação para o prolongamento da vida não existe, jamais foi constatado pelos ornitólogos.

A automutilação em animais ocorre em casos de doença e em situações de estresse principalmente quando mantidos em cativeiro. Não há registros dessa ocorrência fantasiosa fruto da imaginação fértil de algum denodado criador de parábolas exemplares.

Ivany, uma de nossas colaboradoras, andou pesquisando o tema e diz:

[tudo] não passa de uma fantasia grotesca, pois a automutilação em animais só aparece como condição patológica, como situações de estresse, doenças de pele, etc. A auto destruição não é uma situação normal em homens ou em animais, e de jeito nenhum pode ser tomada como símbolo de renovação. Quem diz uma bobagem dessas não entende nada de natureza nem de símbolos...

Numa das versões que eu vi [...] foi acrescentado um detalhe: para explicar de que jeito a ave sobrevive nos 150 dias de retiro, explica-se, candidamente, que "as outras aves do bando a alimentam, nesse período".

Isso é impossível: a águia é um animal solitário, não vive em bandos.

...

É preciso lembrar que as escolas têm como meta usar a Internet na educação de crianças e adolescentes. Não deveríamos ensinar-lhes também a discernir entre verdade e mentira grosseira? Entre realidade e fantasia absurda?

Perfeito, Ivany.

Assim com as histórias de George Turklebaum e de Mel Gibson essa mensagem aparece em sítios religiosos como exemplo a ser seguido pelos humanos.

Pelos humanos? Sim. É o que sugerem a historinha e os sítios. (Um dos sítios diz: Seja uma nova criatura em Cristo e voe alto!)

Ainda que o fato descrito fosse verdadeiro, como é que um comportamento animal poderia servir como exemplo a ser seguido por seres humanos?

É uma parábola? O texto usa uma linguagem cifrada? Seja como for, fica a impressão de que o autor dessa pérola teria conhecimentos de ornitologia, o que não é verdade.

Existem muitos relatos de automutilação em seres humanos por razões de ordem religiosa. Através desses atos, pessoas esperam obter o perdão para os seus pecados e assegurar um lugar confortável no céu dos justos.

Além desse tipo de mutilação, existe, há milhares de anos, a automutilação ou a mutilação consentida em seres humanos. O uso de piercings, para não falar dos brincos, é coisa comum. E, por motivos religiosos, a circuncisão que não se pode dizer consentida devido à idade da vítima, geralmente recém-nascidos.

E mais.

Quase todas os dias, mulheres apresentam na televisão, com muito orgulho, ao vivo e em cores os generosos mililitros de silicone de suas exuberantes próteses. (Os homens não fazem o mesmo, talvez por não se orgulharem tanto assim ;)))

Seria a mesma coisa o que (supostamente) fazem as águias e o que os humanos fazem para realçar contornos da anatomia? É claro que não dá pra comparar.

A ornitóloga australiana Patricia Macwhirter busca informações sobre casos de automutilação em pássaros da família dos psitacídeos. Ela alerta para não se confundir automutilação com doenças como a que ocasiona o crescimento anormal de penas e bicos. (Veja mais em birding-aus Self-mutilation in wild birds.)

Conclusão: essa história não passa de uma lenda. Não há casos registrados de automutilação em aves com a finalidade de uma suposta "renovação".

E

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