Apostila de Português
Por: Elensoares40 • 1/5/2017 • Projeto de pesquisa • 21.364 Palavras (86 Páginas) • 249 Visualizações
LÍNGUA PORTUGUESA
PROFESSOR RAIMUNDO AMORIM
AULA 1/2: COMPREENSÃO e INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
A interpretação torna-se muito interessante quando começamos a ver que um texto contém certas informações nas entrelinhas. São informações implícitas, subentendidas ou pressupostas.
Um bom leitor é aquele capaz de ler tais entrelinhas, ir além do que está explicitamente exposto e perceber informações por trás do que foi escrito. Tais informações são de dois tipos:
I – PRESSUPOSTOS. Ideias contidas no texto não de forma escrita, mas como resultado lógico da combinação entre as informações escritas, e que podem ser comprovadas observando certas palavras e expressões do texto. Por exemplo, na frase: “O Deputado não faltou hoje!”, está pressuposto que o deputado referido costuma faltar, mas naquele dia não faltou. Por isso, é muito importante perceber pressupostos em um texto, a fim de realizar uma leitura eficiente.
Expressões que produzem pressupostos:
1) Certos verbos
Ex.: Querida, você ficou linda. Pressuposto: Antes ela não estava linda.
Ex.: Pafúncio começou a estudar. Pressuposto: Antes Pafúncio não estudava.
2) Certos advérbios
Ex.: A produção agrícola brasileira está totalmente nas mãos dos brasileiros. Pressuposto: Não existe no Brasil nenhum estrangeiro produtor agrícola.
3) Alguns numerais
Ex.: Breno Henrique foi meu primeiro filho. Pressuposto: Combinado com a forma verbal foi, o numeral primeiro pressupõe: a) que tenho outros filhos; b) que os outros filhos nasceram depois de Breno Henrique.
4) Orações adjetivas
Ex.: Os brasileiros, que não se importam com a coletividade, só se preocupam com o seu bem-estar e, por isso, jogam lixo na rua, fecham os cruzamentos etc. Pressuposto: Os brasileiros não se importam com a coletividade. (Oração adjetiva explicativa implica generalização: todos os brasileiros)
Ex.: Os brasileiros que não se importam com a coletividade só se preocupam com o seu bem-estar e, por isso, jogam lixo na rua, fecham os cruzamentos etc. Pressuposto: Alguns brasileiros não se importam com a coletividade e só esses é que fazem os atos de incivilidade citados. (Oração adjetiva restritiva implica parte do todo: alguns brasileiros)
5) Certas conjunções
Ex.: Pafúncio trabalha, mas aproveita a vida. Pressuposto: Quem trabalha não aproveita a vida.
6) Sentenças clivadas
Ex.: Não foi Pedro que faltou à aula. Pressuposto: Alguém faltou à aula.
7) Descrições definidas
Ex.: O filho de Dalva chegou. Pressuposto: Dalva possui um único filho do sexo masculino.
II – INFERÊNCIAS. Ideias não contidas no texto e que se formam a partir de conhecimentos prévios do leitor. Assim, por meio de um raciocínio empregando tanto elementos do texto quanto conhecimentos prévios, o leitor chega a alguma conclusão ou inferência. Por exemplo, no texto: “Hoje Pedrinho veio buscar o avô. O velhinho caminhava apoiando-se numa bengala.”, o que faz o leitor associar a expressão velhinho ao avô e não a Pedrinho? São nossos conhecimentos anteriores, pelos quais sabemos que um avô, além de ser pai do pai ou pai da mãe, costuma ser uma pessoa idosa. A inferência é tão importante, que sem ela a comunicação deixaria de ser eficiente, afinal todo falante e todo escritor esperam que o ouvinte ou o leitor seja capaz de inferir corretamente para compreender a mensagem do texto.
PROCESSOS COESIVOS
COESÃO é relação gramatical de retomada e antecipação de termos ao longo do texto. Depende de processos sintáticos: concordância, regência, coordenação, subordinação etc.
Exemplo:
(HFA, 2004) Texto: Dois terços da população – quatro bilhões de pessoas – vivem submersos.
Questão: Alteram-se as relações semânticas do texto empregando-se “submersos” em sua flexão de feminino, mas não ficam prejudicadas nem a coerência nem a correção gramatical do texto.
Comentário:
COERÊNCIA é relação lógica entre os sentidos do texto. A coerência leva em conta o sentido, porém ela não é o sentido, ela não se reduz ao sentido. A coerência se manifesta na lógica do texto, na articulação entre os sentidos das partes do texto: entre palavras, entre orações, entre frases, entre parágrafos. Algumas vezes a quebra da lógica textual decorre da desobediência a alguma norma gramatical. Essa quebra pode resultar também da alteração de estruturas sintáticas que, ao fim, apresentam diferentes sentidos no texto em análise.
Exemplo 1:
Texto: O candidato estudou muito e foi aprovado entre os primeiros.
Nova redação: O candidato estudou muito, mas foi aprovado entre os primeiros.
Comentário: A nova redação prejudica a coerência textual, pois o emprego da conjunção mas não estabelece a relação lógica entre as orações do período.
Exemplo 2:
Texto: A Lei 8666, que regula licitações, data de 1993. Nova redação: A Lei 8666 que regula licitações data de 1993.
Comentário: A retirada das vírgulas causa prejuízo para a coerência. Isso é o que alguns professores e estudiosos chamam de erro semântico. ATENÇÃO: Trata-se aqui de aplicar REGRA da gramática que estabelece que a oração adjetiva não isolada por vírgulas é restritiva. Ou seja, a nova redação indica restrição entre várias leis de mesmo número (8666): somente uma das várias Leis 8666 regularia licitações. Ora, notamos claramente que se trata de um absurdo lógico; portanto, trata-se de incoerência.
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