Ava Literatura Infantil
Ensaios: Ava Literatura Infantil. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: liliane.clara.pe • 9/11/2014 • 9.492 Palavras (38 Páginas) • 508 Visualizações
Aula-tema 01: A literatura infantil: abertura para a formação de uma nova mentalidade
Pensar na realidade é pensar em transformações sociais. Atualmente, temos observado os avanços com relação à Tecnologia da Informação e Comunicação, e o quanto a era da informática se faz presente em nosso dia a dia. Em meio a tais transformações, emerge uma reflexão sobre o papel da educação e do ensino, pois é nessa área que se baseiam ou surgem novos princípios ordenadores da sociedade, em decorrência da possibilidade que ambos têm de formar uma nova mentalidade ou a consciência de mundo.
É nesse mesmo sentido que a literatura infantil se destaca, pois, de acordo com Coelho (2000, p. 15),
"a verdadeira evolução de um povo se faz ao nível da mente, ao nível da consciência de mundo que cada um vai assimilando desde a infância. Ou ainda não descobriram que o caminho essencial para se chegar a esse nível é a palavra. Ou melhor, é a literatura – verdadeiro microcosmo da vida real, transfigurada em arte."
Diante dessa perspectiva, cabe a seguinte indagação: qual é a finalidade da literatura infantil? Entre suas muitas contribuições, algumas merecem destaque, como a de servir como agente de formação, tanto de forma espontânea como direcionada pela escola, bem como a importância da literatura para a formação da consciência de mundo por crianças e jovens.
Sabe-se que a escola é considerada um espaço privilegiado para impulsionar mudanças significativas na sociedade, pela responsabilidade que lhe é atribuída para a formação do indivíduo. Da mesma forma, os estudos literários impulsionam e estimulam o exercício da mente, a possibilidade da reflexão e percepção entre o mundo real e o imaginado, a elaboração da consciência de si e do outro, a criticidade em relação à leitura do mundo, a língua como forma de expressão verbal significativa e consciente, evidenciada por Coelho (2000, p.16) como "condição sine qua non para a plena realidade do ser".
Partindo desses princípios, considera-se que a literatura infantil é um agente ideal para a formação de uma nova mentalidade. Assim sendo, a escola deve proporcionar ao ser em formação o autoconhecimento e o acesso ao mundo da cultura.
Considerando a articulação entre a escola e os estudos literários, faz-se também necessária a reflexão sobre alguns pressupostos ou princípios educacionais para se garantir ao educando a assimilação de informações e conhecimentos, bem como estimular ou liberar potencialidades de cada ser, por meio de um projeto de ensino e estudo da literatura infantil que aborde concepções, valores e definições importantes para o trabalho do professor (como, por exemplo, as concepções em que se consideram a criança como um ser educável, ou seja, um aprendiz de cultura, e a literatura como um fenômeno de linguagem decorrente da experiência existencial, social e cultural do meio em que vivemos).
A questão colocada aqui se refere à responsabilidade do professor, considerado como um agente formador, assim como em qualquer campo do conhecimento, de promover sua autoformação em relação à literatura infantil, assimilando e conhecendo as transformações atuais, reorganizando seu próprio conhecimento de mundo para direcionar seu trabalho de forma a contemplar a possibilidade para a formação da consciência de mundo pelas crianças e jovens.
Nessa discussão, é importante evidenciar a necessidade de uma postura crítica dos professores ao trabalhar e selecionar textos literários consagrados ou os que emergem da literatura atual, haja vista a presença de valores que dizem respeito a nossa organização social em tais produções. Esses valores são classificados entre o Tradicional, ou seja, passado, e o Novo, isto é, o presente. Como exemplo da dualidade existente nas produções literárias para as crianças, podemos destacar o confronto entre o racismo (contemplado nos Valores Tradicionais), em que há a separação entre brancos e negros, o que reflete uma situação social concreta, e o antirracismo (ressaltado pelos Valores Novos) em relação às justiças humanas, sociais e à igualdade das raças.
A análise dos diferentes valores nas produções literárias possibilita a colocação de outra questão: qual seria a natureza da literatura infantil? Coelho (2000, p. 27) afirma que:
"Literatura é uma linguagem específica que, como toda linguagem, expressa uma determinada experiência humana, e dificilmente poderá ser definida com exatidão. Cada época compreendeu e produziu literatura a seu modo. Conhecer esse 'modo' é, sem dúvida, conhecer a singularidade de cada momento da longa marcha da humanidade em sua constante evolução".
Compreende-se que a literatura representa conhecimentos que são passados e registrados de geração para geração e evidenciam a forma de pensar ou conceber o mundo de cada época, ou seja, a realidade social. Por essa razão, é considerada como sendo uma forma de arte literária.
Assim, qual seria o papel da literatura infantil neste contexto? Da mesma forma que a produção literária destinada a adultos deseja atuar sobre as mentes, no caso particular da literatura infantil a criança é considerada como leitora e receptora das produções literárias. As histórias para crianças foram, a princípio, baseadas na concepção da criança como um "adulto em miniatura" e tinham por finalidade aproximá-la de um mundo repleto de atitudes e valores considerados importantes para a vida adulta. Dessa forma, a literatura, por meio da adaptação dos clássicos e contos populares, com conteúdos voltados para o universo adulto, revelou uma tentativa de preparar a criança para enfrentar a realidade e adentrar na vida adulta (ou ainda atrair o pequeno leitor e ouvinte para participar de experiências com relação à realidade e ao mundo imaginado).
Os estudos da Psicologia Experimental contribuíram para superar tal concepção, afirmando que a criança é um ser diferente do adulto, com características que lhe são próprias e, portanto, se desenvolve em diferentes estágios, da infância à adolescência. Essas afirmações confirmaram também a necessidade de se considerar a relação entre a criança, o livro, o ato de ler e a adequação das produções literárias, devido às diferentes fases também do leitor, definindo-se assim categorias de leitor.
As inclusões em determinada categoria de leitor são sempre aproximadas, pois não dependem exclusivamente da idade do leitor, mas pressupõem a interrelação entre a idade cronológica, o nível de amadurecimento biológico, cognitivo e afetivo e o domínio do mecanismo da leitura. Portanto, servem como princípios
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