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Carta Scarlet

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Por:   •  23/3/2014  •  Seminário  •  511 Palavras (3 Páginas)  •  247 Visualizações

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Passado o estranhamento inicial de uma obra alemã com encenação na América, e ainda interpretada em um forte idioma, se nota que esse terceiro longa-metragem do diretor Wim Wenders, A Letra Escarlate, ainda tendo certas fragilidades, denota um realizador vigoroso. Buscando sempre evidenciar o caráter mais artístico de sua obra, não dá para dizer que Wenders traz uma nova roupagem para a novela de Nathaniel Hawthorne, imortalizada no clássico mudo de 1926, mas revela um eficiente e hábil contador de histórias.

Com uma trama enxuta, essa versão de A Letra Escarlate remonta com certa rigidez os acontecimentos delineados no filme de 1926. Uma mulher, Hester Prynne (a belíssima Senta Berger), é condenada a viver com sua filha em uma ilha separada da sociedade religiosa da cidade de Salém. O motivo: seria ela uma adultera, traído seu marido falecido e concebido uma vida fora dos parâmetros regidos pela Igreja. Não somente sendo relegada a solidão e a ausência de educação à pequena Pearl (Yella Rottländer), Hester para sempre deve ostentar uma letra "A" em seu peito, demarcando assim seu "crime".

Incessantemente impelida pelas autoridades a revelar a identidade de sua contraparte adúltera, a vida de Hester Prynne começa a tomar novo rumo com a chegada do médico Roger Chillingworth (Hans Christian Blech). Sujeito austero, misterioso, mas de caráter forte, além de demonstrar curioso interesse pessoal naquela mulher oprimida, passa a manipular com efetividade os soberanos locais, tendo particular interesse no pároco, o jovem e perturbado Reverendo Dimmesdale (Lou Castel). Nesse ambiente de meias-verdades, hipocrisia e repressão se situa A Letra Escarlate.

Com especial cuidado com a intensa e onipresente trilha sonora, Wim Wenders se alicerça na música para elucidar os principais sentimentos e sensações de A Letra Escarlate. Entretanto, a constância firme da trilha faz com que o filme ganhe contornos anti-naturais. Antes mesmo de cada cena, a música antecipa os fatos, colocando até as interpretações em um segundo plano. Em um comparativo com trabalhos posteriores, vamos perceber que a sonoridade é algo importante nos filmes de Wim Wenders. Mas creio que aqui seja o momento em que ela foi menos orgânica na montagem das imagens, diria invasiva, até.

Deixando de lado as considerações técnicas, essa versão de A Letra Escarlate continua sendo enérgica ao discutir a dissimulação da Igreja, aqui autoridade máxima de Salém, e a opressão da mulher. Toda a culpa recaí sobre Hester Prynne, enquanto a procura por sua contraparte masculina é bem parca. Um outro personagem feminino, Sarah (Laura Currie), é acusada de ser uma bruxa por não compactuar com os preceitos impostos. Os religiosos têm o domínio da cidade a partir do medo que infringem as pessoas. Não à toa a praça central é repleta de instrumentos de tortura medievais, prontos a serem utilizados.

À partir da contundente história de A Letra Escarlate, Wim Wenders demonstra que a força de seu cinema é a busca incessante pela afirmação do artístico. Mesmo com um trama condensada e aparatos estilísticos em vias de refinamento, em nenhum momento se discute a condição de A Letra Escarlate: uma obra de arte do início ao fim.

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