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Ciencias Contabeis

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Por:   •  4/10/2013  •  2.813 Palavras (12 Páginas)  •  339 Visualizações

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Ao iniciar sua palestra, a professora Regina Abreu explicou que, no final do século XVIII, o conceito de patrimônio passou a ser visto como um bem nacional, articulado no sentido de proporcionar ofortalecimento do Estado moderno. Contudo, naquele momento, nem tudo era considerado patrimônio, mas apenas o que era estimado como belo ou como parte da arte e que, principalmente, representasse a ideia nacionalista. Os museus históricos e pedagógicos foram constituídos nesse momento. É interessante observar que as coleções salvaguardadas por estas instituições representam uma forma positivade nacionalismo e por esse fato ficam de fora os possíveis conflitos existentes no interior dos grupos sociais, ou seja, a ideia de preservação do Patrimônio Histórico era de fundamental importância para oestabelecimento do sentimento nacional. No entanto, o modelo positivista de interpretar a história ficou caracterizado pela forma romântica a favor do Estado, com seus heróis, batalhas e grupos sociais hegemônicos. Sendo assim, os bens patrimonializados refletiam uma clara exclusão de parte dos grupos sociais - os negros, índios e pobres de uma forma geral. Segundo Pedro Funari, nesse momentohistórico “o sistema educacional e seus auxiliares, bem como os departamentos pedagógicos em museus, foram definidos, tradicionalmente, como importantes ferramentas para a reprodução das relações sociais, transmitindo um saber verticalizado, reforçando ideologicamente estruturas hierárquicas e reproduzindo desigualdades sociais e culturais (1993, p.51)”.

Em outras palavras, patrimonializava-se a história dos vencedores. Caso os demais grupos sociais fossem abordados, assumiam uma caracterização secundária, apenas como um pano de fundo da história da pujança econômica e social de uma parte da sociedade. Como exemplo, podemos citar a patrimonialização da história da expansão cafeeira. Quantas vezes ao visitar os museus históricos e pedagógicos não observamos a vestimenta da época dos senhores do café, o maquinário, os costumes, mas não encontramos presente nenhum retrato do conflito entre escravos e proprietários da fazenda de café, ou mesmo dos trabalhadores imigrantes? O que podemos observar é que esses espaços propunham uma visão positiva da expansão cafeeira, mas deixava de lado os outros atores sociais que estiveram presentes nesse processo. Como bem define Funari (2001), no Brasil houve uma tendência a não patrimonializar o legado africano e indígena, tampouco o dos subalternos.

Nesse sentido, o contexto apresentado nas conferências propostas pelo I Encontro Paulista questões indígenas e museus e o III seminário Museus, Identidades e Patrimônio Cultural foi muito importante para compreendermos a ampliação do debate e as alterações conceituais que foram ocorrendo no que compete ao patrimônio e à visão da nova museologia.

Feita a reflexão preliminar do contexto histórico, passamos às contribuições da mesa redonda intitulada Patrimônio: ampliação do conceito e processos de patrimonialização. Essa mesa proporcionou um entendimento da construção teórica do conceito de patrimônio e, ao mesmo tempo, a ampliação do debate acerca do processo de patrimonialização. Foi composta pela professora doutora Regina Abreu, por representantes indígenas Kaingang, Krenak e Terena, tendo a mediação feita pela professora doutora Maria Cristina Bruno.

Regina Abreu comentou sobre a questão patrimonial e o papel que vem sendo desenvolvido pelos diversos agentes sociais no que compete o reconhecimento do patrimônio e o que deve ser patrimonializado. Para a pesquisadora, o patrimônio tem de ser observado como uma questão rica em complexidade e de múltiplas faces. Nesse sentido, a sua explanação trouxe grandes contribuições para a compreensãonão só do quadro conceitual acerca do que é patrimônio, mas também metodologia para definir o conceito e também o que deve ser patrimonializado, ultrapassando a problemática dos bens tangíveis perpassando pelos intangíveis.

Segundo Bruno, é possível observar que, na atualidade, vêm ocorrendo transformações significativas na sociedade sobre o entendimento do que é patrimônio cultural. Essas mudanças têm possibilitado uma ampliação conceitual e aprofundamento de conteúdos, pois as transformações em curso estão associadas à mudança na vertente da pesquisa das instituições museológicas e isso ocorre graças aoempoderamento por parte dos agentes sociais e no maior uso e qualificação das referencias culturais.

Para Abreu, está se construindo uma nova forma de compreensão a respeito do patrimônio, explicitando a presença de diversos agentes, notadamente novos sujeitos coletivos como os povos indígenas, que passaram a interagir com as políticas públicas e as instituições governamentais.

No quadro geral de transformações, a Unesco terá um papel importante nesse processo de patrimonialização dos bens culturais, pois ela surge após a 2ª guerra Mundial e celebra a defesa da riqueza humana resultante da diversidade cultural.

O contexto da guerra, segundo Boaventura de Souza Santos (2002), que por sua vez cita Walter Benjamin, infringiu sobre a constituição de uma concepção de conhecimento, como é possível observar no trechoabaixo:

[...] a primeira guerra mundial tinha privado o mundo das relações sociais através das quais as gerações anteriores transmitiam um mundo novo, dominado pelo desenvolvimento da tecnologia, um mundo em que mesmo a educação e o conhecimento tinham deixado de se traduzir em experiência. Tinha, assim, emergido uma nova pobreza, um déficit de experiência no meio de uma transformação desenfreada, uma nova forma de barbárie (1972, p.215). “A conclusão do ensaio inicia-se assim, com as seguintes palavras: Tivemos vezes de depositar na casa de penhores por um centésimo do valor, para receber as moedas sem préstimos da atualidade” (BENJAMIN, 1972, p.219).

As colocações de Benjamin são interessantes na medida em que esse contexto proporcionará que órgãos como a Unesco passem a ter como prerrogativa o rompimento com os reflexos da guerra e em proporcionar uma amplitude do entendimento da necessidade de se preservar o patrimônio como o reflexo daquilo que nos une, ou seja, da cultura enquanto bem que é diverso, mas ao mesmo tempouniversal.

Mas, de fato, somente no ano de 1989 é que esse quadro se alterou e se reconheceu que há diferenças importantes que torna o mundo menos homogêneo, passando-se a olhar para as outras culturas. Essa leitura foi proporcionada pelo reconhecimento de que a uniformidade pode ser perigosa. Foi preciso exacerbar as diferenças, respeitando a diversidade para evitar que se criasse uma supremacia de uma cultura sobre outra.

Diversos grupos passaram a atuar como agentes sociais

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