Ciências Sociais E Fisioterapia: Uma Aproximação Possível
Seminário: Ciências Sociais E Fisioterapia: Uma Aproximação Possível. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: daianaazeredo • 31/3/2014 • Seminário • 3.720 Palavras (15 Páginas) • 241 Visualizações
conhecimento à realidade da profissão na sociedade atual.
Historicamente, a formação escolar ensina a separar os objetos de seu contexto, as disciplinas umas das outras, dificultando a tentativa de relacioná-las. Essa separação e a fragmentação das disciplinas são incapazes de captar "o que está tecido junto", isto é, o complexo, segundo o sentido original do termo (Almeida & Carvalho, 2002). Atualmente, percebe-se que as discussões nas escolas de formação biomédica têm sido favoráveis à religação dos saberes e a uma humanização dos atendimentos. A carência de um tratamento mais humanitário e social das pessoas que necessitam do profissional de saúde tem levado a repensar o ensino médico e de todas as outras áreas da saúde, também a fisioterapia, buscando a inclusão de novos olhares.
De acordo com Massey (2001), graduados em cursos da área de saúde devem ser capazes de trabalhar em equipe, com qualidade e compreensão. Um currículo transdisciplinar deve conter disciplinas e experiências práticas que busquem o conhecimento, habilidades e valores necessários ao trabalho em equipe de saúde. O currículo tradicional direciona seu foco para disciplinas específicas, sem a flexibilidade necessária a uma formação profissional direcionada à atenção comunitária. Esse tipo de currículo apresenta-se como um "currículo de doenças", segundo Finocchio & Johnson (1995), que dificulta o crescimento e o desenvolvimento de uma formação transdisciplinar para o futuro fisioterapeuta.
A esse respeito, Capra (1992) afirma que a atenção centrada na doença conduz a uma noção de saúde relativa apenas aos aspectos orgânicos em suas especificidades, impedindo uma visão holística e uma intervenção que considere a totalidade do ser humano, em sua realidade social e considerando suas condições emocionais, sociais e culturais, que são parte da construção da doença. A importância dada à revolução científica e sua influência na área da saúde têm favorecido uma atenção centrada na doença e não no indivíduo, valorizando os aspectos curativos e deixando de lado os aspectos preventivos.
Infelizmente, a estrutura, a metodologia de ensino e a organização curricular ainda não estão baseadas nas demandas sociais e nas políticas públicas de saúde. A partir das análises situacionais quanto à implementação das diretrizes curriculares, da avaliação dos cursos de graduação e da capacitação docente, deliberou-se como referência de qualidade na graduação em fisioterapia no Brasil, a partir da Carta de Vitória (2004), que os currículos devem passar por uma adequação às necessidades regionais, e devem contemplar experiências práticas desde os períodos iniciais do curso, de forma a preparar o aluno para o estágio curricular, oportunizando a atuação fisioterapêutica em atenção primária, secundária e terciária, de forma equilibrada. Devem, também, estimular a inserção de docentes fisioterapeutas nas disciplinas ministrando conteúdos essenciais para o Curso de Graduação em Fisioterapia (Ciências Biológicas e da Saúde, Ciências Sociais e Humanas, Conhecimentos Biotecnológicos e Conhecimentos Fisioterapêuticos).
O ensino das ciências sociais nos cursos da área de saúde tem sido objeto de reflexões e discussões, seja nos âmbitos institucionais mais restritos, seja também nos fóruns de especialistas. Para Canesqui (2000), esse ensino traz aportes importantes à compreensão do significado dos problemas coletivos e individuais da saúde de grupos e segmentos sociais. As várias dimensões do processo do adoecimento e a própria condição do doente, no aspecto não apenas biológico, mas psicossocial, escapam a uma simples análise biomédica, dada a sua complexidade, tornando-se incapazes de se esgotarem nos olhares disciplinares.
Buscando uma nova abordagem dentro do curso de fisioterapia através da disciplina de Sociologia da Saúde, este trabalho pretendeu estimular os alunos a ampliarem a compreensão do processo saúde-doença durante as aulas dessa disciplina, das relações causa-e-efeito da vida em sociedade e de suas implicações na construção social, analisando, também, o papel da fisioterapia nesse processo. O discurso de uma nova abordagem do processo saúde-doença na formação do futuro profissional fisioterapeuta não é exatamente o que se pode chamar de novo, mas pode se chamar de 'inovadora' a idéia de se colocar em prática o ensino problematizado (Probleming Learning), baseado nos trabalhos de Richardson (1995) e Gross (1993) retomados por Ricieri (2004), numa disciplina do ciclo básico da formação acadêmica (sociologia) que irá favorecer as discussões das temáticas já citadas. Esta experiência visou proporcionar um conhecimento das interfaces sociais, buscando a compreensão da saúde e da doença a partir de uma concepção transdisciplinar, por meio da religação dos saberes. Estas reflexões, provavelmente, poderão desencadear uma maior humanização dos atendimentos prestados, uma melhor qualidade de vida para os pacientes, proporcionando assim uma atuação plena desses profissionais em relação à saúde.
O Problem-Base Learning (PBL), de origem inglesa, fundamentado na integração horizontal entre as ciências clínicas e básicas, trabalha a interdisciplinaridade de conteúdos dentro de um mesmo período ou série, e a transdisciplinaridade, através da integração de conteúdos de um período ou série a outro, desenvolvendo no aluno a capacidade de transmigrar o conhecimento adquirido para além dos limites da disciplina, bem como ultrapassar a forma como tais conteúdos foram organizados didaticamente para serem transmitidos. Assim, essa modalidade de ensino não é exatamente centrada no aluno, embora já comece a apresentar os primeiros movimentos para se libertar do modelo tradicionalista centrado no professor (Ricieri, 2004).
O fato de as ciências sociais se inserirem geralmente ao lado das disciplinas básicas conduz algumas experiências brasileiras a organizarem seus conteúdos com base na seleção de assuntos ou de grupos de patologias, em torno dos quais são discutidas as várias dimensões do processo do adoecimento. Isto é, problematizam-se as concepções da doença dadas pelo modelo biomédico e a própria condição do doente, recorrendo aos estudos sociológicos, históricos e antropológicos. Essa experiência requer grande flexibilidade curricular e dinâmica no ensino, mas quando acontece, é capaz de permitir que as ciências sociais ofereçam reflexões que lhes são próprias sobre certos objetos que escapam às análises das ciências biomédicas.
Na prática, os currículos do Curso de Fisioterapia estão distantes de uma preocupação com essas questões, pois ainda não
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