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Como Se Escreve Um Ensaio De Filosofia

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Por:   •  15/3/2014  •  6.637 Palavras (27 Páginas)  •  489 Visualizações

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James Pryor

Universidade de Princeton

Escrever, em filosofia, é diferente do que se pede ao estudante para redigir noutros cursos. A maior parte das estratégias descritas abaixo será útil também quando o estudante precisar de escrever ensaios noutras disciplinas, mas não se deve presumir automaticamente que o seja, nem que as orientações dadas por outros professores serão necessariamente úteis quando se escreve um ensaio de filosofia; algumas dessas orientações são rotineiramente desconsideradas na boa prosa filosófica (por exemplo, veja-se as regras de gramática, abaixo).

O QUE SE FAZ NUM ENSAIO DE FILOSOFIA?

1. Um ensaio de filosofia consiste numa defesa argumentada de uma afirmação.

Os ensaios dos estudantes devem oferecer um argumento. Não podem consistir na mera exposição das suas opiniões, nem na mera apresentação das opiniões dos filósofos discutidos. É preciso que o estudante defenda as afirmações que faz e que ofereça razões para se pensar que são verdadeiras.

Assim, o estudante não pode simplesmente dizer:

A minha opinião é que P.

Deve antes dizer algo como:

A minha opinião é que P. Penso isto porque...

ou:

Penso que as considerações seguintes... oferecem um argumento convincente em defesa de P.

Da mesma forma, o estudante não deve dizer simplesmente:

Descartes afirma que Q.

Ao invés, terá de dizer algo como o seguinte:

Descartes afirma que Q; contudo, a seguinte experiência mental mostrará que não é verdade que Q...

Ou:

Descartes afirma que Q. Julgo que esta afirmação é plausível, pelas seguintes razões...

Um ensaio de filosofia pode ter vários objectivos. Geralmente começamos por apresentar algumas teses ou argumentos para consideração do leitor, passando de seguida a fazer uma ou duas das coisas seguintes:

Criticar o argumento, ou demonstrar que certos argumentos em defesa da tese não são bons.

Defender o argumento ou tese contra uma crítica.

Oferecer razões para se acreditar na tese.

Oferecer contra-exemplos à tese.

Contrapor os pontos fortes e fracos de duas perspectivas opostas sobre a tese.

Dar exemplos que ajudem a explicar a tese, ou a torná-la mais plausível.

Argumentar que certos filósofos estão comprometidos com a tese por causa dos seus pontos de vista, apesar de não a terem explicitamente afirmado ou endossado.

Discutir que consequências a tese teria, se fosse verdadeira.

Rever a tese à luz de uma objecção qualquer.

É necessário apresentar explicitamente as razões que sustentam as nossas afirmações, independentemente de quais destes objectivos tenhamos em mente. Os estudantes geralmente sentem que não há necessidade de muita argumentação quando uma dada afirmação é para eles evidente; mas é muito fácil sobrestimar a força da nossa própria posição. Afinal de contas, já a aceitamos. O estudante deve presumir que o leitor ainda não aceita sua posição e tratar o ensaio como uma tentativa de persuadir o leitor. Por isso, não se deve começar um ensaio com pressupostos que quem não aceita a nossa posição vai com certeza rejeitar. Se queremos ter alguma hipótese de persuadir as pessoas, temos de partir de afirmações comuns, com as quais todos concordam.

2. Um bom ensaio de filosofia é modesto e defende uma pequena ideia, mas apresenta-a com clareza e objectividade, e oferece boas razões em sua defesa.

Muitas vezes, as pessoas têm demasiados objectivos num ensaio de filosofia. O resultado disto é, normalmente, um ensaio difícil de ler e repleto de afirmações pobremente explicadas e inadequadamente defendidas. Portanto, devemos evitar ser demasiado ambiciosos. Não devemos tentar chegar a conclusões extraordinárias num ensaio de 5 ou 6 páginas. Feita adequadamente, a filosofia avança em pequenos passos.

3. Originalidade

O objectivo dos ensaios escolares é demonstrar que o estudante entende o problema e é capaz de pensar criticamente sobre ele. Para que isto aconteça, o ensaio do estudante tem de revelar algum pensamento independente.

Isto não significa que o estudante tem de apresentar a sua própria teoria, ou que tenha de dar uma contribuição completamente original para o pensamento humano. Haverá muito tempo para isso no futuro. Um ensaio bem escrito é claro e directo (veja abaixo), rigoroso ao atribuir opiniões a outros filósofos (veja abaixo), e contém respostas ponderadas e críticas aos textos que lemos. Não é necessário inovar sempre.

Mas o estudante deve tentar trabalhar com os seus próprios argumentos, ou a sua maneira de elaborar, criticar ou defender algum argumento que viu nas aulas. Não basta simplesmente resumir o que os outros disseram.

TRÊS ESTÁGIOS DE REDAÇÃO

1. Primeiros Estágios

Os primeiros estágios de redacção de um ensaio de filosofia incluem tudo o que o estudante faz antes de se sentar para escrever o seu primeiro esboço. Estes primeiros estágios envolvem a escrita, mas o estudante ainda não vai escrever um ensaio completo. Pelo contrário, o estudante deve fazer anotações de leituras, rascunhos das suas ideias, tentativas para explicar o argumento principal que deseja avançar, e deve criar um esboço.

Discuta as questões com os outros

Como foi dito, espera-se que os ensaios dos estudantes demonstrem que estes entenderam o assunto que discutiram nas aulas e, mais ainda, que podem pensar criticamente sobre esse assunto. Uma das melhores maneiras de verificar a nossa compreensão da matéria das aulas é tentar explicá-la a quem não está ainda familiarizado com ela. Eu descobri repetidamente, enquanto ensinava filosofia, que não conseguia

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