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Descrição do Memorial Tanya Mara Chinelli

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Por:   •  24/9/2014  •  Relatório de pesquisa  •  2.940 Palavras (12 Páginas)  •  302 Visualizações

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Memorial Descritivo Tania Mara Cinelli

Ninguém educa ninguém.

Ninguém educa a si mesmo.

As pessoas se educam entre si,

Mediatizadas pelo mundo

(Paulo Freire).

No decorrer da minha história de vida, que iniciou no município de David Canabarro, no estado do Rio Grande do Sul, onde nasci, filha de camponeses, foram muitas as experiências vividas. No ano seguinte, com uma filha de apenas um ano de idade, meus pais foram trabalhar de empregados em Bento Gonçalves, RS, em busca de melhores condições de vida, pois possuíam pouca terra e não era suficiente para a construção e o sustento da família. No entanto, a situação de empregado e empregada, além de ter muito trabalho, não havia a valorização do mesmo, tendo um baixo salário.

Devido ao não alcance do objetivo de encontrar melhores condições de trabalho, depois de seis meses voltaram para o campo, mas o sonho de melhorar de vida continuava, então, a mudança se deu de outra forma. Dessa vez, venderam a propriedade que possuíam, viemos para Santa Catarina e compramos uma terra na comunidade de Mundo Novo, em Campo Erê, atual município de Santa Terezinha do Progresso, onde vivemos até hoje.

Minha infância foi marcada pelo trabalho no campo, estudei na escola da minha comunidade, denominada “Escola Isolada Barra do Roncador” onde fiz as séries iniciais do Ensino Fundamental, caminhava quase quatro quilômetros para chegar à escola. Essa escola ainda existe como “Núcleo Escolar Mundo Novo”. Nessa escola iniciei minha experiência como professora e trabalho nela até hoje.

Já as séries finais do Ensino Fundamental e meu Ensino Médio, realizei na Escola de Educação Básica Santa Teresinha, no município de Santa Terezinha do Progresso, Santa Catarina. Para cursar o Ensino Médio, necessitei sair de casa, pois na época não havia transporte para o mesmo, o que demonstra a falta de políticas públicas para os povos do campo.

Assim que acabei o Ensino Médio, 1996 fui para Porto Alegre, Rio Grande do Sul, trabalhar de empregada doméstica, pois a ideia de sair da roça para “ter um futuro melhor” era forte. Como tinha o sonho em continuar meus estudos e estava numa região onde tinham universidades, tentei vestibular, mas não consegui aprovação. Morei lá por dois anos, depois voltei para casa de meus pais onde trabalhei um ano na agricultura junto com minha família, neste ano comecei a participar do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC).

Com a militância em um Movimento social popular, aprendi muito sobre a história da sociedade, me dei conta da opressão vivida pelas mulheres nos diferentes períodos históricos e a necessidade da libertação e da ocupação dos diferentes espaços de poder e decisão. Junto a isso senti a necessidade de estudar, como sempre era reforçado nos encontros de formação, baseado no exemplo de José Martí: “Quem luta sente a necessidade de estudar”. No entanto, para as camponesas nem sempre é garantido o direito de estudar.

A situação na agricultura familiar não estava fácil, devido a Revolução verde, por isso a necessidade de adquirir renda me levou a fazer um concurso na prefeitura, onde passei a trabalhar como Auxiliar de Serviços Gerais, na escola da comunidade, a mesma em que estudei e hoje desenvolvo minha prática docente. Quando funcionária caminhava quatro quilômetros todos os dias para ir trabalhar, foi com essa atividade que comecei a me apaixonar pela educação.

Foi em uma nova modalidade de educação à distância onde fui convidada por uma amiga a me inscrever, então comecei meu tão sonhado curso superior pela Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC. Para estudar necessitava pegar o ônibus na minha comunidade ir para aula, posar na casa de amigos (as), no outro dia acordar às cinco horas pegar o ônibus para voltar, como o ônibus fazia outro trajeto dentro do município era necessário caminhar oito quilômetros até chegar ao trabalho, trabalhava o dia todo ainda voltava para casa ajudar minha família nos trabalhos domésticos.

Mas estudando percebi que era isso mesmo que eu queria e me esforçava ao máximo para realizar todas as tarefas exigidas pelo curso, um ano depois de estar cursando Pedagogia, realizei um teste seletivo onde comecei a dar aula. Me desafiei a cada dia, mas foi uma experiência muito boa, pois o que aprendia na faculdade, colocava em prática na sala de aula.

Um dos autores que mais me chamava atenção para minha prática pedagógica era Paulo Freire que em seus textos enfatiza que não há alfabetização sem a teoria e a prática, andarem juntas. Também por participar de um movimento social que tinha muito presente a teoria desse autor, percebia que cada dia precisa me desafiar mais em relação a minha prática pedagógica.

Depois que comecei dar aula não parei mais, mesmo não tendo acabado o curso superior, como no meu município faltava professor (a) formado (a) na época, conseguia aula, e assim foi até acabar a faculdade, o desafio era grande. No ano que estava acabando meu curso de Pedagogia, com estágios, TCC, então resolvi iniciar minha Pós Graduação aos sábados, onde tive que me esforçar muito mais, sem contar que neste ano caminhava dez quilômetros para ir e voltar do trabalho. Mas guiada pelos ensinamentos de Paulo Freire que a educação é um ato de amor e porque sempre gostei de dar aula, consegui desempenhar minha tarefa.

Acabei a faculdade me formando no ano de 2005, tive a certeza que a educação é o instrumento mais importante para o ser humano, pois sem o conhecimento não se consegue nada na vida, já dizia Paulo Freire (1996) a educação pode reinventar o mundo, a educação é uma empreitada coletiva, precisa caminhar junto com o povo.

Em 2008, me efetivei no município de Santa Terezinha do Progresso, com vinte horas semanais, nas séries iniciais do Ensino Fundamental, mas em alguns anos trabalhava quarenta horas. Por ter feito meu curso de Pedagogia somente em Séries Iniciais, fiz complementação em Educação Infantil e Educação de Jovens e Adultos pelas Faculdades Integradas FACVEST, onde acabei em 2010. No ano de 2012 me efetivei mais vinte horas na Educação Infantil no município de Campo Erê, agora trabalhando em duas escolas, em dois municípios isso exige muito de mim, mas gosto muito, pois são duas escolas do campo e é muito bom trabalhar nessas escolas.

Por ter morado na cidade por algum tempo, comecei a dar mais valor ao campo e sua cultura. Afinal foi o espaço que sempre vivi, e me sinto bem vivendo no campo, algumas dificuldades foram enfrentadas, principalmente em

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