ECONOMIA E VALORES MORAIS
Pesquisas Acadêmicas: ECONOMIA E VALORES MORAIS. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: LeandroBenicio • 23/3/2015 • 8.109 Palavras (33 Páginas) • 413 Visualizações
ECONOMIA E VALORES MORAIS
Os tempos modernos são dominados por um sentimento generalizado de que economia e moralidade são intrinsecamente incompatíveis. Moralidade, acredita-se, lida com valores intangíveis. Ela trata daquilo que é mais tipicamente humano, pessoal e emocional a respeito do homem, enquanto que a economia, por sua própria natureza, desumaniza e despersonaliza. A economia coloca etiquetas de preço (valores tangíveis) em tudo, e considera o indivíduo fundamentalmente como uma unidade de produção e consumo dentro de um amplo sistema impessoal.
A moderna "ética de negócios" afirma, efetivamente, que este aspecto impessoal da economia moderna é inevitável. Para produzir a abundância que todos desejamos, diz-se, a taxa de produção deve crescer continuamente. Aquilo que não contribui para aumentar continuamente a produtividade é considerado irrelevante e prejudicial para a economia e, consequentemente, para o bem-estar publico. "O que e bom para a General Motors é bom para todos".
Criando, desta forma, uma oposição entre economia e moralidade, entre os valores tangível e intangível, aqueles que defendem este ponto de vista procuram justificar o sistema econômico, eximindo-o de uma vez por todas de controles extrínsecos subjetivos, em favor de considerações "puramente econômicas". Eles não tem nada a temer da aceitação publica da oposição economia-moralidade, pois parece claro que, sendo a natureza humana aquilo que é (ou, melhor, aquilo que eles imaginam ser), as pessoas não hesitariam em escolher valores tangíveis ante os intangíveis.
E, no entanto, é agora claro que um considerável numero de pessoas, especialmente entre os membros da atual geração mais jovem, estão desejosos de fazer a escolha oposta. Se a deshumanização é o resultado inevitável do presente sistema econômico, dizem eles, então vamos nos livrar do sistema. A natureza humana, parece, não é tão claramente unanime, no final das contas. Não é nenhum exagero dizer que a guerra esta declarada, e que o resultado final desta oposição não é certo e nem inconseqüente.
Pode-se, todavia, questionar a validade da oposição entre valores morais e econômicos. É perfeitamente possível que os valores deshumanizantes associados com nosso moderno sistema econômico preceda o sistema, ao invés de advir dele. Talvez não seja tanto o dinheiro que corrompe mas, sim, que pessoas corruptas estejam usando a riqueza de forma corrupta e para fins corruptos. Talvez, em resumo, nosso sistema econômico seja simplesmente um reflexo externo e concreto de nossa vida interior coletiva, que os enormes recursos da tecnologia moderna permitiram magnificar e projetar em grandes dimensões.
Eu não digo que esta hipótese seja tão evidente a ponto de exigir uma aceitação imediata, mas ela é plausível o suficiente para ser digna de uma seria consideração. Algumas coisas ocorrem de imediato para reforçar esta plausibilidade inicial. Por exemplo, nos anos recentes, a comunidade de negócios vem reconhecendo abertamente que valores intangíveis podem afetar severamente a produtividade. Ao invés de levar a uma maior consideração dos empregados como indivíduos, esta constatação deu lugar a um enfoque manipulativo das relações humanas, em uma tentativa de induzir atitudes "corretas". As ciências sociais foram aplicadas para produzir "consideração" instantânea e para exalarem sinceridade, de modo a se assegurar ao indivíduo que se esta genuinamente interessado nele.
Assim, mesmo quando se tornou pragmaticamente útil a introdução de valores intangíveis no sistema de produção, escolhiam-se substitutos impessoais, embora estes não fossem necessariamente os mais eficientes. Isto certamente diz algo a respeito de nossa vida interior, nossa estrutura psicológica e nosso caráter moral, independentemente do sistema em si.
Considerar-se a economia como primariamente um reflexo de nossa moralidade tem profundas implicações na compreensão da dinâmica de nosso sistema econômico. Uma conseqüência deste enfoque é que não se pode alterar significativamente o sistema econômico sem mudar a moralidade. É, portanto, da maior importância considerar se esta analise é correta.
Vamos começar com um "thought experiment" (ou seja, um experimento imaginário). Imagine-se um ponto ideal de começo para nossa historia, no qual existiam apenas indivíduos e nenhuma organização social (Um tal instante inicial certamente nunca existiu, porem milhares de anos atras, quando a consciência do homem estava apenas um pouco acima do nível animal, deve ter havido algo que se aproximasse disto). Neste estagio imaginário de relacionamento, a liberdade do ser humano com relação aos vínculos sociais é total, uma vez que não ha sociedade para impor vínculos. O indivíduo deve produzir tudo o que consome, e ele é o único consumidor de tudo o que produz. O ciclo econômico completo esta fechado no indivíduo.
Pode-se dizer, de uma forma geral, que o indivíduo em sociedade esta sujeito a dois tipos de vínculos. Em primeiro lugar existem os vínculos pessoais, impostos pelas necessidades internas do indivíduo, que clamam por satisfação. Estas são parcialmente tangíveis _ a necessidade de alimento, abrigo e outras _ e parcialmente intangíveis. Em segundo lugar vem os vínculos sociais, que são demandas externas, colocadas no indivíduo pela sociedade, no intento de forca-lo a desempenhar um papel nela. Do ponto de vista do indivíduo, toda forma de organização social desenvolvida pelo homem pode ser vista como um compromisso entre estas duas forcas: a necessidade individual de uma certa auto- realização, por um lado, e a necessidade social de ordem e controle do outro. O grau de liberdade de um indivíduo em sociedade pode, portanto, ser decomposto em duas componentes: seu grau de liberdade relativo as necessidades internas e o seu grau de liberdade relativo as necessidades externas, demandas sociais ou vínculos.
Na situação ideal que estamos imaginando, o indivíduo é totalmente livre de vínculos sociais, pois não ha sociedade. Ele é, porém, ao mesmo tempo, uma presa para suas necessidades pessoais internas, de fato aquelas mais básicas, as físicas. A segunda componente de sua liberdade é infinita, enquanto que a primeira é nula. Se a doença, fraqueza ou alguma leve calamidade natural impedi-lo de sua atividade por um período muito longo, ele morre. Não é apenas o ciclo econômico de produção e consumo que esta fechado no indivíduo, mas o próprio ciclo da vida.
Tendo, agora, adquirido uma idéia do estado econômico de um indivíduo sem sociedade, vamos considerar precisamente o modo pelo qual a organização social realmente contribui
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