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Resgate Dos Valores Morais E Civicos Em Angola

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Por:   •  4/8/2013  •  2.345 Palavras (10 Páginas)  •  4.623 Visualizações

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A EDUCAÇÃO E O RESGATE DOS VALORES MORAIS E CÍVICOS EM ANGOLA

NOTAS PRELIMINARES

A moral e a cívica sempre foram uma preocupação do povo angolano. Com efeito, a nossa história pode ser compreendida como uma re-abordagem contínua dos nossos ideais morais e cívicos, enquanto seres sociais. A luta pela autoformação enquanto povo, a independência, a luta pela paz, democracia e desenvolvimento do homem angolano, podem ser citados como exemplos históricos do exercício de realização de ideais morais e cívicos.

No entanto, a nossa própria história também é mostra do quanto a moral e a cívica nem sempre gozaram do lugar que nós todos desejávamos que elas tivessem. Dum lado, pela dialéctica própria da existência humana, onde a negação contínua e a superação constante são uma realidade, doutro lado pela idealidade própria aos princípios cívicos e morais que podem ser compreendidos como sendo da dimensão da Ideia. Eles não são factos ou realidades adquiridas, mas sim ideais a alcançar.

Finalmente, e ligados aos argumentos precedentes, a moral e a cívica nem sempre foram realizadas pelo facto da própria contingência humana. Somos seres contingentes, e por isso finitos e imperfeitos. Assim, nós erramos. O nosso conflito armado, e as suas consequências, são prova da nossa imperfeição no exercício da cívica e da moral. Portanto, quando falamos da educação na recuperação dos valores morais e cívicos, estamos a falar duma realidade que nos toca enquanto angolanos aqui e agora.

Para abordar este tema, proponho quatro pontos: clarificação de conceitos; a relação entre a educação, valores morais e cívicos; a questão angolana; e os desafios (a guisa de conclusão).

I. CLARIFICAÇÃO DE CONCEITOS

Gostaria de recorrer ao método histórico para buscar a origem, a etimologia, das palavras-chaves da nossa comunicação, que são: valor, moral, cívica e educação.

Valor

A palavra valor vem do latim Valere, que significa “ser forte.” Assim, o termo valor pode ser compreendido como a qualidade e importância que nós projectamos e reconhecemos na realidade. Uma vez definidos, os valores justificam as nossas escolhas e acções. As dimensões valorativas são várias: Podemos falar de valores éticos, que têm a ver com a nossa conduta, como por exemplo a honestidade; temos valores religiosos, relacionados com a ligação do homem como o Outro (o transcendente), por exemplo, a santidade; valores estéticos, como a simetria. Existem valores políticos, como a participação cívica, etc. Sendo que os valores não o são para todos em todos os tempos e lugares, existe a possibilidade de mitigar o conflito de valores pela hierarquização dos valores. Neste sentido, a educação surge para harmonizar a diversidade de valores. A educação constitui-se como um factor chave na organização, transmissão e recuperação de valores.

Moral

A palavra moral também tem origem latina, “mor, mores.” Este termo significava para os latinos costume, carácter ou forma habitual de agir. Assim, a moral pode ser compreendida como as regras da conduta humana que radicam da sua capacidade e responsabilidade em distinguir o bem do mal. Em termos Kantianos diríamos, a moral é a dimensão prática da razão que impõe regras de comportamento e acção. Assim sendo, o valor moral indica a qualidade de princípio comportamental a partir da qual escolhemos e julgamos os nossos actos.

Cívica

A palavra cívica também vem do latim Civitas que significa cidadania romana. Daí que o objecto da cívica seja a cidadania. Com efeito, quando os latinos diziam cives, queriam dizer cidadãos, que eram distintos dos estrangeiros (que eles chamavam de peregrini). Neste contexto, a cidadania é a articulação explicativa dos direitos civis (tais como liberdades individuais e o direito a propriedade privada), direitos políticos (a possibilidade de exercer o poder) e direitos sociais (segurança económica e social) (Janoski, p. 3).

Nestes termos, o objecto da educação cívica pode ser compreendido como sendo a cidadania, que quer dizer a participação na cidade. Esta cidade está para além da polis grega de Aristóteles e doutros clássicos, (baseada na organização da sociedade) a Cidade da qual fazemos derivar a civitas de cívico, pode ser melhor compreendida, buscando a civitas de Santo Agostinho, que fundava a cidade em laços afectivos e não apenas jurídicos como se pretendia na republica latina de Cicero.

Educação

O grande consenso quanto a origem do termo educação é de que ele deriva do latim. No entanto, dali para frente, o consenso e unanimidade não é tão evidente. Com efeito, há autores que derivam o termo educação do verbo latino “educare” que significa criar ou alimentar (cfr. Enciclopédia Luso Brasileira, p. 148). Existem outros autores que, como afirma Américo Veiga preferem derivar o termo educação dum outro verbo latino “educere”, que resulta da justaposição do prefixo “ex” que significa sair de, tirar para fora, etc. e o verbo “ducere” que quer dizer conduzir. Assim, educação pode ser compreendida como o processo de condução para fora de.

A articulação que Américo Veiga faz dessas duas perspectivas etimológicas é interessante porquanto, ele assume que a educação é um processo que implica duas direcções: a direcção de dentro para fora (do lado do educando; desenvolvimento) e a outra de fora para dentro (do lado do educador; a ajuda).

Neste âmbito, apesar de ser grego, Sócrates parece ter percebido muito bem esta dinâmica dialógica do processo educativo, quando lançava as bases da mieutica, sendo, o educador, uma espécie de parteira, ou seja ginecologista -obstetra, especialista em partos. Com efeito, não é parteira que dá à luza; Ela apenas ajuda a parturiente a dar a luz. O meu colega e amigo professor, Nlandu Matondo, numa das suas conferências, também ligava esta visão socrática à de Santo Agostinho do Logoi Spermatokoi (despertar as razões que estão em sementes), e à de Lonergan (com o seu conceito de Insights, ou seja “ideias adormecidas no santuário cognitivo” do educando. (apresentação do dia 29/07/2010, CEDBES).

Nestes termos, educar pode ser compreendido como o processo de motivar o desenvolvimento da razão, que, na perspectiva de Kant, teria várias dimensões, dentre as quais a teórica, prática e a judicativa.

O PAPEL DA EDUCAÇÃO EM RELAÇÃO AOS VALORES MORAIS E CÍVICOS

O papel da educação em relação aos valores morais e cívicos

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