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Educação E Inovação

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Por:   •  12/5/2013  •  7.384 Palavras (30 Páginas)  •  318 Visualizações

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REFLEXÕES SOBRE A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE PROFISSIONAL DOCENTE EM INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR

Mariana Soledade Barreiro

A proposta deste ensaio é realizar uma análise acerca da importância da construção da identidade profissional docente enquanto fator que imprime qualidade à prática educativa realizada no ensino superior. Para tanto, com base na perspectiva dos Estudos Culturais e da Psicologia Social, será abordado o conceito de identidade e seu processo de construção. Para discutir como a identidade profissional docente se constrói, recorreremos a concepções de alguns teóricos em educação.

IDENTIDADE

O processo de construção da identidade é imprescindível para a consolidação do ser humano como indivíduo, que deve possuir características, costumes, desejos, objetivos e aspirações próprias. Essa construção permite que se projetem e se estampem as marcas singulares de cada um. É ainda por meio da identidade que as pessoas dão sentido e significado a sua própria história de vida, pois o processo identitário é construído de forma dinâmica e dialética, por meio de trocas entre os contextos de vida e os sujeitos neles inseridos. Construir identidade implica, pois, em assimilar, aprender, refletir, entender e internalizar saberes, conhecimentos e experiências pertencentes a determinada cultura, costumes, profissão, ofícios etc.; em confrontar e apropriar-se de toda a gama de conhecimentos e informações adquiridas com os sentimentos e as concepções pessoais acerca do mundo e de seus semelhantes.

Para Silva (2000), que formula seu pensamento na perspectiva dos Estudos Culturais, a identidade, em primeira aproximação e considerando seu conceito mais amplo, pode ser entendida como “algo que se é”. Quando afirmamos “sou professor”, “sou negro”, “sou mulher”, “sou brasileiro”, estamos dando mostras de nossa “identidade”. Nessa concepção, a identidade é concebida como algo positivo, como “aquilo que sou”; um elemento autônomo, uma característica própria e independente. Em outra análise, Brzezinski (2002) considera a identidade, em seu conceito geral, o centro de significado e vivências dos seres humanos que se estabelece por meio de uma construção permanente. Deste modo, a identidade é concebida pelo acúmulo de significados e experiências de um povo.

Na concepção de Laurenti e Barros (2005), estabelecida sob a perspectiva da Psicologia Social, o conceito de identidade perpassa pela igualdade e pela diferença, evocando tanto a noção de qualidade do que é igual, idêntico, como a noção do singular. Essa relação pode ser explicada quando, primeiro, percebemos um indivíduo separado de seu meio, que possui marcas e características próprias, e depois o reconhecemos em seu grupo, confundindo-se com os outros, seus semelhantes.

Analisando as concepções acima explicitadas, formuladas sob as perspectivas da Psicologia Social e dos Estudos Culturais, percebemos que, para ambas, a identidade não é concebida como algo inato, mas sim como forma sócio-histórica de individualidade. Ou seja, compreende o convívio social como espaço que possibilita as mais diversas formas e alternativas de identidade. Deste modo, o conceito identidade expressa a singularidade construída pelo ser humano por meio da relação com outros indivíduos. Essas concepções apontam também para a importância de seu caráter dinâmico e mutável no processo de construção.

Levando em consideração esse entendimento, a identidade é algo que vai sendo construído com base nas interações, de forma dinâmica e dialética. É elemento imprescindível para a consolidação dos conceitos, imagens e características individuais, não havendo uma dicotomia entre ser individual e ser social. Desta forma, o conceito de identidade não pode ser visto sob um aspecto ou outro — social ou individual — separadamente, pois um depende do outro para se completar. Será necessária, portanto, uma compreensão do homem dentro de uma perspectiva sócio-histórica. Como afirmam Laurenti e Barros (2005, p. 28):

Não há separação, mas sim uma articulação, em que os limites, se é que realmente existem, entre o individual e o social se confundem. Para existir um, são necessários dois, não apenas do ponto de vista da concepção, da genética da sobrevivência, mas, sobretudo, em se tratando do homem ser reconhecido como tal; o homem só se vê como homem se os outros assim o reconhecerem. Sob essa perspectiva, é possível conceber a identidade pessoal como, e ao mesmo tempo, social, superando a falsa dicotomia entre as instâncias.

Para reforçar os argumentos explicitados até aqui, trazemos o conceito de identidade exposto por Woodward (2000), que a concebe como relacional e marcada pela diferença, ou seja, a identidade depende de algo fora dela para existir; depende de uma outra identidade que ela não é. A diferença torna-se importante, pois é certo afirmar que possuímos essa identidade porque não possuímos aquela. Um outro aspecto é que a identidade é construída socialmente e por meio de símbolos. Os símbolos são importantes, pois existe uma associação entre as pessoas e as coisas que usa, os significantes. Devemos observar, contudo, que é nos sistemas de representação, e por meio destes, que são construídas as práticas de significação e os sistemas simbólicos que permitem o estabelecimento do indivíduo em determinada identidade, ou seja, as representações fazem parte de um sistema simbólico que dão significado à prática do indivíduo, determinando aquilo que são ou podem ser. Segundo Woodward (2000, p.17):

A representação inclui as práticas de significação e os sistemas simbólicos por meios dos quais os significados são produzidos, posicionando-nos como sujeitos. É por meio dos significados produzidos pelas representações que damos sentido à nossa experiência e àquilo que somos. Podemos inclusive sugerir que esses sistemas simbólicos tornam possível aquilo que somos e aquilo no qual podemos nos tornar.

Neste sentido, com base nos teóricos enfocados nesta seção, podemos afirmar que a construção da identidade se dá mediante uma interação dos indivíduos com seu contexto de vida, pela apreensão de experiências saberes e conhecimentos acumulados historicamente. Esse processo ocorre também pela transformação do instituído, de uma evolução que não permite a repetição do “velho”. É imperioso afirmar ainda que o processo identitário é mutável, contraditório, dinâmico, relacional e se apresenta em constante transformação qualitativa. A construção da identidade, portanto, só é possível porque

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