Introdução: o problema da vinhaça
Projeto de pesquisa: Introdução: o problema da vinhaça. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: rogeriocarrijo82 • 5/9/2014 • Projeto de pesquisa • 3.230 Palavras (13 Páginas) • 241 Visualizações
Introdução: o problema da destinação da vinhaça
Até a década de 1970, as principais destinações da vinhaça, ou vinhoto (sub-produto da fabricação do etanol) eram os mananciais de superfície e "áreas de sacrifício". Com o extraordinário aumento da produção do resíduo, com a implementação do ProAlcool, e ainda com a proibição legal do lançamento da vinhaça nos cursos d´água, no final dos anosv70, esforços passaram a ser envidados no sentido de se desenvolver possibilidades tecnológicas para sua destinação. Ao longo de duas décadas, muitas possibilidades tecnológicas foram objeto de pesquisa e desenvolvimento. A despeito disso, em meados dos anos 80 a fertirrigação se colocava como a alternativa mais amplamente difundida e o problema se colocava como resolvido.
Aspectos histórico-econômicos envolvidos no problema da destinação da vinhaça
A vinhaça - ou vinhoto - é um subproduto do processo de fabricação de etanol a partir da destilação do caldo fermentado da cana-de-açúcar. Durante décadas, mesmo quando ainda não era gerada nos volumes atuais, a vinhaça já provocava nos órgãos de controle ambiental e na comunidade científica alguma preocupação quanto a seus impactos ambientais. O trabalho de 1952 de Almeida (apudSzmrecsányi, 1994), já mostrava que o tema despertava a atenção de cientistas e era objeto de estudos nas décadas de 40 e 50, época em que o resíduo era despejado nos mananciais de superfície (prática que à qual se recorreu ainda por muito tempo) e em "áreas de sacrifício". Com a implementação do Programa Nacional do Álcool (ProAlcool), contudo, os danos ambientais causados à flora e à fauna dos mananciais de superfície adquiriram uma dimensão preocupante.
O Programa Nacional do Álcool foi criado, como se sabe, com o objetivo de promover a substituição parcial da gasolina utilizada em veículos leves por álcool hidratado, como parte das ações adotadas pelo Governo Federal para reduzir o impacto da elevação dos preços do petróleo na década de 1970. Desde meados da década de 70 até o final dos anos 80, o estímulo à produção de álcool combustível deu novo impulso à agroindústria canavieira no país.
Aspectos físicos ou ambientais propriamente ditos
A vinhaça consiste em um efluente líquido rico em matéria orgânica e potássio, com significativos teores de cálcio, magnésio e enxofre e outros minerais em pequena quantidade. Trata-se, de acordo com Plaza-Pinto (1999) de uma suspensão de sólidos orgânicos e minerais, com elevadas DQO (Demanda Química de Oxigênio) e DBO (Demanda Biológica de Oxigênio), de onde vem seu grande potencial poluidor.
Ao lado da poluição por substâncias orgânicas, outros aspectos físicos da vinhaça são seu baixo pH e a elevada temperatura em que é gerada, que resultam em seu caráter de poluente químico (expresso por um elevado efeito corrosivo) e na poluição de natureza física (na forma de calor). Quanto às fontes, é necessário caracterizá-las quanto à origem e quanto ao uso da vinhaça. Quanto à origem do efluente, as fontes são passíveis de identificação, pois correspondem às plantas produtoras de álcool na agroindústria canavieira. Quanto ao uso da vinhaça, as principais fontes encontram-se na lavoura canavieira, correspondente a múltiplas propriedades de plantadores de cana. Não existe levantamento sobre a quantidade de vinhaça empregada nessas propriedades anualmente, o que torna difícil a identificação precisa dessas fontes. No Estado de São Paulo, por exemplo, o eixo Campinas – Ribeirão Preto concentra grande parte dessas propriedades. Os elementos do ecossistema possivelmente afetados são os mananciais de superfície; o solo e as águas dos lençóis subterrâneos.
Até o final dos anos 70, volumes crescentes de vinhaça eram lançados nos mananciais superficiais. A roliferação de microorganismos decorrente esgota o oxigênio dissolvido na água, destruindo a flora e a fauna aquáticas e dificultam o abastecimento de água potável. Além do mau cheiro, Almeida (apud Szmrecsányi, 1994) alerta para o agravamento de endemias como a malária, a amebíase e a esquistossomose. Os lançamentos de vinhaça nos mananciais de superfície eram de caráter sazonal, seguindo o ciclo da produção do álcool, o que explica o caráter agudo do problema, afetando as funções de auto-regulação e de auto-reprodução dos ecossistemas. Passado o choque, com a diluição dos poluentes, as populações de peixes parecem se recompor.
Uma outra alternativa para a destinação da vinhaça constitui-se nas chamadas "áreas de sacrifício", áreas de superfície que recebem ou são "embebidas" com a vinhaça não tratada. Como indica sua própria designação as "áreas de sacrifício" tornam-se completamente inutilizáveis para quaisquer outras finalidades.
Posteriormente, principalmente a partir dos anos 80, com a difusão da prática da fertirrigação - que conheceremos em maior detalhe mais adiante - e com o uso ainda continuado de "áreas de sacrifício", o solo é o elemento dos ecossistemas que passa a ser mais afetado pela disposição da vinhaça. Finalmente, discute-se, como veremos a seguir, a possibilidade de contaminação dos mananciais subterrâneos.
Aspectos científico-sociais envolvidos
Enquanto os efeitos da descarga da vinhaça sobre os mananciais de superfície são bastante conhecidos a ponto de não mais suscitarem disputas, o mesmo parece não ocorrer com os impactos ambientais de sua disposição no solo nem com a possibilidade de contaminação de lençóis freáticos.
Há um grande número de trabalhos científicos dedicados ao estudo dos efeitos da vinhaça como fertilizante, enquanto poucas iniciativas de investigação se voltam aos efeitos do resíduo sobre a qualidade das águas subterrâneas. Já observamos que, de acordo com os estudos de 1984 de Glória (apud Plaza-Pinto, 1999), a não observação das dosagens ideais de aplicação de vinhaça (que variam segundo o tipo de solo e segundo as variedades de cana), leva a riscos de salinização e à degradação da própria qualidade da cana produzida. Apesar disso e do fato da grande difusão da fertirrigação, a Copersucar divulgou em 1986, de acordo com Plaza-Pinto (1999), a informação de que cerca de 40% da vinhaça produzida no Estado de São Paulo ainda não é aproveitada, sendo descartada em áreas de sacrifício, prática que tem sido autorizada com restrições pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Básico e Ambiental (Cetesb), que exige o uso de mantas
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