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O Comentário - Looking for Richard

Por:   •  31/5/2022  •  Trabalho acadêmico  •  547 Palavras (3 Páginas)  •  67 Visualizações

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COMENTÁRIO: Looking For Richard – Por Maria Duarte

O filme Looking for Richard, de Al Pacino, como dito por ele no filme, é uma tentativa de fazer com que Shakespeare se torne mais acessível ao público geral. Durante o filme, ele entrevista diversas pessoas nas ruas sobre seu conhecimento da peça e de Shakespeare em geral, obtendo como resposta muitas vezes uma apreensão, um acovardamento frente a tão grandiosa obra. Também aparecem em diversos momentos depoimentos de atores, que falam de um lugar parecido, de um medo, especialmente entre os atores americanos. Pois eu também partilho desta apreensão, acho difícil a leitura de suas peças: me confundo com os versos e a poesia inerente ao texto, e encontro também dificuldade na presença quase exclusiva de diálogos nas páginas.

Desde menina fui habituada a assistir teatro, que é profissão de meus pais. Sendo assim, tenho dificuldade em compreender os textos sem nenhuma inflexão de emoção por parte de um ator: eles que fazem viver a cena e os personagens, fazem de seu corpo e sua voz a matéria da trama. Para mim a compreensão das histórias contadas no teatro se deu, muito antes da compreensão do verbo, na compreensão do gesto, da expressão, da energia que emana na sala escura com a interpretação do ator. Não tinha nem consciência da existência de um texto anterior ao momento de sua encenação e, quando a descobri, continuei sempre sendo exposta à mutação sutil e eterna de seu sentido e de sua energia em cena, ao ver diversas vezes a mesma peça sendo repetida, em ensaios e apresentações sem fim.

Lendo romances, literatura mais comum, não sinto esta necessidade de sujeito vivo, energia pulsante para compreender o sentido das palavras, por conta da presença de texto que não é dito com a voz de alguém que, na trama, é vivo, sujeito. Estas palavras mudam o sentido daquelas outras que são saídas da boca de alguém, na realidade do texto, pois o seu sentido continua sendo o mesmo: são palavras feitas apenas para serem lidas, e não ditas efetivamente. São palavras que foram pensadas pelo autor para terem sua expressão e sentimento completo apenas através da leitura individual. Elas servem seu propósito total de comunicação em forma de texto. As palavras do texto teatral, todavia, não.

Lendo uma peça sinto falta de um calor: para minha imaginação não bastam apenas vozes para criar claras imagens e significados, especialmente com linguagem tão rebuscada, cheia de idas e vindas. Assistindo ao filme, todavia, consegui, através da inserção do momento real da apreensão do texto pelos atores, entender junto com eles as emoções, o calor que leva a trama. Em algum momento, um entrevistado diz algo que vou tentar aqui relembrar, com palavras minhas: se nós tratamos as palavras como coisas, sem colocar nelas sentimentos, corremos o risco de não produzir significado em nossa fala.

Por isso o texto teatral, especialmente os clássicos antigos, como Shakespeare me parecem herméticos, em leitura silenciosa e solitária: por serem todas as palavras pensadas para sair da boca de alguém, tanto na realidade da trama (pelos personagens), como no mundo real (através dos atores), quando escritas apenas, lhes falta sentimento. Tornam-se misteriosas, embaralhadas, para alguém que não domina a linguagem arcaica, cheia de meandros. Não desempenham seu papel, sua intenção completa.

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