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O Grande Teste Da China

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Por:   •  21/9/2013  •  2.014 Palavras (9 Páginas)  •  454 Visualizações

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O grande teste da China

Revista Veja - 22/10/2012

O país que mais influencia a prosperidade mundial prepara-se para a maior troca de comando da década. Os novos líderes assumirão em meio a um dilema: para manter a China crescendo será preciso arejar o regime, mas um movimento equivocado pode ser desastroso. O mundo aguarda com a respiração suspensa

Thaís Oyama

Pequim tem mais de 3000 anos de história, mas para o visitante a efemeridade da vida é a primeira lembrança que ela evoca. Andar em um táxi na capital da China pode ser uma experiência aterradora. Os motoristas guiam em zigue-zague, têm fixação pela buzina e horror ao cinto de segurança, que socam no vão do banco de modo que nem por mil gafanhotos o passageiro consegue arrancá-lo de lá. Pequim tem 5 milhões de carros e o pior trânsito do mundo. Só se vê uma rua iivre lá quando a polícia abre caminho para a passagem de um guanyuan, termo usado para se referir a um dirigente do Partido Comunista da China (PCC). No próximo dia 8, as avenidas que levam à Praça Tíananmen serão interditadas para que centenas de guanyuans se dirijam ao Grande Salão do Povo. Lá, ao lado do enorme retrato de Mao Tsé-tung, eles vão eleger, ou melhor, referendar o nome dos homens que liderarão a China pelos próximos anos. É a mais profunda troca de comando da última década no país que se tornou o GPS geopolítico mundial e o termômetro da economia global. Tudo o que se passa na China interessa diretamente ao mais alienado dos mortais, no mais distante dos países. Quando, no fim dos anos 90, se dizia que o bater de asas de uma borboleta em Tóquio poderia causar um furacão no Texas, o fenômeno da interdependência das economias já era um fato consumado. Mas nem o mais delirante visionário poderia imaginar a que ponto ele chegaria. A China levou ao paroxismo a ideia de globalização da economia. É por isso que o mundo agora prende a respiração ante o anúncio da nova geração de líderes — sobre a qual tudo o que se pode dizer é que não incluirá um único fio de cabelo branco.

A estrutura de comando no regime chinês continua cimentada no mais genuíno molde soviético — é centralizada. monolítica e inescrutável. Embora já esteja definida, a identidade dos homens, e talvez das mulheres, que vão integrar o Comitê Permanente do Politburo, a mais alta instância decisória do PCC. permanece um segredo. O único nome tido como certo o do futuro presidente, Xi Jinping, sobre o qual pouco se sabe além do fato de que é engenheiro químico por formação, integrante da nobreza vermelha (o pai foi homem de confiança de Mao) e fã de programas de esporte na TV. O regime chinês encara o conceito de transparência da mesma forma que os motoristas de Pequim veem o cinto de segurança — como um acessório apreciado pelos ocidentais, mas sem utilidade por lá.

O Brasil olha apreensivo para essa potência opaca como a Grande Muralha do momento em que acorda à hora em que vai dormir. "O que a China compra ou deixa de comprar é tão crucial que dizemos que ela é o nosso ministro da Economia,”. diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comercio Exterior do Brasil. Se um meteoro caísse na China e ela sumisse do mapa amanha. a balança comercial brasileira não apenas despencaria, mas mudaria de sinal. iria facilmente dos atuais 17 bilhões de dólares de superávit para pelo menos 15 bilhões negativos”. calcula Welber Barrai, da consultoria Barrai M Jorge. Nessa conjectura apocalíptica, os Estados Unidos, cujo gigantesco déficit a China financia, ficariam insolventes. Pequenos, médios e grandes negócios fechariam as portas. A Europa também viria a nocaute, sem gordura para queimar e com países ancorados na exportação de maquinário. O Japão, que tem 20% de suas exportações direcionadas para a China, entraria em colapso, o mesmo destino dos vizinhos asiáticos Bangladesh e Vietnã, hoje satélites chineses. Portanto, nem é bom pensar nessa catástrofe cósmica. Ela só serve para dar a real dimensão da dependência que os 5,7 bilhões de pessoas fora da China têm do apetite e da possibilidade de consumo do 1,3 bilhão de chineses.

No polo industrial de Shenzen, as praças estão lotadas de recrutadores pagos pelas fábricas para atrair trabalhadores. Nas tabuletas que exibem, as ofertas de salário chegam a 400 dólares mensais — o dobro da média de 2006. Algumas incluem promessas como dormitórios com ar-condicionado, festas de fim de ano e até “vale-bolo” para os aniversariantes — tudo para tentar fisgar a cada vez mais escassa mão de obra operária. Por causa do envelhecimento da população, a previsão é que a oferta de trabalhadores com menos de 24 anos caia um terço nos próximos doze anos. "Agora são os operários que escolhem a empresa em que vão trabalhar, e não o contrário", diz a recrutadora Zhou Li.

No tempo da fartura de braços, a China inundou o planeta com seus manufaturados. Com o dinheiro das exportações, fez com que portos, aeroportos e cordilheiras de arranha-céus brotassem do chão como bambu depois da chuva. Para manter girando o motor do crescimento, construiu o que era preciso, o que era desnecessário e também o que mais tarde se revelou a mais pura extravagância, como um castelo de 12000 metros quadrados que imita o Palácio de Versalhes, esplendorosamente instalado em meio a uma rodovia na cidade industrial de Tíanjin. O Chaieau Dynasty foi erguido para comemorar o aniversário de uma vinícola estatal. Tem salões com paredes forradas de tapeçarias, lustres monumentais e um apenas tênue compromisso com a obra e a época que o inspiraram, como atestam a réplica em tamanho natural da pirâmide do Louvre em frente à sua fachada "‘barroca" e a escadaria de mármore do salão principal que o guia orgulhosamente informa ter sido baseada naquela em que Nicole Kidman aparece no filme Moulin Rouge. Alguns dos aposentos do Chaxeau Dynasty foram feitos para funcionar como restaurante e salão de jogos. Mas, por enquanto, só o que se vê neles são funcionários entediados que, à vista de um raro visitante, cuidam de esconder o taco de bilhar atrás das costas.

Castelos delirantes, cidades fantasmas, edifícios vazios — estaria a China alimentando um colapso imobiliário de conseqüências catastróficas? E o que acontecerá com o mundo se ela frear esses investimentos de vez? Uma pista para a última pergunta está no preço do minério

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