Os Destinos de Viagem
Por: Ricardo2021 • 15/8/2021 • Ensaio • 3.944 Palavras (16 Páginas) • 83 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes
Departamento de Turismo e Hotelaria
Disciplina: Introdução ao Estudo do Turismo
Período: 2019.4
Professor: Piva
Teoria Geral dos Sistemas e o estudo inter, multi e transdisciplinar do turismo
1. O estudo do turismo como sistema
Tudo começou com a filosofia, considerando-se a soma das ideias de todos os seus pensadores, por estabelecer a base para a formulação da cultura ocidental, desenvolvido e ampliado, no correr dos tempos, por outros pensadores como Tomás de Aquino, Kant, Hegel, Comte, Rousseau, Marx e Weber,
Contudo, apesar de sua indiscutível contribuição ao conhecimento humano, a filosofia, desde seus primórdios, criou sistemas que se propuseram a dar conta, teoricamente, de toda a problemática do mundo. Surgiram relatos genéricos e pretensamente absolutos, metarrelatos com a intenção de esgotar as dúvidas e lacunas da ciência.
Com o desenvolvimento da ciência os sistemas filosóficos foram sendo confrontados com realidades que transcendiam seus limites conceituais, fazendo com que a metalinguagem universal, absolutista, fosse substituída por uma pluralidade de sistemas formais e axiomáticos. A preocupação filosófica histórica em busca da verdade foi deixada de lado em nome da busca pela eficiência. Não importa se algum pensamento é verdadeiro ou falso, mas sim se ele é eficiente, possui aplicabilidade, numa concepção pragmática, mesmo se o problema for teórico e humanista. Daí o surgimento do iluminismo e da tradição empirista inglesa a partir das idéias de Roger Bacon, passando por Hume e pelo utilitarismo de Stuart Mill e Jeremy Bentham, que encontrou no norte-americano Charles Sanders Pierce (1839-1914) - mais conhecido pela sua contribuição à semiótica -, o articulador do pensamento pragmático, para o qual o conhecimento é um instrumento a serviço da ação, tendo o pensamento um caráter finalístico: “uma proposição intelectual deve ser útil às pessoas”.
Além de Pierce, outros filósofos, mais voltados para a desconstrução do discurso filosófico ocidental tradicional, como Jacques Derrida, Gilles Deleuze, Jean Baudrillard, Lyotard, antecedidos por Nietzsche, deixaram claro a necessidade do pragmatismo.
É bem verdade que, entre as idéias iluministas, empiristas e pragmáticas, surgiram estudos mecanicistas, devido aos paradigmas da época que privilegiavam a técnica em relação ao humanismo (final do século 19 e início do século 20), opção em que se reduzia a ciência aos paradigmas da física convencional, nos quais o funcionalismo, na teoria sociológica, acentuava o equilíbrio do mundo material, subestimando as transformações socioculturais.
Mas a Teoria Geral dos Sistemas, surgida em 1925, porém com conceitos vagos de difícil aplicabilidade, e melhor formulada em 1937 por Ludwig von Bertalanffy, retomaria a ideia sobre a necessidade de estudos específicos para cada objeto, porém utilizando conhecimentos de várias áreas. Bertalanffy observou que tal estudo visava compreender os princípios da integralidade e da auto organização em todos seus meandros. Sua preocupação era livrar os estudos humanísticos de mecanicismos.
Infelizmente, o mundo da ciência adotou a teoria dos sistemas em óticas diferenciadas conforme a necessidade de cada ramo do conhecimento. Mas ainda assim é uma estrutura atual e complexa, utilizada em diversas áreas do conhecimento humanístico, destinada a tratar das variáveis dos sistemas, considerando que elas, apesar da condição de “variáveis” (fenômenos diversificados) nunca permanecem solitárias. Cada variável, em um sistema, interage com outras variáveis de forma tão completa que causa e efeito não podem ser separados. Assim, uma única variável pode, ao mesmo tempo, ser causa e efeito. A realidade não permanece estática, entretanto, pode ser desmembrada. Não é possível entender uma célula ou a estrutura fora do contexto do corpo biológico de um ser vivo. Uma família não é reconhecida fora da estrutura social. A cultura ou o turismo não podem ser estudados de forma estratificada. O relacionamento é tudo.
E já que chegamos ao turismo...
O turismo, como resultado do somatório de recursos naturais do meio ambiente, culturais, sociais e econômicos, tem campo de estudo superabrangente, complexíssimo e pluricausal.
Organizar esse imenso caldeirão de fatores - que são causas e efeitos intervenientes, não se podendo afirmar com certeza, ante mera investigação simplista, que fatores decidem a atividade turística e quais os que não a determinam - constitui árdua empreitada.
É preciso dispor de um quadro referencial dinâmico, flexível, adaptável, de leitura e compreensão simples e fácil, que integre toda essa colossal complexidade e a represente por inteiro em suas combinações.
Os que acompanham a história da ciência sabem que as grandes descobertas se fazem por intuições, por apreensões de ideias gerais sobre o objeto de investigação. Tem-se a noção da coisa toda primeiro, para depois efetuar a análise de suas partes. No entanto, ficou cada vez mais evidente que os conjuntos não podem ser compreendidos por análises e, a partir dos anos de 1980, cresce a importância do método holístico na ciência.
O prefixo grego syn (ou sin, “junto com”), como em síntese, sinergia, sintropia, torna-se cada vez mais significativo. Quando coisas se juntam, algo novo acontece. Nesse contexto, há novidade, criatividade, um conjunto mais rico e interessante. Quer se esteja falando de reações químicas ou de sociedades humanas, quer de moléculas ou tratados internacionais, há qualidades que não podem ser previstas olhando-se apenas os componentes.
O turismo, assim como a as ciências humanas em geral, é um fenômeno investigado em diversas áreas do conhecimento, explicado e analisado também por diferentes correntes do pensamento que se baseiam em experimentos ecléticos de diversas realidades sociais,
Portanto, entendemos que o turismo, dependente de varias áreas do conhecimento, encontra bases epistemológicas propícias na Teoria Geral dos Sistemas - “um grande avanço no sentido da síntese interdisciplinária e da educação integrada” (Bertalanffy) -, justamente por esta ser uma estrutura que determina contínuas e dinâmicas relações com diferentes manifestações do pensamento, oferecendo amplas variantes, para a complexidade dos estudos turísticos, fato que inspira e justifica a inter, multi e transciplinaridade desta área do conhecimento.
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