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PÓS GRADUAÇÃO EM ESTUDOS CULTURAIS RESENHA CRÍTICA

Por:   •  25/6/2019  •  Resenha  •  1.350 Palavras (6 Páginas)  •  181 Visualizações

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CENTRO UNIVERSITÁRIO JORGE AMADO

DISCIPLINA: SEMINRAIO DE PESQUISA

DOCENTE: LORIS BRANTES

CURSO: PÓS GRADUAÇÃO EM ESTUDOS CULTURAIS

RESENHA CRÍTICA

Contando com um rol de obras de três artistas, organizados sobre a perspectiva geracional a exposição de arte moderna baiana Tríptico – A Arte em Três Gerações reúne obras de três gerações de uma mesma família, orquestrado na dinâmica consanguínea expressas nos papeis sociais de avô, pai e neto.  A mostra apresenta uma proposta dialógica com o universo de movimentos, saberes, fazeres e cotidiano sociocultural da cidade de Salvador, registrados sobre as formas de desenhos, pinturas, esboços, dobras e fotografias realizadas pelos autores Jenner Augusto, Guel Silveira e Zeca Fernandes.

As obras expostas trazem consigo traços marcantes do estilo modernista, contudo ressaltando fortes influências do abstracionismo, expressionismo e do estilo urbano característico da modernidade. Destacando a variação das paletas de cores inovadoras, a harmonização, uniformização e desconfiguração dos traços e dos grandes formatos, com marcas naturalistas e que também transitam entre o obscuro e o luminoso, condições essa que transmitem uma dimensão de volume, movimento, profundidade, dinamismo e intensidade.

Nesse sentido os autores direcionam o espectador para a centralização da experiência humana, vivenciada em tal exposição, que significa e evidencia a condição de estar inseridos numa conjuntura cultural constituída previamente a nossa existência, enquanto indivíduos inter-relacionados, interativos e em constante transformação subjetiva, na qual influenciamos e somos influenciados sócioculturalmente, em nossos conjuntos de expressões estilísticas, imagéticas e simbólicas, dentre outras, difundidas ao longo dessa desse processo de ambientalização social.

Condição essa que exige, por parte desse mesmo espectador, continua e cotidianamente a ação reflexiva acerca da importância da arte, das formas concretas de manifestações e, sobretudo revele um modo próprio de criar e avaliar as (re)significações do universo artístico quando do contato com as obras expostas, estas imbuídas das visões, significações e subjetividades do autor. E ao fazê-lo, ampliam-se as possibilidades interpretativas sobre a produção, uma vez que todo ser humano, independentemente de ser artista é capaz de se perceber, interpretar e representar o mundo em que vive.  

Postulando essas possíveis interpretações, estabelece-se como necessário o debate sobre o papel e a função social da arte, no que diz respeito a forma e influência que esta exerce desde o momento da idealização, conhecimento, concepção e consequente criação por parte do artista, sobretudo na contemporaneidade.

 A arte enquanto forma de conhecimento vai representar a realidade contextualizada pelo autor, estabelecendo uma espécie de resgate da relação do homem/artista com a obra fruto da sua arte. Nesse sentido evidencia-se uma necessidade humana, natural, de retomar as dimensões coletivas vivenciadas a partir da contemplação. Todas com o mesmo objetivo de representar e interpretar a realidade, visando satisfazer os desejos, anseios e necessidades desse homem, autor, e da sociedade.  

A contemporaneidade, difunde a ideia que a arte é uma inspiração e um dom dado ao homem na condição de realizador, bem como concebido enquanto elemento inato e inerente ao ser humano. O que significa que este mesmo individuo, expressa sua sensibilidade particular, exata, espontânea e intuitiva; e por isto está autorizado a apresentar e/ou representar livremente em suas obras inúmeros e distintos conjuntos de referências percebidos no mundo, ideal e empírico, objeto de apreciação do artista. Tornando esse e a sua obra isentos de qualquer penalidade e/ou crítica social.

Destacadas essas características, a discussão relaciona-se com a composição das obras/esboços esferográficas produzidas pelo autor Jenner Augusto, que expressam na posição de temática criativa a representação da nudez feminina.  A discussão tomando como tema a estética, e mais especificamente o feminino e sua nudez representado por este, possui um enorme significado social para os indivíduos inseridos no cenário de transição da capital baiana, bem como de um Brasil recém urbanizado e contemporâneo ao autor das obras, posto que a herança cultural de caráter patriarcal é intensa e extremamente presente na constituição social da população de soteropolitana.

A cidade de Salvador, enquanto especificação territorial, caracteriza-se como campo fértil para reflexões e desconstruções ideológicas no imaginário popular, sobretudo o masculino, principalmente pela relação dialética estabelecida com a temática, gênero. Assim a jornada em busca de uma afirmação das relações de pertencimento e a propriedade sobre os corpos femininos ganham notoriedade e, em sua totalidade direcionando e garantindo legitimidade as mulheres, na condição de gênero histórico e socialmente excluído e alijado do processo de construção e significação social, na perspectiva de sujeitos agentes do processo histórico.

Esse contexto revela-se de extrema importância também para o movimento feminista redefinir posturas e rever metodologias, incluindo praticas subjetivas, na busca constante e conjunta de um projeto de educação que orientasse a formação de cada indivíduo inserido em tal contexto, a garantir a luta, a desconstrução e a assunção de um lugar de pertencimento descritos na condição de “lugar de fala”.

Na Bahia, especificamente em Salvador, podemos correlacionar à delimitação periódica da analise justificando-a pela influência e demarcação de dois momentos significativos para a estética e o gênero. Inicialmente o ano de 1970, que pode ser descrito como de suma importância para as mulheres em qualquer lugar, pois, é nesse momento que se iniciam os movimentos de “independência” simbólica e reivindicação de direitos femininos destes países, após um longo período de dominação ideológica fundamentada em uma estrutura patriarcal que alicerçou a formação das sociedades em todo o mundo, a partir de suas representações simbólicas de composição de elementos e caracterização marcantes.

Possibilitando assim, perceber como e quanto esses movimentos dentro das comunidades femininas, privilegiou o destaque de instrumentos de resistência e luta pela posse dos próprios corpos, como revelam os estudos históricos sobre o feminismo e as questões de gênero no Brasil.

Por isso a “intervenção” na exposição da nudez feminina nas obras em questão, imprime a percepção de uma ótica, presumidamente inconsciente, e a reprodução de práticas culturalmente nomeadas machistas, elemento que se destaca nessa inter-relação empírica protagonizada a partir da observação de campo, sob a forma de visitação a exposição.

Condição que propõe assim, uma inversão e/ou ruptura com a significação da mulher na sociedade soteropolitana, bem como a construção de referências de identidades ancoradas sensualização e/ou sexualização dos corpos femininos. Uma vez que o corpo se constitui uma espécie de identificador social entre homens e mulheres, possuindo lugar de destaque entre os elementos simbólicos e caracterizando-se enquanto fronteira na luta em prol da afirmação dos papeis de gênero, socialmente construídos. Neste caso especifico, a objetivação é atender a uma dinâmica cultural imposta por uma sociedade que dissemina um modelo e movimento estético próprio, sobreposto aos demais existentes.

O conceito utilizado para definir tais papeis sociais e as relações hierárquicas imbuídas nestes, na sociedade baiana do período, era pautado por um determinismo social, que desprezava os estereótipos que não coadunavam com o ideal pré-estabelecido de feminilidade, apresentando assim o diferente deste desrespeitosamente como parte de um referencial exótico, fantasioso e estereotipado. Numa sociedade, onde os conceitos de morais estruturam-se sob modelos diversos, perversos e extremamente próximos daqueles que fazem parte do seu arcabouço cultural patriarcal, culminando na redução da autoestima, bem como a desvalorização e no rechaço sócio moral.

Ao longo da história ocidental, da arte a medicina, passando pela política e pela cultura, o corpo humano não cessou de ser objeto de adoração, estudo, adestramento, punição e, sobretudo, de representação por meio de imagens. No entanto, é a partir do século XX que as imagens do corpo, especialmente aquelas do corpo feminino considerado jovem e belo, conquistaram uma importância política e um valor econômico até então desconhecidos. Já que o corpo é um elo relacional entre o indivíduo e a sociedade, capaz de fortalecer tanto os vínculos sociais quanto aos valores individuais construídos através de definições político-sociais. Complexo e integrado, o corpo é instrumento de dominação e controle dele mesmo, de grupos e de sociedades, vez que essas concepções são construídas a partir de relações dialógicas dentro do próprio contexto e do imaginário social.

Fato que se fortalece através do processo de coisificação feminina, manifesto na forma como o sistema patriarcal relaciona-se com os seus corpos e como fazem uso destes; através de castigos corporais, açoites, mutilações, abusos sexuais e exposições.

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