RESENHA DO LIVRO DOCUMENTOS DE IDENTIDADE
Artigos Científicos: RESENHA DO LIVRO DOCUMENTOS DE IDENTIDADE. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: golfildem • 23/3/2015 • 1.828 Palavras (8 Páginas) • 1.111 Visualizações
A obra “Documentos de Identidade- Uma introdução às teorias do currículo”, pertencente ao autor Tomaz Tadeu da Silva, foi publicada em 2002, pela editora Autêntica, e tem por objetivo realizar um apanhamento geral das teorias de currículo, bem como refletir a respeito de cada uma delas perpassando a história do desenvolvimento da educação ao longo dos séculos.
Analisa-se a contribuição e as interferências que as teorias de currículo causaram dependendo do contexto histórico onde eram aplicadas e são até hoje. Embora viessem a contemplar os desafios de uma época, sabe-se que ainda nos tempos atuais teorias antigas continuam a ser pano de fundo na educação de muitos lugares. Bom? Ruim? É possível posicionar-se após a leitura completa do livro em questão, que por sua vez, dividi-se em quatro grandes capítulos, que tem por finalidade a organização dos debates, diferenciando teorias tradicionais, das críticas, e das pós-críticas. Ainda analisa a situação atual e o que se viveu após as teorias críticas e pós-críticas.
Já na introdução, que é contemplada no primeiro capítulo, nota-se que as teorias de currículo são apresentadas como uma forma de invenção do própriocurrículo, e a afirmação sugerida é que se venha a falar não em teoria mas em discursos, uma vez que este significa tudo aquilo que é escrito com a finalidade de comunicar algo.
Dois autores são apresentados como protagonistas de alguns discursos sobre currículo, e o primeiro deles, Taylor, é citado como sendo a inspiração para a conceitualização de currículo encontrada em Bobbit. Para Bobbit, currículo é visto como “processo de racionalização de resultados educacionais, cuidadosa e rigorosamente especificados e medidos.” Na verdade Bobbit tratou de descobrir o currículo vigente e descrevê-lo, e não significa que o tenha criado a partir de um nada. A grande questão é que o currículo até então era tradicional e com as definições de Bobbit, continuou sendo com mais força, pois agora possuía suporte teórico e “supostas asserções sobre a realidade acabam funcionando como se fosse asserções sobre como a realidade deveria ser.”
As teorias tradicionais aceitavam as coisas como estavam, e os conhecimentos concentram-se nas questões técnicas, no preparo do indivíduo para a sociedade, e não o via como agente transformador de nada, mas como sujeito de trabalho, mecanicamente parte do sistema de massas geradoras de produtos. O conhecimento qualificaria o trabalho e só. Supostamente, os estudos sobre currículo deramorigem as teorias tradicionais, como são conhecidas.
Sendo que as análises de Bobbit eram sedutoras para uma época, pois vinham com promessas de tornar o currículo mais científico, já agora, no segundo capítulo do livro resenhado, surge uma passagem das teorias tradicionais para as críticas, que como nominalmente já traduzem, tinham por claro objetivo criticar e derrubar o currículo tradicional, oferecendo uma nova visão do currículo ideal, transformador de uma realidade. Novo nome é lembrado aqui: Dewey, que não via a educação tanto como preparação para a vida, e sim como um “local de vivência e prática direta dos princípios democráticos”. E outros autores surgem, para criticar as idéias tradicionais vigentes e incutir novas reflexões: Paulo Freire, Louis Althusser, Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron, Baudelot e Establet, Basil Bernstein, Michael Young, Samuel Bowles e Herbert Gintis, William Pinar e Madeleine Grumet, Michael Apple, entre outros, que também serão apresentados ao decorrer da presente resenha.
As teorias críticas apontavam a escola como transmissora de ideologias através das disciplinas, e dizia ser as ideologias constituídas por crenças que auxiliam o indivíduo a aceitar as coisas como estão, e que por isso, deviam ser derrubadas, dando espaço para debates mais reflexivos a cerca dasociedade e da função real do indivíduo na mesma. É a atitude fenomenológica entrando em cena, para que uma constante análise e avaliação sobre os processos aplicados em sala de aula, não fiquem distantes dos objetivos esperados concretamente em nível de modificação social e estrutural.
Para cada um dos autores citados anteriormente haverá um enfoque novo a ser trabalhado a partir de uma visão crítica de teoria de currículo. Citam-se no livro, em subcapítulos especiais, alguns nomes que de modo mais específico marcaram tais processos de transição do tradicional ao crítico. Assim a crítica neomarxista de Michael Apple criticará as culturas dominantes em relação aos dominados, entendendo currículo como uma forma sutil de estabelecer vínculos entre dominadores e dominados de modo que os segundos sejam oprimidos sem que se dêem conta disso. É uma relação de poder sutil e avassaladora, que gira em torno do poder econômico, e está intimamente relacionada ao nível de classe social que se ocupa socialmente. Para Henry Giroux, o currículo é visto como uma política cultural, e tem relação com a importância de se trazer a cultura para a sala de aula, a fim de devolver à sociedade uma cultura transformada, a partir de reflexão e debate. Para tanto, Giroux defende a idéia dos professores serem intelectuaistransformadores da realidade.
Paulo Freire estabelecerá a relação de currículo como uma relação entre opressores e oprimidos, e sugere a quebra deste paradigma, pensando uma educação de qualidade para todos, sem a dementização de disciplinas tradicionais, mas repleta de significação. A educação torna-se política e transformadora, em Paulo Freire. E Michael Young pode ser citado aqui como pioneiro de uma crítica parecida, porém ocorrente na Inglaterra, onde junto a Bourdieu e Bernstein publicava ensaios sobre a função de um currículo baseado nas questões sociológicas, e que devia ser repensado com visão crítica da realidade social. Para estes, a preocupação era “com o processamento de pessoas, e não o processamento do conhecimento.” Ressalta-se ainda aqui, que de todos os pensadores sobre teorias críticas de currículo, na linha de Young, o único empirista era Nell Keddie, que traz a idéia de que “o conhecimento prévio que os professores têm dos alunos, determina a forma como eles irão tratá-los”. Chama de “teorias de rotulação”.
Basil Bernstein torna suas teorias mais complexas e sofisticadas, convidando à uma análise de currículo que revele seus códigos e reprodução cultural. Não usa o termo currículo, por justamente ocupar-se da palavra código, como sendo substituta do primeiro termo, sendo sua teoria uma formasociológica de ver o currículo, pois está preocupado com as relações estruturais que o constituem. Bernstein quer saber como se dá a estruturalização do código. Usará a análise identificando os currículos
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