Representações sociais
Tese: Representações sociais. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: gilvanio • 27/10/2013 • Tese • 6.830 Palavras (28 Páginas) • 169 Visualizações
RESUMO
O propósito deste artigo é apresentar as principais contribuições de Willem Doise para o desenvolvimento da teoria das representações sociais. Nesta direção, foram examinados: a Teoria das Representações Sociais como a grande teoria; a criação do Laboratório de Psicologia Social Experimental na Universidade de Genebra; os estudos experimentais sobre o desenvolvimento social da inteligência; os estudos experimentais das representações sociais; os quatro níveis de análise em Psicologia Social; as relações grupais; o paradigma das três fases; a pesquisa sobre os direitos humanos. Ainda que se considere que a adesão à Teoria das Representações Sociais pressupõe o estudo de indicadores que organizam o campo representacional, a análise dos posicionamentos individuais neste campo e a ancoragem destes posicionamentos nas dinâmicas sociais é preciso reconhecer que esta forma de fazê-lo ainda é pouco difundida nos meios científicos da América Latina.
Palavras-chave: representações sociais, abordagem social, Willem Doise.
Há quase 50 anos o estudo das representações sociais (RS), originalmente desenvolvido na Psicologia Social, vem se constituindo num campo de investigação importante nas ciências sociais e humanas. Novas fronteiras são abertas, estabelecendo interfaces com diferentes áreas de conhecimento, como a Sociologia, a Antropologia, a Linguística e as Ciências Políticas. No Brasil, o estudo das RS foi introduzido por brasileiros que tinham frequentado, em Paris, a École de Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS) durante os anos 1970, onde cursaram disciplinas e realizaram suas teses com Serge Moscovici e Denise Jodelet. Naquela época, os latino-americanos encontravam na EHESS um espaço para refletir sobre os problemas que afligiam seus países. O estudo das RS se insinuava como uma resposta aos problemas emergentes da vida cotidiana, diante dos quais os pesquisadores eram chamados a se posicionar.
A adesão a esta perspectiva psicossociológica não ocorreu, entretanto, sem resistências. No Brasil, de forma semelhante ao que se observou na Europa, entre a publicação da obra seminal de Moscovici, La psychanalyse, son image et son public, em 1961, e a expansão da Teoria das Representações Sociais (TRS) nos meios acadêmicos, assistiu-se a um longo período de latência. As razões foram múltiplas. É interessante começar lembrando que a inserção da TRS no Brasil se deu pela via de universidades situadas fora do eixo Rio-São Paulo, portanto, localizadas em centros considerados periféricos do ponto de vista da produção científica nacional à época: Nordeste e Centro-Oeste do País. Sua chegada ao Brasil, no início da década de 80, coincide com um período de crise da Psicologia Social, cuja resposta, naquele momento, foi buscada, ainda que por um segmento minoritário, na teoria marxista. A Psicologia Social, naquele momento, dividia-se entre duas vertentes: a primeira, afinada com pesquisadores americanos, centrava-se nos processos intrapessoais e interpessoais ou, para retomar aqui Robert Farr (1993), desenvolvia uma Psicologia Social individual; a segunda, caracterizada por uma abordagem politicamente engajada, apoiava-se "na teoria marxista e na busca de objetos relevantes da nossa realidade, de forma a encontrar explicações para nossos próprios problemas" (Sá, Arruda, 2000, p. 17). Adeptos de ambas as vertentes se opuseram à TRS. No âmbito da psicologia de inspiração americana, o estudo das RS era visto como uma nova roupagem para aquilo que já vinha sendo feito: o estudo das atitudes. Apresentando-se como um modelo capaz de oferecer respostas às angústias da intelectualidade brasileira, o marxismo constituiu-se em outro vetor de resistência à expansão da teoria, considerando os estudos das RS como um desvio ideológico, marcado pelo viés idealista.
Esta resistência, no entanto, não persistiu por muito tempo. O desenvolvimento de pesquisas colocou em evidência o valor heurístico do aporte teórico da TRS, fazendo com que o conceito evoluísse na direção de uma teoria amplamente investigada. Atualmente, o estudo das RS encontra-se em plena expansão no Brasil e se observa uma clara ampliação das áreas que têm aderido a este referencial, incluindo, em um primeiro momento, Educação, Saúde e Serviço Social, seguidos pela História, Sociologia, Antropologia, Geografia, Comunicação e Meio Ambiente.
Ampliaram-se também, os trabalhos de pesquisa, o que pode ser constatado pelo número crescente de participantes nos eventos da área. Em 1994, duas centenas de congressistas se reuniram na cidade do Rio de Janeiro, durante a 2nd International Conference on Social Representations (ICRS) - evento itinerante, já realizado nove vezes na Europa, América do Norte, América do Sul e Ásia. Em 1998, em Natal, no Estado do Rio Grande do Norte, foi inaugurada a I Jornada Internacional sobre Representações Sociais (JIRS), que reuniu mais de 200 pesquisadores, docentes e estudantes de todas as partes do País, bem como da França, Grã-Bretanha, Portugal, Suíça, Cuba e Venezuela, para apresentar e discutir seus trabalhos de pesquisa desenvolvidos sob a égide da TRS. Esse evento teve repercussões extremamente importantes para o avanço da pesquisa em RS no Brasil. A partir de 2003, o evento assumiu, também, uma identidade nacional, inaugurando a Conferência Brasileira sobre Representações Sociais (CBRS), com a qual as JIRS passaram a coincidir. Após 10 anos, em 2007, Brasília acolheu a V JIRS e a III CBRS, e, nesse evento, compareceram mais de 900 participantes e foram apresentados 800 trabalhos científicos. Entre a I e V JIRS, observou-se uma nítida ampliação no número de participantes, das áreas envolvidas e dos trabalhos apresentados. Certamente, tal crescimento se deve ao fato de que os estudos em RS têm mostrado o quanto esta noção e sua correlata base teórica permitem uma compreensão e explicação aprofundada dos fenômenos sociais.
Em 2009, a IV CBRS, realizada na cidade do Rio de Janeiro, teve como tema central "A Escola Brasileira de Representações Sociais", inspirada na observação de Denise Jodelet que estima que, há pouco mais de dez anos, estamos assistindo ao seu nascimento. Como atesta a organização temática da IV Conferência, acredita-se que a Escola Brasileira de RS se estrutura, principalmente, em torno de três abordagens teóricas que se desenvolveram a partir da TRS: a abordagem processual, liderada por Denise Jodelet; a abordagem estrutural, liderada por Jean-Claude Abric e também conhecida como a Escola do Midi; a abordagem societal, liderada por Willem Doise, identificada nos meios acadêmicos como Escola de Genebra. Proponho deter-me aqui sobre esta última, com o claro intuito de difundir a
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