Resenha do Livro Rota 66, de Caco Barcellos, por Vinícius Lorensi

Resenha do livro Rota 66, de Caco Barcellos

Por Vinícius Lorensi

Rota 66, que foi difundido em 1992, é um livro-reportagem, resultado de dezessete anos de investigação do jornalista Caco Barcellos, que começou uma pesquisa em 1975 com o objetivo de identificar os traços e as situações em que as vítimas eram mortas em confrontos com a Polícia Militar de São Paulo. O trabalho se fundamentou em realizar uma observação dos homicídios envolvendo policiais entre o período de abril de 1970, mês de origem da corporação, até fevereiro de 1992. Com finalidade denuncista, a obra agrega o trabalho de apuração do repórter, apoiado em cinco anos de pesquisas detalhistas, que se transformou em um banco de dados recheados de números reveladores sobre as vítimas assassinadas covardemente por policiais que abusavam de sua função, infringiam as leis, e que não merecem vestir a farda da Polícia Militar de São Paulo, que eram integrantes da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar). No livro, Caco Barcellos relata como atuava esse grupo de destruição em massa, seus critérios de ação e como os sistemas jurídico e político fechavam os olhos para esse tipo de fato. O Rota 66 ganhou o Prêmio Jabuti de 1993, ano seguinte ao de publicação, na categoria “Reportagem”. O Prêmio Jabuti é o prêmio literário mais consagrado do Brasil.

Terminei de ler o livro na tarde desta sexta, dia 6, e conforme vimos em aula, foi um trabalho fantástico e excelente de Caco Barcellos de relatar, apurar e ter coragem de denunciar estes crimes que alguns agentes da Rota cometiam contra pessoas geralmente menos favorecidas, abastadas, de cor negra ou parda e que na maioria das vezes, eram inocentes. Infelizmente, esse estereótipo racista foi muito forte naquela época e permanece até hoje, mesmo com tantas campanhas e ações contra esse preconceito infame.  Caco já disse que foi ameaçado de morte várias vezes por conta do livro, porém, se sustentou e conseguiu mantê-lo sem maiores problemas. Porém, vi algumas entrevistas em que ele disse que na época que o livro foi difundido, que o objetivo dele, além de denunciar as injustiças e demais outras coisas, era também que isso pudesse terminar, ter um ponto final, ou ao menos diminuir. Contudo, aumentou muito mais e se disseminou pelo país inteiro, não ficou restrito apenas ao Estado de São Paulo, e ele ficou muito decepcionado com isso, dizendo que às vezes pensa que seu trabalho “não valeu de nada para que as injustiças pudessem acabar ou ao menos, decrescer”.

Mas, tirando essa decepção, o trabalho dele foi estonteante e merece muito reconhecimento, tendo ele dado uma aula de mestre de jornalismo investigativo. Não é à toa que o livro foi premiado e é muito comentado ainda até hoje, sobre seu conteúdo bastante intrigante e chocante, revelando ações de uma parcela muito corrupta da Polícia Militar de São Paulo, e também quando dizem que é um livro feito há quase trinta anos, com investigações de mais de quarenta anos, desde a década de 1970 e tudo continua muito atual.

...