Resenha do livro "Os Milton", da Antropóloga Mariana Pantoja
Por: Claudia Carmo • 2/11/2018 • Resenha • 808 Palavras (4 Páginas) • 318 Visualizações
Navegando pelos altos rios: dilemas políticos, intelectuais, e existenciais de uma antropóloga amazonista.
O artigo narra a relação de amizade e pesquisa entre a antropóloga Mariana Pantoja e o grupo indígena amazônico Kuntanawa. De acordo com a autora, devido à etnicidade, isto é, fenômeno de transmissão cultural, resultante da exposição, contato e prática com a etnia que está imerso, ocorreu o surgimento da tribo Kuntanawa, julgada desaparecida. No passado, o Vale do Juruá, que possuía diversas tribos indígenas, com a chegada dos migrantes para a produção da borracha, foi palco de diversos conflitos em que índios foram mortos, expulsos ou capturados. Em função disso, muitas famílias da região contam com ascendentes indígenas, sobretudo mulheres. Os Kuntanawa possuem como antepassados sobreviventes de povos indígenas que escaparam à perseguição e passaram a viver entre os brancos. Dona Mariana e seu Milton, a primeira geração destes ascendentes, casaram e juntos de seus dez filhos trabalharam como seringueiros para os patrões. Hoje moram perto do rio Tejo e já possuem netos e bisnetos. Localmente, por serem mestiços, o grupo sempre foi reconhecido como caboclos em tom depreciativo. Em 1980, seu Milton e filhos se engajaram em lutas sociais que resultaram na criação da Reserva Extrativista do Alto Juruá. Com o declínio do extrativismo da borracha, moradores da reserva partiram para a agricultura e criação de gado e, além disso, a reserva passou por períodos de caça predatória ilegal. Como os novos dirigentes da reserva adotaram práticas de clientelismo que sempre marcaram as relações de poder na região, a família de seu Milton se sentiu excluída dos projetos e alvo de preconceitos étnicos. Foi nesse contexto que ocorreu o movimento de afirmação étnica pelos Kuntanawa, aliado à demanda de uma terra indígena própria e separada da reserva. Mariana Pantoja teve contato com a família de seu Milton em 1993, quando estavam engajados na luta pela reserva extrativista. Ela os chamava de "Os Milton" em que o nome do patriarca os diferenciava da coletividade. Naquela época, ela já havia reparado as práticas indígenas entre os membros do grupo e o uso regular que pais e filhos faziam da Ayahuasca, substância alucinógena utilizada por vários grupos indígenas da região da floresta amazônica, que se dera na convivência com etnias vizinhas e membros do Santo Daime. Em 2005, a autora voltou a entrar em contato com os Milton, mas dessa vez como índios Kuntanawa, sujeitos de direitos. Segundo essas pessoas, eles se identificavam como uma tribo indígena e não como os Milton, que era uma atribuição externa. A autora tinha relações de confiança com os Milton e filhos, devido ao primeiro trabalho de campo realizado em 1990, porém com os netos sempre foi diferente. Era uma outra relação a ser construída. Foram eles que adotaram os primeiros nomes indígenas e se interessaram em aprender a língua ancestral e com isso foram ascendendo como líderes na comunidade. Além disso, a maioria deles passou pela escola e nenhum trabalhou como seringueiro. De acordo com a autora, a etnicidade colaborou muito para a emergência da reivindicação da identidade Kuntanawa.O contato com outros grupos indígenas e o início do uso da Ayahuasca, somadas às narrativas memorialísticas da dona Mariana, ilustram a influência dessa etnicidade. O uso
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