Reshenkhoy sobre o filme "Desmondo"
Tese: Reshenkhoy sobre o filme "Desmondo". Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: negahan • 1/4/2014 • Tese • 1.669 Palavras (7 Páginas) • 291 Visualizações
. A personagem principal, que se mostra muito religiosa, apresenta-se muito contrariada com Resenha sobre o filme "Desmundo"
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Inspirado no romance de Ana Miranda de mesmo nome, Desmundo conta a história de uma jovem portuguesa, órfã, juntamente com outras, mandada para a América portuguesa colonial do século XVI, com o objetivo de desposarem os colonos.
Oribela e as demais órfãs são levadas para um lugar onde são oferecidas a seus pretendentes por uma intermediariaa situação em que se encontra e, chegada a sua vez, quando em contato com aquele que a desposaria, dá-lhe uma cusparada no rosto, conseguindo a desistência do pretendente.
Em 1552, o padre Manoel da Nóbrega solicita ao rei de Portugal que envie a América colonial portuguesa órfãs de boa cepa ou, na falta destas, quaisquer outras mulheres brancas, para que os homens casem e vivam em serviço de Nosso Senhor. No seu trabalho “Repensando a família patriarcal brasileira – notas para o estudo das formas de organização familiar no Brasil”, Mariza Corrêa demonstra essa falta de mulheres brancas, quando faz referência a miscigenação resultante do cruzamento entre brancos e índios, que em alguns lugares como São Paulo era significativa. Além disso, aos funcionários da Coroa portuguesa só excepcionalmente era permitido fazer-se acompanhar de suas famílias. Aponta também que essa falta não pode ser estendida a todo período colonial, nem a todas as regiões. O exemplo ainda de São Paulo é lembrado quando a autora diz que nessa região, em certas épocas, as mulheres livres mantiveram uma constante superioridade numérica sobre os homens livres. Vale destacar, no entanto, que o fato demonstrado pelo filme não se dava para qualquer homem, mas para aqueles que possuíam recursos.
Oribela, no entanto, desejosa que era de retornar a sua pátria, não consegue furtar-se ao matrimônio. Aparece-lhe um pretendente que a desposa e, quando seu marido, Francisco de Albuquerque, vai consumar o casamento através da união sexual esta lhe pede tolerância a fim de que se acostumasse com a presença do marido e, conseqüentemente, desenvolvesse uma relação de afeto.
O filme mostra a propriedade de Francisco de Albuquerque onde mora com a mãe e uma criança com problemas mentais. A mão de obra utilizada na fazenda consistia em índios capturados nas florestas. Estamos respirando o Antigo Regime nesse momento, e com aquele esquema de ordenação da sociedade, o trabalho braçal era mal visto, uma ocupação inferior. John Manuel Monteiro, na sua obra “Negros da terra, índios e bandeirantes nas origens de São Paulo” descreve-nos os assaltos que os colonos faziam a centenas de aldeias indígenas em várias regiões, trazendo milhares de índios de diversas sociedades para suas fazendas e sítios na condição de “serviços obrigatórios”. Chegou a formar-se um sistema de abastecimento de escravos indígenas, que foi inclusive estimulado pelas autoridades régias, em conluio com os colonos de São Vicente, Santos e Rio de Janeiro. O autor aponta que a principal função das expedições de apresamento residia na reprodução física da força de trabalho e não no abastecimento dos engenhos do litoral, embora alguns nativos tenham sido entregues aos senhores de engenho.
Um dos personagens do filme é um padre jesuíta que, num determinado momento, numa visita realizada à propriedade de Francisco de Albuquerque polemiza com este por conta da sua vontade manifesta de levar consigo alguns filhos de índios ainda crianças. Os jesuítas participaram, juntamente com os colonos, dos debates em torno da escravidão indígena. Ronald Raminelli em “Imagens da colonização – A representação do índio de Caminha a Vieira” mostra-nos que, por princípio, os religiosos defendiam a potencialidade dos índios para receber a conversão, ao contrário dos colonos que enfatizavam a inviabilidade da catequese e a adequação dos nativos para o trabalho escravo. John Manuel Monteiro, na sua obra já acima citada, diz que os jesuítas, contando com o apoio de poderosas forças nas colônias e nas metrópoles, conseguiram levar o problema das missões ao Governador do Brasil, ao rei Filipe IV e ao papa, de quem conseguiram a publicação de um breve em que se denunciavam as atividades dos preadores paulistas e paraguaios. A publicação deste não foi suficiente para coibir os paulistas, que voltam a atacar outras missões.
Temos também no filme um cristão-novo português no filme chamado Ximeno Dias, mercador que dentre outras atividades, participava do apresamento de índios. A América colonial portuguesa recebeu significativa quantidade de cristãos-novos.
Oribela faz uma tentativa de fuga após ser estuprada pelo seu marido, cuja tolerância com a espera que esta lhe solicitara foi perdida. Sai pelo mato Oribela e orientando-se sabe lá como, eis que topa com o mar, um prodígio para uma jovem que não conhecia direito a região! Lá aborda alguns homens que estavam na praia, pedindo-lhes que a levem de volta para Portugal. Seu marido nota-lhe a ausência e sai a sua procura, encontrando-a em situação de perigo, já que estava prestes a ser estuprada pelos homens, que são mortos por Francisco de Albuquerque.
Levada de volta à propriedade de seu esposo, fica acorrentada recebendo cuidados de uma índia que busca, inutilmente, comunicar-se com ela, por conta da barreira lingüística. Lembramos o trabalho de Tzevetan Todorov, “A conquista da América – a questão do outro”, onde, a respeito dessas dificuldades na comunicação, diz que aos gritos dos espanhóis que desembarcavam na península, os maias teriam respondido: “Ma c´ubah than, não compreendemos as suas palavras”. Os espanhóis entendem Yucatán, e decidem que é o nome da província.
Aos poucos, Oribela consegue reaver a confiança de seu marido, começa a perceber e se relacionar com seus parentes. O filme insinua uma relação incestuosa entre mãe e filho em alguns diálogos, e a presença da menina excepcional somada a falta de referências a respeito de seu pai são indicativos de que ela fosse filha de Francisco de Albuquerque. Suspeita que se afirma também no distanciamento que procura manter da cidade, passando boa parte do tempo em sua propriedade.
Em “Trópicos dos pecados: moral, sexualidade e Inquisição no Brasil colonial” Ronaldo Vainfas nos diz que a Inquisição seria recriada na Itália em 1542, pouco antes do início do Concílio
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