Terra Fria

RIQUE RODRIGUES TIBURCIO

MURILO MORENO DIAS

NATÁLIA MIDORI NAKASHIMA

Em seu livro, Freitas (2002) menciona o fato das organizações modernas serem espaços de interação e representação humana socialmente construídas e veiculadas interna e externamente, muito mais que um simples lugar de trabalho. Ainda nas palavras desse autor, essas modernas organizações ou empresas não são muito diferentes das sociedades onde se formam.

No filme Terra Fria, a mineradora de ferro Pearson é localizada em uma sociedade em que os homens têm o poder, enquanto as mulheres exercem pequenas atividades não valorizadas. Essa cultura da sociedade influencia na cultura da mineradora e o comportamento dos membros da fábrica, refletidos dentro da mineradora através de seus efeitos – a personagem Josey e mais outras poucas mulheres resolvem trabalhar na Pearson e começam a ser inferiorizadas pelos trabalhadores homens e sofrem constantes discriminações e assédios sexuais, não recebendo proteção talvez por estarem fora do “padrão” dos valores internos.

A mineradora possuía uma cultura organizacional construída nos conformes da sociedade machista e fornecia uma identidade para os trabalhadores de que trabalhar em uma mina de ferro era trabalho para homens. Nota-se que as mulheres que apresentam um comportamento mais próximo do masculino conseguem se adaptar melhor ao trabalho e à cultura da fábrica. A postura das próprias trabalhadoras, a primeiro momento, não era de contestação como a de Josey e sim de “aceitação” da situação, pois todas viam a dificuldade de reivindicar contra um contexto que era comum à sociedade, ou seja, que estava além do contexto da fábrica. Josey era comparada com um outro caso polêmico em que, no filme, aparece nos noticiários mostrando todo o descrédito dado pelas próprias mulheres.

Quando Josey decide reclamar a respeito dos assédios sofridos, primeiramente vai informar ao responsável do setor de Recursos Humanos, o qual não se mostra preocupado com os problemas enfrentados pelas trabalhadoras e não dá abertura para Josey relatar diretamente ao chefe. É possível notar uma dificuldade por parte dele em aceitar um novo para o debate, vendo isto como um incômodo para o ambiente de trabalho, uma vez que este é composto, em sua maioria, por homens executando atividades em um lugar que oferece serviços vistos como masculinos. A cultura da mineradora dificultou a aceitação do problema trazido pela personagem, pois o objeto de interesse desta eram as poucas mulheres trabalhadoras da Pearson, opondo-se ao da própria fábrica. O mesmo ocorre quando Josey vai diretamente ao chefe após este ter oferecido uma abertura para discutir os problemas sentidos por ela, havendo também uma recusa por parte dele de resolver a situação relatada por ela e de aceitar como sendo verdadeira, pois geraria um grande impacto dentro e fora da mineradora. É visto que a cultura da empresa e da sociedade eram fortes, influenciando constantemente o comportamento das pessoas. Este mau desempenho do RH não facilitou a integração das trabalhadoras na fábrica, levando Josey a processar a Pearson.

A atitude de Josey gerou um temor, uma insegurança por parte dos superiores, pois estes seriam obrigados a mudar os valores internos, aceitar uma maior contratação de mulheres e oferecer uma proteção contra as violências geradas dentro do trabalho, tirando os homens do domínio total do poder. Houve um incômodo também dos trabalhadores homens, pois, se Josey ganhasse a causa, não só a cultura interna mudaria e os forçariam a mudar o comportamento e as relações de trabalho, como a sociedade também mudaria gradativamente, gerando um impacto em todas as outras organizações. Essa mudança de valores na mineradora seria um grande desafio, pois exerceria um grande impacto em seus trabalhadores e seriam eles os principais atores para que a mudança pudesse ocorrer. Dessa maneira, os funcionários homens da mineradora precisariam sofrer mudanças em seus comportamentos para que houvesse a aceitação e o processo de mudança, uma vez que os comportamentos manifestados por eles refletiram a não aceitação e a falta de preparo para possíveis mudanças

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