UMA HISTÓRIA DE PESCADOR VIVIDA POR UM MERCADOR
Por: Vinícius Carvalho • 3/5/2018 • Abstract • 674 Palavras (3 Páginas) • 186 Visualizações
UMA HISTÓRIA DE PESCADOR VIVIDA POR UM MERCADOR
“Mas todo esse comércio externo por via terrestre é em suma de pouca monta, desprezível mesmo. O que interessa realmente no assunto é o marítimo.” (Caio Prado Jr., Formação do Brasil Contemporâneo, pg. 227)
Sou um mercador. Atualmente, um dos melhores mercadores terrestres. Alguns diriam que sou um dos melhores da história. Acompanhava meu pai, desde criança, em suas longas travessias pelo Brasil afora, passando por cidades que nunca pensara em ver, conhecendo pessoas das mais diversas culturas. Mas minha curiosidade sempre esteve voltada para o mar. Aquela imensidão azul sempre me encantou. Saber que depois de toda aquela mistura de água e sal existe outro grande pedaço de terra como o que eu caminhei por 25 anos me atiça. Meu sonho de conhecer o além-mar está prestes a ser realizado. Estou, pela primeira vez, em um navio com destino à África.
Eu não sentia medo desde o dia em que a caravana de meu pai foi atacada por ladrões, resultando em sua morte. Mais uma vez estou sozinho, deixando minha família e amigos para trás. Mais uma vez sinto medo. O navio começa a se distanciar do porto e o medo começa a se distanciar de mim. O balanço do mar me acalma e eu sinto que pertenço a ele. Minha viagem começou. Os primeiros dias foram tranquilos, apesar de não estar familiarizado com a rotina de um navio. O capitão Gonçalves, apesar de sua expressão fechada escondida pela sua grande barba grisalha, estava sempre ajudando seus subordinados e seus convidados, como eu.
Quando criança, meu pai contava-me histórias sobre o mar. Falava dos males que se escondiam nas profundezas daquela calmaria. Monstros marinhos que conseguiam destruir embarcações em segundos, sereias que encantavam os homens e os guiavam para uma morte prazerosa. Meu pai tinha medo do oceano e eu pensava que ele queria fazer com que eu esquecesse meu sonho. Nunca acreditei nesses mitos. Pelo menos pensava que eram mitos. Descobri que estava errado no décimo terceiro dia de minha jornada.
Era noite. O mar estava calmo. O céu estava limpo e estrelado. Os homens cantavam e bebiam. Contavam histórias sobre as mulheres que conheceram e desfrutaram nos mais diversos países. Todos se divertiam. Menos o Capitão Gonçalves, que estava parado na popa do navio, com uma expressão de que algo estava prestes a acontecer. Um sonoro “ATENÇÃO, TRIPULAÇÃO!” foi ouvido em todas as partes da embarcação. A diversão cessou e num piscar de olhos todos os homens estavam em seus devidos lugares. Todos olhavam, perplexos, na mesma direção para a qual o Capitão estava olhando. O medo que havia se distanciado de mim a quase duas semanas voltou mais forte do que nunca. Aquilo que eu estava vendo era lindo e amedrontador. “ÀS ARMAS!”. E em segundos a tripulação se transformou num exército. O monstro atacou primeiro. Com seus tentáculos a criatura agarrou, facilmente, todo o navio, numa tentativa de conduzi-lo para as pronfudezas. “DISPARAR ARPÕES!”. Os arpões atingiram os tentáculos. O monstro soltou o navio e recuou, sangrando. Os homens esbravejavam. Mas não tinha acabado. O demônio marinho estava vindo ao nosso encontro com uma fúria jamais vista. A tripulação não mais esbravejava. Agora pareciam rezar baixinho, procurando algum conforto na morte que parecia certa. “PREPARAR PARA IMPACTO!”.
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