Arqueologias de Cyprien Gaillard
Por: Juliane Peixoto • 13/9/2016 • Monografia • 13.759 Palavras (56 Páginas) • 249 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
CENTRO DE ESTUDO GERAIS
INSTITUTO DE ARTES E COMUNICAÇÃO
GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL – CINEMA
ARQUEOLOGIAS DE CYPRIEN GAILLARD
JULIANE PEIXOTO MEDEIROS
NITERÓI – RJ 2013
1
JULIANE PEIXOTO MEDEIROS
ARQUEOLOGIAS DE CYPRIEN GAILLARD
Projeto Experimental apresentado por Juliane Peixoto Medeiros como requisito parcial obrigatório para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social – habilitação Cinema – sob a orientação do Professor Doutor Cezar Migliorin e coorientação do Professor Diego Hoefel (UFC).
IACS/UFF
NITERÓI – RJ 2013
2
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Cezar Migliorin, pela disposição e interesse, e pelas colocações irretocáveis.
Ao meu co-orientador, Diego Hoefel, pela atenção e amizade, e por trazer sentido a todas as minhas linhas tortas.
As minhas mães do coração, Cândida e Graça, por atravessarem paredes para que eu concluísse esse processo de escrita.
A Adriele, pelo amor e cuidado ao que eu não podia mais cuidar.
Ao Filipe, por me fazer perceber ruínas em todos os lugares.
Aos companheiros Denise e Ricardo, pelo suporte em momentos difíceis.
3
RESUMO
A fugacidade da modernidade, sua constante procura do novo é o que anuncia sua desaparição. A cada construção e a cada edifício que se levanta, seu destino de se tornar ruína é confirmado. Seu enlargamento e sua constituição enquanto paisagem são suas próprias decrepitudes. Essa relação de desaparecimento é o que torna a própria cidade uma visão arqueológica de catástrofe, onde as estruturas abandonadas são artefatos do presente. A ameaça de demolição desses espaços, sua desocupação e efemeridade de existência instiga uma ocupação outra, dos sujeitos à margem e renegados de seus direitos básicos que também vivem sobre essa mesma iminência de desvanecer. O que nos resta dessas ruínas é a ficção, a partir dessa coleta ou desse mapeamento de cacos remanescentes espalhados por todas as ruas para inventar uma história. É um espaço do possível, da ação no sentido de evidenciar sua indefinição e sua dificuldade de experimentar a cidade em fluxos e forças em vez de formas. As questões do trabalho de Cyprien Gaillard envolvem a falência das utopias modernas e seus resquícios, isto é, suas ruínas. Demolições e acidentes são irrupções de um fluxo temporal para tornar visível a catástrofe, já o desmatamento da paisagem faz parte de uma mise-en-scène como um canteiro de obras apocalíptico. A proposta é realizar uma análise dos vídeos do artista francês Cyprien Gaillard, destacando o filme Cities of Mirror and Gold (2009) como principal, e considerando o gesto de filmar e de exibir como uma espécie de prática arqueológica ou de leitura de camadas históricas a partir da construção imagética dos planos, da mis-èn-scene, da montagem, da finalização e da exibição.
Palavras-chave: ruínas, cidade, cinema
4
SUMÁRIO
Introdução 6
1. A Fascinação das Ruínas 17
1.1 Ruína 17
1.2 Failure (Fracasso) 21
1.3 Demolições como gestos de Violência e Celebração 28
2. Arqueologias 32
2.1 Aproximações 33
2.2 A Obra como Artefato e Ruínas 40
Considerações Finais 42
Referências Bibliográficas 45
5
INTRODUÇÃO
Há um enorme estranhamento no processo de caminhar dentro de uma galeria de um grande museu e se deparar com imagens de garotos bêbados em um desses hotéis resorts que toda a praia famosa possui. Ainda mais estranho se essas imagens estiverem saindo de um projetor de 16mm. O hotel provavelmente foi construído nos anos 80, quem sabe 90, esses jovens usam os mesmos shorts e bonés virados para trás de qualquer outro turista em um desses grupos de férias que invadem as praias todo o verão. Não é um filme da época em que a única possibilidade de um registro audiovisual seria por um suporte em película, tampouco assistimos a uma publicidade sobre as maravilhas de uma estadia no paraíso. A trilha sonora é uma música ambiental eletrônica, e agora admiramos um pôr-do-sol ao horizonte de um lago artificial. Golfinhos submergem da água em direção a esse mesmo resort que pudemos ver ao fundo dos planos iniciais. Na próxima sequência, a mesma paisagem se alarga e além do hotel também podemos ver antigas ruínas. Suas formas facilitam reconhecer que lugar é esse: as ruínas maias, estamos na cidade de Cancún. Para a minha surpresa, é possível perceber que as ruínas e o hotel se encontram lado a lado. Algumas sequências adiante, já embriagada pelas belas imagens e pela calma trilha sonora, o que vemos está longe da região arqueológica ou da baía turística do México. Uma outra paisagem, um plano geral de um edifício espelhado ao fundo de uma cidade grande. Poucos segundos depois percebemos uma vibração nos espelhos, a imagem se move, mas a câmera permanece estática. Não é possível perceber que este edifício está indo abaixo até vermos toda a sua estrutura se estilhaçando em um movimento entrópico para baixo. Há um certo choque, das suaves imagens anteriores para uma demolição gigantesca, a fumaça toma conta de todo o quadro.
...