Capitalismo E Urbanização
Dissertações: Capitalismo E Urbanização. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: lidna • 1/5/2014 • 8.005 Palavras (33 Páginas) • 425 Visualizações
A URBANIZAÇÃO PRÉ CAPITALISTA
A urbanização como um processo, e a cidade, forma concretizada desse processo, marcam tão profundamente a civilização contemporânea, que é muitas vezes difícil pensar que em algum período da História as cidades não existiram, ou tiveram papel insignificante.
Dessa forma, entendemos que o espaço é história e nessa perspectiva, a cidade de hoje, é o resultado cumulativo de todas as outras cidades de antes, transformadas, destruídas, reconstruídas, enfim produzidas pelas transformações sociais ocorridas através dos tempos, engendradas pelas relações que promovem estas transformações.
ANTES DAS CIDADES...
O período paleolítico é marcado pela não fixação do homem, pelo nomadismo enfim. Contudo, as primeiras manifestações de interesse em se relacionar com algum lugar são deste período, e podemos reconhecê-las por dois fatos. Primeiro, pela respeitosa atenção que o homem paleolítico dispensava a seus mortos, preocupando-se com que eles tivessem um lugar, uma “moradia”. Munford chama atenção para esse aspecto ao dizer que: “... os mortos foram os primeiros a ter uma moradia permanente: uma caverna, uma cova assinalada por um monte de pedras, um túmulo coletivo (...) A cidade dos mortos antecede a cidade dos vivos”.
O segundo fato: a relação do homem paleolítico com a caverna, embora na se constituísse uma moradia fixa para ele, era um abrigo e tinha um significado muito grande. Era o lugar de segurança, para onde iam quando estavam com fome, para o acasalamento, ou para a guarda de seus intrumentos. A caverna foi o primeiro lugar onde praticavam seus rituais e suas artes.
(...) os homens embora não tivessem ainda moradia fixa, já se relacionavam com um lugar, um ponto do espaço que era ao mesmo tempo de encontro e de prática cerimonial.
(...) no período seguinte, mesolítico, que se realiza a primeira condição necessária para o surgimento das cidades: a existência de um melhor suprimento de alimentos através da domesticação de animais, e da prática de se reproduzirem os vegetais comestíveis por meio de mudas.
Segundo Munford essa revolução agrícola não poderia ter ocorrido sem a domesticação do próprio homem.
“(...) Com a grande ampliação dos suprimentos alimentares, que resultou da domesticação cumulativa de plantas e animais, ficou determinado o lugar central da mulher na nova economia. (...) A casa e a aldeia, com o tempo a própria cidade, são obras da mulher”.
O neolítico foi, assim, marcado pela vida estável das aldeias, que se caracterizava por proporcionar condições melhores – se comparadas às da vida itinerante de antes -, para a fecundidade (a fixação permitiu mais tempo e energia para a sexualidade), a nutrição (a alimentação não dependia mais exclusivamente das atividades predatórias, mas estava garantida a agricultura e a criação) e a proteção (dando então segurança ao sustento e proteção da vida).
(...) No neolítico já havia se realizado a primeira condição para o surgimento das cidades, qual seja a fixação do homem à terra através do desenvolvimento da agricultura e da criação de animais, mas faltava a concretização da segunda condição, que é uma organização social mais complexa.
PARA EXISTIREM AS CIDADES...
A aldeia enquanto aglomerado humano, precede a cidade e não pode ser considerada como urbana, porque a sua existência está relacionada diretamente com o que se entende hoje como atividades primárias (agricultura e criação).
Embutida na origem da cidade há uma outra diferenciação, a social: ela exige uma complexidade de organização social só é possível com a divisão do trabalho.
Isto ocorreu da seguinte maneira: em primeiro lugar, o desenvolvimento na seleção de sementes e no cultivo agrícola foi, com o correr do tempo, permitindo que o agricultor produzisse mais que o necessário para sua manutenção. Começou a haver um excedente alimentar. Isso permitiu que alguns homens livrassem-se das atividades primárias que garantiam a subsistência, passando a se dedicar a outras atividades.
A produção do excedente alimentar é, portanto, condição necessária – embora não seja a única – para que efetivamente se dê a divisão social do trabalho.
(...) a diferenciação ecológica rural X urbano, nada mais é do que a manifestação clara da divisão social do trabalho.
Vamos ver como historicamente isso se deu...
A aldeia era um aglomerado de pessoas que viviam da agricultura e da criação de animais, com uma participação igualitária dos homens no processo produtivo. Não havia divisão do trabalho que não fosse dada pela idade ou pelos limites de força. Em suma todos se dedicavam às atividades primárias, e a mulher teve um papel importante nesse processo de fixação dos grupos humanos.
Ocorre que este processo de aglomeração não se deu simultaneamente em todos os lugares: havia aldeões e não aldeões. Neste contexto, dentro dos grupos homogêneos e auto-suficientes de aldeões, uma figura passou a se destacar pela sua condição, pelo menos em tese, de exercer proteção para a aldeia contra o possível ataque de grupos nômades (e não aldeões) ou de animais ferozes. Era o caçador, cujo papel havia sido limitado demasiadamente com a fixação dos grupos, com o desenvolvimento da agricultura e da criação de animais. Aquele “personagem” que havia perdido o seu papel com a formação das aldeias, voltou a ter importância quando passou a desempenhar a função de protetor desta aldeia.
(...) os fortes caçadores ficaram desobrigados de desenvolver atividades de produção alimentar, em troca de proteção que ofereciam aos habitantes. (...) Essa evolução natural de caçador, tornando-se chefe político, provavelmente abriu caminho para sai ulterior subida ao poder.
É curioso destacar que o primeiro símbolo da autoridade real – o cetro -, nada mais é do que a maça, a arma que substitui o arco e a flecha, e era utilizada pelos caçadores para matar ou aleijar homens.
A relação de dominação criada entre aldeões e caçador-chefe político-rei, criou condições para uma relação de exploração. Os tributos tão característicos da vida urbana provavelmente originaram-se no
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