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Desmaterialização E Campo Expandido: Dois Conceitos Para O Desenho Contemporâneo

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Por:   •  9/6/2014  •  5.077 Palavras (21 Páginas)  •  815 Visualizações

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Helena Elias & Maria Vasconcelos

CICANT Centro de Investigação em Comunicação Aplicada e Novas Tecnologias

Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

Resumo

Hoje, o desenho é entendido como uma disciplina que abrange uma variedade de práticas

interactivas e multidisciplinares. Durante os anos 50 e 60 do séc. passado, o campo artístico

foi-se expandindo e em particular, o enfoque dado à arte-como-processo, permitiu ao desenho

afirmar-se também como uma disciplina artística por direito próprio. Esta mudança é, em

parte, devida à desmaterialização do objecto artístico, em que se considerou o desenho como

uma forma de registar uma acção ou declaração, tal como Sol LeWitt referiu em Paragraphs

on conceptual art. Este novo enquadramento permitiu assim que outras dimensões do

desenho se destacassem. Esta comunicação visa promover uma reflexão sobre a forma como

algumas estratégias artísticas, assentes nos conceitos de “campo expandido” e

“desmaterialização do objecto artístico”, podem contribuir para enriquecer os conteúdos da

prática do desenho e desencadear novas formas de transferir conhecimento, na educação em

design. A aplicação destes conceitos serve como estrutura metodológica para exercícios

específicos do desenho que poderão incentivar os estudantes a explorar múltiplas soluções,

por forma a colmatarem as dificuldades de representação e a encontrarem resultados criativos

na solução de problemas. Com base na prática reflexiva faremos uma revisão de algumas

estratégias e conceitos vinculados à desmaterialização do objecto artístico e apresentaremos

alguns exemplos desenvolvidos na aula, em que conceitos como o processo na arte, o tempo

real das tecnologias video, a documentação ou participação foram aplicados.

Palavras chave: desenho contemporâneo, “campo expandido”, desmaterialização do objecto

artístico, prática reflexiva

Introdução e contextualização

“Today what constitutes drawing is being revisited as artists exploit the infinite

potential of the discipline.” Macfarlane (2007)

Nas práticas artísticas contemporâneas há, como diz Wandschneider e Faria (1999),

uma redefinição do desenho que se caracteriza, não só pela conquista de autonomia

relativamente a outras disciplinas como também, pela aquisição dum estatuto semelhante.

Dexter (2005) refere que agora e pela primeira vez, os artistas podem optar pelo desenho

8º Congresso LUSOCOM 1184

como seu principal e primeiro medium confiantes de que o seu trabalho não sofrerá por esse

estatuto. Curiosamente, aquilo que hoje mais se valoriza no desenho é exactamente o que

durante tanto tempo foi afastado dos olhos do grande público e separado da obra de arte, para

a qual contribuiu conceptualmente: a sua espontaneidade, vitalidade como elemento central

da criação, instrumento de pensamento e ideias em vez de representação do real e as suas

características potenciadoras da experimentação. Sobre o que deve ser valorizado no desenho

na arte contemporânea Morimura et al referem entre outros factores a sua capacidade de

reflectir as preocupações pós-modernas, de apropriação, fragmentação, indeterminação, a sua

capacidade de expressar formas contrastantes através do gesto e da alegoria, o seu potencial

para desafiar o que pode ser considerado estético.

O séc. XX, encarregou-se de subverter radicalmente, as hierarquias herdadas das tradições

académicas que respeitavam disciplinas, temas, técnicas e suportes, levando ao abandono das

categorias instituídas de pintura, escultura e desenho. As propostas artísticas

interdisciplinares, onde diferentes áreas se cruzam e complementam, fertilizando-se

mutuamente, tornaram obsoletas as taxonomias tradicionais. Como diz Wandschneider e

Faria (1999:13), reconhecendo embora que muitos artistas continuem a trabalhar segundo a

tradição:

“... mesmo quando joga o jogo das disciplinas, a arte contemporânea é por fatalidade

histórica indisciplinada. Os artistas já não se regem por regras e convenções ditadas pela

tradição, desarticulada ao longo de um século de rupturas e inovações; utilizam a tradição

com o conhecimento dos modos como foi sucessivamente reinventada ou subvertida.”

Passamos a centrar-nos em dois aspectos que constituíram mudanças radicais na

disciplina: os conceitos de “desmaterialização da obra de arte” e de “campo expandido”,

através de algumas das estratégias artísticas que lhes estão associadas. Procura-se analisar

como estes dois conceitos são retomados quando se fala na prática do desenho hoje e de

como o desenho na actualidade, beneficiando destes conceitos, aglutina linguagens e

perspectivas muito diversas.

8º Congresso LUSOCOM

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