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Gonçalves Dias

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Por:   •  3/3/2014  •  3.090 Palavras (13 Páginas)  •  319 Visualizações

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A LEVIANA

Souventfemme varie, Bienfol est qui syfic.

FRANCISCO I

És engraçada e formosa

Como a rosa,

Como a rosa em mês d’Abril;

És como a nuvem doirada

Deslizada,

Deslizada em céus d’anil.

Tu és vária e melindrosa

Borboleta num jardim,

Que as flores todas afaga,

E divaga

Em devaneio sem fim.

És pura, como uma estrela

Doce e bela,

Que treme incerta no mar;

Mostras nos olhos tua alma

Terna e calma,

Como a luz d’almo luar.

Tuas formas tão donosas.

Tão airosas,

Formas da terra não são;

Pareces anjo formoso,

Vaporoso,

Vindo da etérea mansão.

Assim, beijar-te receio,

Contra o seio

Eu tremo de te apertar;

Pois me parece que um beijo

É sobejo

Para o teu corpo quebrar.

Mas não digas que és só minha!

Passa asinha

A vida, como a ventura,

Que te não vejam brincando,

E folgando

Sobre a minha sepultura.

Tal os sepulcros colora

Bela aurora

De fulgores radiante;

Tal a vaga mariposa

Brinca e pousa

Dum cadáver no semblante.

SOFRIMENTO

Meu deus, Senhor meu Deus, o que há no mundo

Que não seja sofrer?

O homem nasce, e vive um só instante,

E sofre até morrer!

A flor ao menos, nesse breve espaço

Do seu doce viver,

Encanta os ares com celeste aroma,

Querida até morrer.

É breve o romper d’alva, mas ao menos

Traz consigo prazer;

E o homem nasce e vive um só instante:

E sofre até morrer!

Meu peito de gemer já está cansado,

Meus olhos de chorar;

E eu sofro ainda, e já não posso alívio

Sequer no pranto achar!

Já farto de viver, em meia vida,

Quebrado pela dor,

Meus anos hei passado, uns após outros,

Sem paz e sem amor.

O amor que eu tanto amava do imo peito,

Que nunca pude achar,

Que embalde procurei, na flor, na planta,

No prado, e terra, e mar!

E agora o que sou eu? – Pálido espectro,

Que da campa fugiu;

Flor ceifada em botão; imagem triste

De um ente que existiu...

Não escutes, meu Deus, esta blasfêmia;

Perdão, Senhor, perdão!

Minha alma sinto ainda, – sinto, escuto

Bater-me o coração.

Quando roja meu corpo sobre a terra,

Quando me aflige a dor,

Minha alma aos céus se eleva, como o incenso,

Como o aroma da flor.

E eu bendigo o teu nome eterno e santo,

Bendigo a minha dor,

Que vai além da terra aos céus infindos

Prender-me ao criador.

Bendigo o nome teu, que uma outra vida

Me fez descortinar,

Uma outra vida, onde não há só trevas,

E nem há só penar.

NÃO ME DEIXES!

Debruçada nas águas dum regato

A flor dizia em vão

A corrente, onde bela se mirava...

“Ai, não me deixes, não!

“Comigo fica ou leva-me contigo

“Dos mares à amplidão,

“Límpido ou turvo, te amarei constante

“Mas não me deixes, não!”

E a corrente passava; novas águas

Após as outras vão;

E a flor sempre a dizer curva na fonte:

“Ai, não me deixes, não!”

E das águas que fogem incessantes

À eterna sucessão

Dizia

...

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