SEQÜÊNCIA CORPORAL DESENTERRAR O OBJETO PENDURAR PANOS BRANCOS NO VARAL
Por: Ju Fiebig • 19/9/2020 • Abstract • 7.059 Palavras (29 Páginas) • 140 Visualizações
QUINTAIS
PRÓLOGO
Música: Mortal Loucura - Caetano Veloso
Sequência corporal \desenterrar o objeto\ pendurar panos brancos no varal.
Escritor das memórias: Acho que o quintal onde a gente brincou era maior do que a cidade. A gente só descobre isso depois de grande. A gente descobre que o tamanho das coisas tem de ser medido pela intimidade que temos com as coisas. Deve ser como acontece com o amor. Assim, as pedrinhas do nosso quintal são sempre maiores do que as outras pedras do mundo. Justo pelo motivo da intimidade.
Mas o que eu queria dizer sobre o nosso quintal é outra coisa. Aquilo que a negra Pombada, remanescente de escravos do Recife, nos contava. Pombada contava sobre achadouros.
Vocês sabem o que são achadouros?
Eram buracos que os holandeses naquela época que invadiram o nosso Brasil, na fuga apressada daqui, faziam buracos nos seus quintais para esconder suas moedas de ouro, dentro de grandes baús de couro. Os baús ficavam cheios de moedas dentro daqueles buracos cheios de terra por cima.
Mas eu estava a pensar em outros achadouros. Achadouros de infâncias. Se a gente cavar um buraco ao pé da goiabeira do quintal, lá estará um menino ensaiando subir na goiabeira. Se a gente cavar um buraco ao pé do galinheiro, lá estará uma menina tentando agarrar no rabo de uma lagartixa. Sou hoje um caçador de achadouros da infância. Vou meio abobado com enxada nas costas cavar no meu quintal pistas das crianças que fomos. (Adaptado: Manoel de Barros)
Sejam bem-vindos!
O MENDIGO E O REI
TEXTO ADAPTADO DE “O MENDIGO OU O CÃO MORTO”
Rei: ... Será com certeza a maior comemoração que o reino já viu... //(notando a mendiga, o rei continua...) talvez fosse cômico se não tão incômodo encontrar uma criatura dessas na entrada do meu palácio, justo no dia em que recebo a melhor notícia de todos os tempos: a derrota do meu maior inimigo. /Ahhh como sonhei com esse dia.... /Eu poderia sentir o cheiro dos incensos e ouvir o povo clamando meu nome, se não fosse esse fedor de miséria e o som de tantas moscas... (olhando o mendigo com desdém). /Mas um homem na minha posição, tem o direito de se divertir com o nada, afinal, o que poderia me aborrecer além desse inconveniente, num dia tão glorioso como hoje? (Aproximando da mendiga). //Minha cara, sabe por que os sinos badalam?
Mendiga: Claro que sim, meu cachorro morreu.
Rei: Isso foi uma insolência?
Mendiga: Não. Foi velhice mesmo. Coitadinho, tremia tanto. Eu não sabia o que fazer. Aí ele veio, me lambeu, colocou as patas no meu peito e ficamos deitados a noite inteira. ( as três) Quando amanheceu ele já estava morto(aline e marcela). Afastei ele de mim e deixei ele lá onde costumávamos ficar, a nossa casa eu diria (malu). Mas ele já está começando a feder aline marcela, não posso voltar.(as trÊs)
Rei: E por que é que não se livra dele?
Mendiga: Não te interessa! Agora vem você e me faz uma pergunta idiota dessas... perguntar é idiotice. (tres)Todo mundo só faz pergunta idiota. ()
Rei: Mesmo assim vou perguntar novamente. /Quem é que te traz comida? Por que se não tem ninguém responsável por você, ordenarei que saia imediatamente. Não admitimos nenhuma carniça aqui, tampouco qualquer espécie de gritaria! (tem que gritar)
Mendiga: Eu que estou gritando por acaso?
Rei: Mas agora é você quem está perguntando... /não entendo o motivo de tanta ironia.
Mendiga: Não entende mesmo. Eu não sei de nada. E é por isso que está aqui falando comigo.
Rei: Não é possível, vamos, me diga! Quem te traz comida?
Mendiga: De vez em quando um menino, um anjo. //Meu cachorro...
Rei: Tem família?
Mendiga: Não(todas). Sumiram... todos eles. Foram engolidos pela areia.(aline) Antes, morreu todo o gado, foram comidos por gafanhotos. As crianças foram levadas num furacão, acho que por que eram mais leves. As mulheres morreram de cansaço mesmo. Os homens foi a areia, mas eu já te disse isso.... (marcela)Aí só restou o silêncio e o rei. O rei virou pedra e hoje está em forma de estátua naquela praça onde o povo vai para gritar coisas idiotas. /E o resto não me lembro, esqueci!(as três )
Rei: Ora, o que está falando?
Mendiga: Quando o rei era poderoso, eu era como sua filha, era o braço direito dele. Mas eu não quis nem saber e fui embora. Não gosto de receber ordens.
Rei: Nunca ouvi tamanho absurdo... O que faz o dia todo? Nunca te vi por aqui. Por acaso levantou de alguma cova?
Mendiga: Hunn... //agora entendi porque a colheita do milho foi fraca esse ano. Não choveu.
Rei: Pelo menos nisso você tem razão, a colheita do milho este ano foi fraca mesmo.
Mendiga: Há 38 anos aconteceu a mesma coisa, um pouco pior. Demorou para chover, os ratos não tiveram escolha a não ser invadir a cidade e comer os homens. Os ratos comeram os homens e morreram envenenados.
Rei: Eu nunca soube disso. Cada palavra que diz é pura invenção. A história não sabe disso.
Mendiga: A história não existe!!!
Rei: Como não?!! E Alexandre Magno? Júlio César, Napoleão?....
Mendiga: Lorotas! Balelas! Napoleão era um cabeçudo, que afundou o navio em que estava de tão pesada que ela era. Mas ele antes de cair na água, respirou tão fundo que sua cabeça ficou ainda maior e foi por causa dela que ficou boiando. Mas enquanto pensava o que fazer, o balanço do mar desatarraxou a cabeça do pescoço e ele afundou. O resto que contam é pura invenção.
Rei: Nunca ouvi algo mais insano. Pelo menos as outras histórias tinham o mínimo de coerência. // Ahhh... //eu quero saber uma coisa de você. /O que acha do seu rei?
Mendiga: Que rei? Não tem rei. Só o povo mesmo pra acreditar que existe um. Vem um qualquer que acha que tem cara de rei, fabrica um monte de carros de guerra e tambores, aprendem uma marchinha militar e sai todo mundo correndo atrás de um inimigo. (Fala ironicamente) //Pronto, é um “rei”!
Rei: Pois fique a senhora sabendo, que o rei venceu seu pior inimigo.
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