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Ilhas de História, Marshall Sahlins

Por:   •  14/12/2018  •  Resenha  •  1.363 Palavras (6 Páginas)  •  1.612 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS – CFH

CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

        

Disciplina: Teoria Antropológica III

Prof.: Sônia Weidner Maluf

Alunos: Virginia Nunes e Fernando A. G. de Castro Moura

RESUMO “ILHAS DE HISTÓRIA” – MARSHALL SAHLINS

        A obra “Ilhas de História” é uma reunião de cinco ensaios escritos para conferências ministradas entre os anos de 1981 e 1983, precedidos por uma Introdução que, segundo o autor, deu ao livro uma unidade para seu corpo teórico. Além da Introdução, estão aqui resumidos os capítulos 1, 2 e 5.

História, estrutura, evento e dinâmica cultural: estes são os principais eixos de reflexão de Sahlins, neste livro. Tanto a cultura é historicamente reproduzida na ação, quanto nela é alterada historicamente, alteração esta que pode mudar as relações de posições entre as categorias culturais. Se, por um lado, as pessoas conferem sentido aos objetos e organizam seus projetos a partir de suas pré-concepções da ordem cultural – a là Bourdieu e o conceito de habitus –, por outro lado as ações criativas dos sujeitos históricos implicam na reavaliação dos significados na prática, alterando historicamente os esquemas culturais. Na medida em que os significados são submetidos a riscos empíricos, o simbólico é pragmático e o sistema, síntese da reprodução e da variação. Logo, a estrutura – relações simbólicas de ordem cultural – é um objeto histórico.

Neste sentido, a estrutura se realiza tanto na convenção quanto na ação. Segue-se então que, se as relações entre categorias mudam, a estrutura é transformada. Portanto, para Sahlins, a cultura – por ser um objeto histórico, portanto arbitrário - funcionaria como uma síntese de estabilidade e mudança, de passado e presente, de diacronia e sincronia. Toda mudança prática também é uma reprodução cultural, uma alteração, tanto que, na ação, as categorias através das quais o mundo atual é orquestrado, assimilam algum novo conteúdo empírico.

        Sahlins utiliza os modelos/tipos ideais prescritivos e performativos para discutir a relação entre a ação simbólica e as formas culturais, bem como as diferentes historicidades por elas construídas. No modelo prescritivo, radcliff-browniano, um sistema com regras delimitadas obrigatórias prescreve as ações dos indivíduos, a maneira com que eles devem agir e interagir. Por outro lado, no modelo performativo, as formas culturais estariam abertas a negociações, à eventualidades e contingências promovidas pelas ações simbólicas. As pessoas podem agir sobre os arranjos preexistentes para reconstruir as categorias culturais. É importante salientarmos que estes são tipos ideais. Logo, em uma mesma sociedade pode haver os dois tipos de modelo; no caso da sociedade havaiana, haveria uma ênfase maior em uma estrutura performativa, a exemplo das relações sexuais e seus múltiplos efeitos e significados.

Cristhian Teófilo da Silva[1] levanta um interessante questionamento acerca das bases que fundamentam a interpretação antropológica, a partir do confronto da análise de Sahlins e Obeyesekere sobre o pensamento havaiano. Sahlins afirma que, a partir do evento do retorno do Capitão Cook ao Havaí os nativos orquestraram-no a seu modo, com sua historicidade, conferindo-lhe significação de acordo com suas categorias culturais, por meio de uma racionalidade mitoprática; Cook fora, então, designado pelos havaianos como o Deus-Lono. Por outro lado, Obeyesekere, antropólogo do Sri Lanka nos Estados Unidos, defende a idéia de que o que, de fato, ocorreu no Havaí, foi um “ritual de investidura”, tornando Cook um alto chefe havaiano e apenas após sua morte fora-lhe conferido o status de “Deus”.

Houve um intenso debate entre esse dois autores a respeito desta questão, contudo é interessante discutirmos aquilo que está no âmago deste debate, à luz de Geertz: o que importa, realmente, é se os havaianos acreditam que Cook era o Deus-Lono ou a forma com que eles interpretaram Cook como Deus-Lono? Tanto Sahlins quanto Obeyesekere partiram de conceitos específicos, aquilo que Geertz chamaria de “conceito de experiência-próxima” – “Deus, mitopráxis, racionalidade mítica, etc. – para analisarem este fato. Entretanto, o conceito que os havaianos partiram para entender o retorno de Cook ao Havaí foi o Deus-Lono. Isso é o que, de fato, importa para o empreendimento hermenêutico antropológico: o ponto de vista do nativo. Logo, Sahlins consegue tanto utilizar da racionalidade nativa (categoria Lono) quanto da antropológica (categoria mitopráxis).

As improvisações – ou reavaliações funcionais dos significados – dependem das possibilidades semânticas de significação, ou seja, são circunstanciais.  A produção histórica está vinculada à ordem cultural, no sentido que o empírico é uma significação culturalmente relevante. O autor se apropria das idéias de Jean-Pierre Vernant para afirmar que diferentes ordens culturais têm suas práticas históricas próprias. Sahlins dá o exemplo da História Heróica, na qual a ordem cultural potencializa as ações dos ditos Grandes Homens – reis, chefes, etc. – pelo sistema de sociedade, conferindo-lhes um efeito histórico desproporcional. Neste modelo, as consciências histórica e cultural são produzidas pautadas na segmentação heróica, na solidariedade hierárquica – conceito que deveria, segundo o autor, ser somado aos de solidariedade mecânica e orgânica, de Durkheim – na sucessão de posição e na divisão de trabalho na consciência histórica. Contudo, a consciência cultural objetificada no habitus, na qual a estrutura se pratica por meio do subconsciente individual e assim produz sua História, se opõe ao tipo de estrutura que organiza a ação histórica como projeção das relações míticas, mitopráxis.

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