O que é sociologia – Carlos Benedito Martins.
Por: admla • 16/9/2015 • Resenha • 3.656 Palavras (15 Páginas) • 891 Visualizações
Ciências Sociais
- Claudinei -
O que é sociologia – Carlos Benedito Martins.
Introdução
Para alguns a sociologia representa uma poderosa arma a serviço dos interesses dominantes, para outros ela é a expressão teórica dos movimentos revolucionários.
Este livro parte do princípio de que a sociologia seja o resultado de uma tentativa de compreensão da sociedade capitalista. Os interesses econômicos e políticos dos grupos e das classes sociais, que no capitalismo apresentam-se de forma divergente, influenciam profundamente a elaboração do pensamento sociológico.
O Surgimento
O surgimento desta ciência surge na transição da sociedade feudal para a sociedade capitalista. A sua criação não pode ser atribuída a um único pensador, mas a um conjunto de pensadores interessados em compreender as novas situações de existência.
As transformações econômicas, políticas e culturais no séc. XVIII colocaram problemas inéditos para os homens que viviam no ocidente europeu, sendo um marco para a história do pensamento ocidental. A dupla revolução desse século – a Industrial e a Francesa – constituía os dois lados de um mesmo processo, a instalação definitiva da sociedade capitalista.
A Revolução Industrial significou mais do que a introdução da máquina a vapor e dos sucessivos aperfeiçoamentos dos métodos produtivos. Representou o triunfo da indústria capitalista, capitaneada pelo empresário que pouco a pouco concentrou as máquinas, as terras e as ferramentas sob o seu controle, convertendo grandes massas humanas em simples trabalhadores despossuídos.
Essa nova organização social não só destruiu o artesão independente com a utilização da máquina na produção, mas este também foi submetido a uma severa disciplina, a novas formas de conduta e de relações de trabalho, completamente diferentes.
Entre 1780 e 1860, a Inglaterra havia mudado de forma marcante a sua fisionomia. De um país com pequenas cidades, com uma população rural dispersa, passou a comportar enormes cidades, onde encontravam-se as nascentes indústrias, que exportavam produtos para o mundo todo.
Um dos fatos de maior importância relacionados à revolução industrial é o aparecimento do proletariado (classe trabalhadora) e o papel histórico que desempenharia na sociedade capitalista. Os efeitos catastróficos que essa revolução acarretava para essa classe levaram-na a negar suas condições de vida. Nessa trajetória, produziam seus jornais, sua própria literatura, procedendo a uma crítica da sociedade capitalista e inclinando-se para o socialismo como alternativa de mudança.
A profundidade das transformações colocou a sociedade como objeto de análise. Os pensadores ingleses dessa época que preocupavam-se com elas não eram, no entanto, homens da ciência, eram antes de tudo homens voltados à ação, que desejavam modificar a sociedade.
Como se pode perceber, o surgimento da sociologia prende-se em parte aos abalos provocados pela revolução industrial. Mas outra circunstância concorreria para a sua formação. As transformações econômicas que vinham acontecendo no ocidente europeu desde o séc. XVI, não poderia deixar de provocar mudanças na forma de pensar.
A partir daquele momento, o pensamento gradativamente vai renunciando a visão sobrenatural para explicar os fatos, a substituindo por uma indagação racional. Ou seja, a aplicação do método científico (observação e experimentação).
Para Francis Bacon, o novo método deveria ser aplicado ao estudo da sociedade no lugar da teologia. O que aconteceu: literatos começaram a usar a nova atitude intelectual se rebelando contra os fundamentos do poder político, contribuindo assim para a renovação dos costumes e hábitos mentais dos homens da época.
No séc. XVIII, a pressuposição de que o processo histórico possui uma lógica passível de ser aprendida constituiu um acontecimento que abria novas pistas para a investigação racional da sociedade. Para Vico, é o homem quem produz a história. Afirmava que a sociedade podia ser compreendida porque ela é obra dos próprios indivíduos.
Data dessa época a disposição de tratar a sociedade a partir do estudo de seus grupos e não dos indivíduos isolados. Para Ferguson e Bacon, é a indução, e não a dedução, que nos revela a natureza do mundo.
No entanto, é entre os pensadores franceses do séc. XVIII que um grupo de filósofos procuravam não apenas transformar as velhas formas de conhecimento, baseadas na tradição e na autoridade, mas a própria sociedade. Os iluministas atacaram com veemência os fundamentos da sociedade feudal, os privilégios de sua classe dominante e as restrições que esta impunha aos interesses econômicos e políticos da burguesia. Negavam abertamente a sociedade existente.
Usando o método científico, os iluministas estabelecem uma série de observações sobre a população, o comércio, a religião, a moral, a família, etc. O objetivo deles ao estudar as instituições da época era demonstrar que elas eram irracionais e injustas, que atentavam contra a natureza do indivíduo e impediam a liberdade do homem. Concebiam o indivíduo como dotado de razão, possuindo perfeição inata e destinado à liberdade e à igualdade social. Portanto, as instituições deveriam ser eliminadas por constituir um obstáculo à liberdade. Dessa forma, reivindicavam a liberação do indivíduo de todos os laços sociais tradicionais, tal como as corporações, a sociedade feudal, etc.
Essa crescente racionalização da vida social que gerava clima propício à criação de um estudo científico da sociedade não era, porém, um privilégio de filósofos e cientistas. O “homem comum” dessa época também deixava de encarar as instituições sociais, as normas, como fenômenos sagrados e imutáveis, submetidos a forças sobrenaturais, passando a percebê-las como produtos da atividade humana, portanto passíveis de serem conhecidas e transformadas.
A burguesia, ao tomar o poder em 1789, investiu decididamente contra os fundamentos da sociedade feudal, procurando construir um Estado que assegurasse sua autonomia em face da Igreja e que protegesse e incentivasse a empresa capitalista.
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