Qual a relação Ruth Cardoso e a política pública oficial para a juventude?
Por: Catarina Correa • 13/5/2018 • Resenha • 537 Palavras (3 Páginas) • 146 Visualizações
Qual a relação Ruth Cardoso e a política pública oficial para a juventude?
Podemos tratar da relação de Ruth Cardoso a partir da análise do modelo por ela proposto como um tipo-ideal. A política atual, em teoria, satisfaz alguns pontos importantes da proposta da autora, embora tenha algumas divergências. No tocante, por exemplo, á forma como Ruth Cardoso enxerga e entende o que é juventude, podemos notar:
A juventude, apesar das diferenças, tem características comuns: é mais fácil um jovem que mora na periferia entender, se comunicar, consumir uma música parecida com a de um jovem que mora no centro da cidade, do que os adultos entenderem os jovens. Existe uma linguagem, símbolos que têm essa capacidade de perpassar grupos que são muito diferentes. Mas, apesar disso, não se pode cair na armadilha de continuar considerando que existe uma única juventude. Existem juventudes (Ruth Cardoso, 2004:18-19).
Isso quer dizer que tal categoria sociológica não deve ser formada por estereótipos, mas sim, pensada a partir das identidades plurais que dividem tal identidade. O texto do projeto faz diversas reflexões sobre a importância de não fazer política pública baseada em estereótipos. Essa é sua percepção, que consideramos deveras similar:
Sendo tema de interesse público, a condição juvenil deve ser tratada sem estereótipos e a consagração dos direitos dos/das jovens precisa partir da própria diversidade que caracteriza a(s) juventude(s).
Para além de conceitos que permeiam a formulação das políticas ainda podemos citar a percepção da juventude como uma fase sociológica cuja duração teria se prolongado atualmente. Ou seja, na contemporaneidade a juventude teria maior ênfase dentro da experiência social das pessoas do que os outros períodos. De acordo com Ruth isso se deve a diferentes motivos, seu caráter seria tal:
O primeiro fenômeno é esse: o alargamento do espaço que nós chamamos de juventude e dos limites entre a infância e a juventude - cada vez temos menos espaço para a infância e mais para a juventude (Ruth Cardoso, 2004:17).
A política para a juventude pensa isso como uma dualidade, ou seja, reconhece esse processo do aumento do peso da juventude, ao mesmo tempo em que cita a oposição a tal movimento. Encontramos o seguinte:
Não é exagero afirmar que a sociedade contemporânea é, paradoxalmente, juventudocêntrica, ao mesmo tempo em que é crítica da juventude.
Tratamos inicialmente da proposta de Ruth como um modelo ideal. É importante notarmos, assim, que sua existência é considerada improvável ou mesmo impossível. Isso pode ser entendido, por exemplo, a partir da divergência que encontramos quanto aos atores que pensam as políticas para a juventude. Ruth critica o fazer a política pública de um olhar externo.
As políticas públicas refletem muito mais uma imagem cultivada pelo mundo adulto, por aqueles que têm certo poder de decisão, que pode vir do Estado, mas também da família. Aqueles que têm uma posição hierárquica que permite uma relação com os jovens, que implica em algum grau de dependência. Essa relação pode expressar muito respeito, mas contém alguma dependência (Ruth Cardoso, 2004:15).
Já o projeto demonstra não-acatar essa idéia de Ruth:
A pertinência e a qualidade dos pareceres que compõem este livro são, portanto, resultados do trabalho incessante da maioria dos 120 conselheiros e conselheiras (entre titulares e suplentes) que consideram os/ as jovens como sujeitos de direitos universais e específicos.
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