A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA REALIDADE
Por: Silvas Cida • 13/8/2015 • Resenha • 2.215 Palavras (9 Páginas) • 365 Visualizações
A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA REALIDADE
Segundo Berger e Luckmann (1985), é preciso, antes de qualquer coisa, entender os termos “realidade” e “conhecimento” para avançarmos em uma investigação sobre o assunto.
Berger e Luckmann (1985) desenvolvem sua investigação sobre a sociologia do conhecimento a partir da preocupação com o mundo em que vivemos e o conhecimento que temos desse mundo, deixando para a filosofia a investigação das idéias do mundo e a interpretação teórica de que se tem delas. Berger e Luckmann (1985) indicam os conceitos de “infra-estrutura” (a organização econômica da sociedade e o pensamento humano fundado no trabalho humano) e “super-estrutura” (a organização cultural e as relações sociais produzidas pelo trabalho) de Karl Marx (1818-83) como raízes do estudo da sociologia do conhecimento. Friedrich Nietzche (1844-1900) contribui com a idéia intelectual de que todo o comportamento humano é motivado pela “vontade de poder” e o pensamento é o instrumento na luta pela sobrevivência. Mais além, a historicidade do pensamento humano, revelado por Wilhelm Dilthey (1833- 1911), é indicada como precedente da sociologia do conhecimento. Max Scheler (1874-1928), declara o conhecimento humano existente na sociedade como um a priori à experiência individual, fornecendo a
esta sua ordem de significação – a “relativa e natural concepção de mundo”. Mesmo que apresentado como “um episódio passageiro” na carreira filosófica de Scheler, esse debate alimentou os estudos de Karl Mannheim (1893-1947), considerado o inaugurador da sociologia do conhecimento em função de seus estudos sobre a relação de todas as facetas ou modos do pensamento
humano com as influências econômicas e culturais que os cercam.
Longe de nosso objetivo caminhar historicamente pela sociologia do conhecimento, ou filosoficamente pelas idéias de seus predecessores; interessa-nos, entretanto, reconhecer que os estudos de Berger e Luckmann sobre a sociologia do conhecimento se atêm à compreensão da realidade da sociedade em função da maneira pela qual a realidade da vida é construída: o conhecimento não existe sem o homem social que constrói o seu mundo, isto é, a sua realidade cotidiana – o “conhecimento do senso comum.
- A vida cotidiana apresenta-se como uma realidade interpretada pelos homens e subjetivamente dotada de sentido para eles na medida em que forma um mundo coerente (BERGER, LUCKMANN, 1985, p.35)
A análise da vida cotidiana, feita por Berger e Luckmann, segue as considerações do sociólogo Alfred Schutz (1899- 1959), influenciado conceitualmente pela teoria e método do fundador da fenomenologia, o filósofo Edmund Gustav Albert Husserl (1859-1938). Sua teoria e método representam os seguintes conceitos (MINAYO, 2000, p. 57):
A VIDA COTIDIANA
A realidade da vida cotidiana, segundo Berger e Luckmann (1985), é carregada de uma estrutura temporal que fornece historicidade e é constituída por uma ordem de objetos designados como objetos antes da existência do sujeito, tendo seus fenômenos previamente dispostos em padrões Independentes da apreensão que deles se têm, mas impostos à apreensão. Além disso, divide-se em setores – “zonas da vida cotidiana”, que representam o mundo em que trabalhamos e onde o interesse de seus participantes é intenso e urgente – a “realidade predominante”. Sabemos, também, que o interesse do sujeito por zonas limítrofes da vida cotidiana é gradual e menos direto. A existência de “zonas da vida cotidiana” que direcionam os interesses de cada indivíduo contribui para a compreensão da atuação fragmentada dos atores em campos de conhecimento. Berger e Luckmann consideram a interação social face a face como a mais real e próxima do entendimento da subjetividade do outro, deixando em plano remoto as outras formas de relacionamento. Na medida em que a interação face a face se reduz, a apreensão da vida cotidiana se torna anônima. Mesmo assim, Berger e Luckmann (1985) se referem a essa capacidade de transformação como interrupção das rotinas da vida cotidiana – o novo conhecimento ou problema –, mas não esclarecem sobre a possibilidade de acesso ao conhecimento e as relações de dominação frente a esse novo conhecimento .
O conceito de “zona da vida cotidiana” auxilia no entendimento do conhecimento do senso comum, mas apenas se descolado de relações de poder, ou seja, as relações sociais. Sendo assim, o campo de conhecimento não pode se inserir apenas na conceituação de “zona da vida cotidiana”, o que, por si só, representaria o abandono de uma análise crítica de sua construção.
Durkheim, segundo Minayo (2000), foi o primeiro a fundamentar as possibilidades teórico-metodológicas do positivismo para a compreensão da sociedade, considerando a sociedade como ‘coisa’ – a análise funcional é o alicerce da sua formulação teórica sociológica. Para esse sociólogo francês, seguidor de Auguste Comte (1798-1857), a experiência e idéias do cientista sobre a realidade social são descartáveis, devendo-se criar métodos para que os fatos sociais possam ser descritos e classificados com precisão (MINAYO, 2000).
[...] a sociedade é um fenômeno moral, na medida em que os modos de pensar, perceber, sentir e agir incluem elementos de coerção e obrigação, constituindo assim uma consciência coletiva que se expressa na religião, na divisão do trabalho e nas instituições (DURKHEIM apud MINAYO, 2000, p. 44).
A sociologia compreensiva aparece como uma segunda visão da sociedade e contra os princípios do positivismo, “[...] privilegiando a compreensão e a inteligibilidade como propriedades específicas dos fenômenos sociais, mostrando que o significado e a intencionalidade os separam dos fenômenos naturais” (MINAYO, 2000, p. 50).
A sociologia exige um ponto de vista específico já que os fatos de que se ocupa implicam um genêro de causação desconhecido das ciências da natureza. [...] È uma ciência que se preocupa com a compreensão interpretativa da ação social, para chegar à explicação causal de seu curso e de seus efeitos. Em ‘ação’ está incluído todo o comportamento humano quando e até onde a ação individual lhe atribui um significado subjetivo (WEBER apud MINAYO, 2000, p 50.)
Representando a percepção dialética entre a teoria e a prática, entre homem e história, entre ator e estrutura, entre agente social e sociedade,
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