A Cultura: um conceito antropológico

Um dos conceitos fundamentais para a Antropologia moderna é a ideia de cultura e de como esta afeta o homem em sua formação e visão de mundo. Diante disso, em sua obra Cultura: um conceito antropológico, o antropólogo brasileiro Roque Laraia se propõe a analisar o conceito de cultura através de reflexões sobre as diversas sociedades espalhadas pelo mundo e suas variadas expressões culturais.

A obra em questão é dividida em duas partes; enquanto a primeira explora o desenvolvimento do conceito de cultura, a segunda parte está mais focada na atuação cultural de maneira mais prática, isto é, nas formas em que influencia o ser humano e é responsável por moldar sua vida.

Laraia inicia o livro expondo exemplos dos diferentes costumes culturais ao longo do tempo, indo da Antiguidade até os dias atuais, e da forma como pessoas de outras sociedades enxergam e respondem a essas diferenças. Um exemplo interessante dado pelo autor é o do pensador francês Montaigne (1533-1592), que ao ter contato com povo tupinambá disse não ter visto nada de bárbaro ou selvagem neles (ao contrário da visão etnocêntrica predominante da época), afirmando que “na verdade, cada qual considera bárbaro o que não se pratica em sua terra”. Com essa afirmação podemos entender o que Laraia vem a desenvolver melhor na segunda parte do livro; que o homem tende a ver o mundo pela ótica de sua própria cultural, classificando como errado tudo aquilo que difere dela; dessa maneira, o etnocentrismo se mostra um fenômeno universal.

A partir disso, segue para dois dos conceitos mais controversos da Antropologia, a questão do determinismo biológico e geográfico. A ideia de que os seres humanos se diferenciariam uns dos outros por características mentais ou fisiológicas, ou ainda por sua localização geográfica, esteve presente nos estudos antropológicos por certo tempo. Hoje sabemos que tais teorias se mostram completamente equivocadas e errôneas, não havendo nada que possa comprovar a validade dessas teses. A posição defendida por Laraia quanto a isso é a de que todas as diferenças entre os homens podem ser explicadas através do meio cultural no qual foram criados, sendo a cultura, então, a única responsável por definir as divergências na forma de pensamento e nas características sociais.

A partir disso, o autor passa para as origens do conceito de cultura, seus antecedentes e seu desenvolvimento nas ciências sociais. Quanto ao surgimento desta, discorre brevemente sobre a evolução humana e as características que possibilitaram ao homem se tornar superior aos demais animais. Laraia ainda cita o antropólogo Claude Levi-Strauss, que considerava que a cultura teria surgido no momento em que o homem convencionou a primeira norma de convívio social –para ele, esta teria sido a proibição do incesto. Em suma, Laraia defende a importância da cultura como processo de significação e constituição humana.

Já na segunda parte do livro, Como opera a cultura, o autor passa a tratar as formas como a cultura condiciona a visão de mundo do homem. Para ele “O modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma herança cultural, ou seja, o resultado da operação de uma determinada cultura.” (p. 36) Segue então para exemplos de como costumes e ações diferem em determinadas sociedades, dando o exemplo do riso, algo que é comum a todos os seres humanos mas esses o fazem de maneira diferente e por motivos diversos.

Nessa parte, Laraia retoma a questão do etnocentrismo como fenômeno universal e fala ainda da dicotomia entre o nós e os outros, que projetada para além do seu meio de convívio, faz surgir a xenofobia e o nacionalismo.

Após isso, segue para uma exposição das formas como a cultura, em sua visão, também interfere no âmbito biológico, começando pela apatia, que diz ele ser a reação oposta ao etnocentrismo. Para isso, usa como exemplo africanos removidos abruptamente de seu