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A Resenha Fogo Morto

Por:   •  16/6/2019  •  Resenha  •  1.588 Palavras (7 Páginas)  •  336 Visualizações

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A obra Fogo Morto de José Lins do Rego retrata a época entre o final do período monárquico e a abolição da escravatura e até aproximadamente à década de 40 e revela o processo de mudanças sociais passados. No livro, o autor deixa muito clara as relações de coronelismo e domínio pessoal em sua narrativa, sob todos os aspectos, desde o tempo e o espaço em que a obra está ambientada, até os tipos sociais que podemos identificar nos personagens principais, que representam as classes sociais da população nordestina.

Fogo Morto pode ser considerado como um retrato importante na formação da sociedade brasileira, apesar de ser uma obra literária. O livro descreve o Nordeste e a oligarquia composta pelos senhores de engenho, em situação já decadente, ameaçados pela chegada do capital vindo da industrialização e a mudança na vida das pessoas com o declínio do escravismo nos engenhos nordestinos, nas primeiras décadas do século XX. O livro também retrata a situação política, econômica e social do Brasil neste período, que é baseada em um sistema de compromisso e interesse onde os governos estaduais fecham os olhos para a administração municipal que sustenta e é sustentada pelos coronéis. Desse tipo de sistema político, surgem consequências sociais e econômicas: uma população dominada por uma classe minoritária, a falta de ampliação do mercado interno, o baixo nível de vida.

Outro aspecto interessante da obra seria referente à linguagem das personagens que aparecem na obra, onde podemos notar as diferenças sociais; a linguagem mais simples do mestre José Amaro e das pessoas que convivem mais diretamente com ele, e o uso de linguagem mais formal pela família do coronel Lula de Holanda.

A obra Fogo Morto é dividida em três partes que se ligam e se completam ao longo do livro: O mestre José Amaro, O engenho do Seu Lula e O Capitão Vitorino.

A primeira parte do livro foca mais na história do Mestre José Amaro que mora nas terras do engenho Santa Fé, que pertence ao coronel Lula Chacon. Ele, com seu caráter orgulhoso, machista (onde suas atitudes são caracterizadas pelos valores patriarcais: sempre que tem a oportunidade, maltrata sua esposa, Sinhá, e, principalmente, sua filha Marta) e que não aceita qualquer tipo de submissão aos coronéis, é o retrato do círculo social em que está inserido. Um dos pontos principais é essa sua não-aceitação à simpatia de nenhum dos senhores de terra, enquanto toda a comunidade se filia a um coronel. Assim, ele se defende falando o que pensa sobre tudo e sobre todos, sendo essa também uma forma de provar essa independência em relação aos senhores; com desprezo e arrogância em relação a sua situação social e a ordem constituída. Ao longo de sua história, essa defesa passa a ser vista como ousadia e desrespeito, o que causa sua expulsão das terras do coronel Lula de Holanda e, ainda, o temor das pessoas que passam a acreditar que ele seria um lobisomem. Tal lenda que o cerca, surge em virtude de suas caminhadas noturnas, que podem ser vistas como uma fuga dessa sociedade que ele nada admira e tanto se estranha. De certa forma, se libertando das relações que o deixam tão irritado, da família infeliz e das pessoas que passam em sua casa causando tal irritação, todas sempre submissas a algum senhor e os defendem de forma sempre tão fiel, pouco se mostrando incomodadas como ele com essa dominação.

José Amaro também manifesta sua rejeição e desprezo a esses coronéis poderosos, ao apoiar o cangaceiro Capitão Antônio Silvino, pois considera que ele leva justiça aos pobres e coloca medo nos grandes. Essa sua consideração/afeição ao cangaceiro Antônio Silvino é explicada por este não ser submisso a nenhum senhor de engenho e temido por todos aqueles que dominavam o povo com seu poder. Ainda sobre Antônio Silvino, podemos notar que, embora negue as práticas dos coronéis, age de certa forma, muito semelhante quando submete ao favor, à gratidão, como podemos notar no trecho, em que o cego Torquato relata o episódio em que conhece o cangaceiro .

O final de José Amaro se decide apenas na terceira parte do livro, após as brigas com o senhor de engenho, e mais o seu descontentamento com trabalho e com a vida familiar, que é agravada após sua esposa e filha o abandonarem, o artesão percebe sua incapacidade de lutar contra as classes dominantes. Não suportando as frustrações e a solidão, José Amaro se suicida.

O engenho do seu Lula é o título da segunda parte e retrata a fundação do engenho Santa Fé pelo Capitão Tomás Cabral de Melo, e destaca o personagem do coronel Lula de Holanda, que representa a oligarquia/aristocracia dos coronéis, e a decadência dessa. O Capitão Tomás Cabral de Melo, mudando-se para a região antes de da metade do século anterior, compra as terras e funda o engenho que acaba por fazer prosperar. O seu genro Luís César de Holanda Chacon, que tinha pouco interesse para dirigir o engenho e não gostava de trabalhar para a prosperidade do mesmo e só tinha ares aristocráticos, fazendo com que o engenho Santa Fé entre em rápido declínio. Nesta parte do livro, notamos a forte presença da escravidão, pelo tratamento cruel aos escravos, que faz com que esse senhor passe a merecer o ódio da população de Pilar.

Seu Lula vai se afastando cada vez mais do povo da cidade e seu engenho entra em total decadência quando ocorre abolição, e seus escravos o abandonam. Tocando no ponto da escravidão, podemos identificar a presença marcante dos negros do engenho ao longo da história. Uma passagem da obra onde isso fica evidente é quando o sogro de Seu Lula, o capitão Tomás Cabral de Melo, compra o piano para a filha Amélia , que ilustra o poder de admiração que os senhores tinham pelas diferenças sociais que os distanciavam

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