A Sociologia Como Leitura Científica Da Sociedade
Trabalho Escolar: A Sociologia Como Leitura Científica Da Sociedade. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: nfidler • 27/10/2014 • 3.656 Palavras (15 Páginas) • 453 Visualizações
A sociologia como leitura científica da sociedade
Vania Herédia1
“O verdadeiro espírito positivo consiste, sobretudo em ver para prever, em estudar o que é, a fim de concluir disso o que será, segundo o dogma geral da invariabilidade das leis naturais.” (AUGUSTO COMTE).
Resumo: O presente artigo2 traz à tona as condições históricas e sociais nas quais nasce a Sociologia. Pontua as transformações socioeconômicas e políticas que ocorreram na Europa ocidental no século XVIII, principalmente a Revolução Francesa e a Revolução Industrial, e a relação dessas transformações com o surgimento da ciência positiva. O texto discute ainda as rupturas que essa ciência traz, à medida que substitui o pensamento teológico e metafísico pelo pensamento científico, baseado na natureza dos fenômenos sociais. Mostra que o ideário de Augusto Comte é revolucionário para a época, ao propor a ciência positiva como possibilidade de construção de uma forma de ver a sociedade, baseada na investigação científica, sob os moldes das ciências físico-naturais e que a reforma social pregada se constitui numa reforma intelectual, de substituição de crenças coletivas pelo raciocínio científico. Examina ainda o objeto e o método da ciência positiva.
Palavras-chave: Sociologia. Ciência positiva. Pensamento científico.
Sociology as a scientific reading of society
Abstract: This article surfaces the historical and social conditions in which sociology was born. It punctuates socioeconomic and political transformations which took place in West Europe in the 18th century, mainly the French Revolution and the Industrial Revolution, and the relationship of these transformations with the emergence of positive science. The text also discusses the ruptures that this science brings about since it replaces theological and metaphysical thinking by scientific thinking, which is based on the nature of social phenomena. It shows that Auguste Comte’s ideas were revolutionary for the time, by proposing that the positive science could be a possibility of construction of a way to see society based on scientific investigation, following the mold of physical-natural sciences, and that the vaunted social reform consisted of an intellectual reform, one that replaced collective beliefs by scientific thinking. The article also examines the object and the method of positive science.
Key words: Sociology. Positive science. Scientific thinking
A história da Sociologia coincide com o nascimento e a evolução do modo de produção capitalista, não se limita a ser apenas uma história das idéias sociais ou uma filosofia política. Procura se configurar como ciência que possui objeto e método próprio, independentemente das demais ciências existentes até então.
Se a Sociologia surge oficialmente no século XIX, deve-se retroceder pelo menos ao século XVI para entender como se organizavam as instituições que dominavam a sociedade naquela época, e que fatores alteraram a ordem estabelecida, ou, pelo menos, “como a crise das instituições acarreta a criação de um saber social ainda pouco especializado, porém já crítico quanto à ordem estabelecida e de suas justificativas intelectuais”. (LAPASSADE; LOURAU, 1972, p.19).
Vale lembrar que a consolidação do modo de produção capitalista ocorreu com o enfraquecimento da sociedade feudal que se manteve por aproximadamente dez séculos e se caracterizou pela estagnação, pelo barbarismo e pela forte presença do Cristianismo. Aliás, os três fatores que produziram a civilização européia no início da Idade Média foram: o Cristianismo, a influência dos bárbaros germânicos e a herança das culturas clássicas. Entretanto, foi o regime feudal que marcou a civilização da época medieval, e a Igreja católica, a sua alma.
O Feudalismo foi um regime que teve forte influência das instituições romanas e foi definido como uma estrutura descentralizada da sociedade, cujo sistema de relações sociais era contratual e implicava relações recíprocas entre os senhores feudais e seus vassalos. O direito de governar era concebido como um direito de propriedade. O direito de governar era privilégio de quem possuísse terras. A terra era o critério da estratificação social. A sociedade era constituída por homens livres, servos e escravos. Entre os livres se encontravam nobres, clérigos, soldados, profissionais, mercadores, artesãos e alguns camponeses. O rei era considerado o mais importante dos suseranos, seguido pelos nobres, duques, condes. Os servos estavam presos às obrigações definidas pelo sistema. As obrigações eram pesadas, sendo que dois terços do que o servo produzia não lhe pertencia. Em troca dos serviços dos servos, o senhor dava-lhes terras de arrendamento vitalício. Muitas cidades integravam domínios feudais e deviam obediência aos seus senhores. Entretanto, muitas cidades, por terem enriquecido, eram livres e emancipadas da tutela feudal.
O desenvolvimento econômico a partir do século XIII melhorou as condições das cidades, e as feiras constituíram-se na vida do comércio medieval. Nesse período, começa a transição do sistema feudal para o sistema capitalista. As estruturas feudais passam a ser substituídas pelas monarquias absolutas. Atribui-se o enfraquecimento dos nobres ao desenvolvimento da economia urbana; à queda do sistema senhorial na agricultura; aos efeitos das Cruzadas, da Peste Negra, da Guerra dos Cem Anos. (BURNS, 1975, p. 521).
A Revolução Comercial influiu na instalação do sistema capitalista, já que estimulou a política mercantilista e expansionista, juntamente com a Revolução Protestante, que permitia e estimulava a produção de riqueza. As instituições que configuraram o Estado Moderno estavam baseadas na realeza, e governavam por direito divino. Nesse período, cresce o poder da classe burguesa, que tenta negociar o prestígio político em troca do econômico.
As mudanças revolucionárias trazidas com o Renascimento e as alterações ocorridas na natureza da ciência medieval fizeram com que o teocentrismo fosse substituído pelo antropocentrismo. Os grandes descobrimentos marítimos, as grandes invenções, o colonialismo, o apogeu do mercantilismo, a força do racionalismo e do empirismo transformaram o mundo moderno e abriram portas para uma nova estrutura de ciência.
Um fator importante para o surgimento da Sociologia foi a revolução intelectual que ocorreu na Europa. A crítica às instituições baseadas
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