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AS CIÊNCIAS SOCIAIS EM SAÚDE

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Por:   •  27/3/2014  •  8.854 Palavras (36 Páginas)  •  307 Visualizações

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AS CIÊNCIAS SOCIAIS EM SAÚDE:

REFLEXÕES SOBRE AS ORIGENS E A

CONSTRUÇÃO DE UM CAMPO DE

CONHECIMENTO

Everardo Duarte Nunes*

* Docente do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Ciências Médicas, UNICAMP

O trabalho aborda as origens, desenvolvimento e perspectivas das Ciências Sociais em Saúde.

Procura situar alguns pontos fundamentais relacionados a incorporação de um pensamento

social em saúde no Brasil e faz parte de um amplo movimento que ocorreu no pós 2a Guerra,

principalmente junto aos Departamentos de Medicina Preventiva e Social. Trata da construção

desse campo do conhecimento, apontando alguns trabalhos da literatura. Conclui apresen-

tando algumas perspectivas em relação à investigação nessa área.

INTRODUÇÃO

Quando, há alguns anos atrás, em 1984, Renée Fox, uma das pioneiras

da sociologia médica nos Estados Unidos, foi distingüida com um prêmio

pela American Sociological Association, pelos seus trabalhos nesse campo do

conhecimento, ela iniciou o seu discurso citando, do autor francês Charles

Péguy, o seguinte: "- ...com 40 anos o homem sente que a sua juventude co-

meça a lhe escapar ... Na plenitude de sua melancolia, ele olha para trás, e

torna-se um cronista e memorialista. O que aconteceria se esta terrível me-

lancolia continuasse a crescer na década seguinte? Felizmente, tal não é o

caso. O quarentão não se torna um cinqüentão. Ele se torna um historiador".

Mais ou menos por esse caminho e pretensão é que eu gostaria de fazer esta

apresentação. Dessa forma, eu não corro o risco de transformá-la num sim-

ples e desinteressante relato autobiográfico, ou como disse a socióloga que

citei há pouco, "sucumbir a uma proustiana volta ao passado" (1).

Procurarei alguma correspondência com a lição de Wright Mills, quando

dizia que no ofício do sociólogo, entre os valores do seu artesanato intelec-

tual, ele devia " desenvolver e rever continuamente as opiniões sobre os pro-

blemas de história, de biografia e de estrutura social, nos quais a biografia e

a história se cruzam" (2).

A tarefa a que me proponho será a de revisitar o campo das ciências

sociais em saúde situando alguns aspectos referentes às suas origens e de-

senvolvimento e como vejo as suas perspectivas futuras. Mas, mesmo sem

querer cair num relato personalizado, esclareço que a minha opção por esse

campo de trabalho foi feita há vinte e cinco anos, quando se ensaiavam os

primeros passos no ensino das ciências sociais em medicina e o campo não

havia se institucionalizado (estaria hoje institucionalizado?), e a formação

especializada inexistia no Brasil.

As origens de um pensamento social em saúde

De um modo geral, o movimento de incorporação das ciências sociais

em saúde ocorre dentro dos processos gerais que se dão a partir do término

da 2ª Guerra Mundial. Muitas são as mudanças que acontecem em todos os

países, afetando não somente a sociedade como um todo, mas provocando

alterações em diversos níveis, como o educacional e o da saúde. Conside-

rando a forte influência exercida pelos Estados Unidos, é interessante rever

de maneira geral como ocorreu a progressiva introdução das ciências sociais

em saúde naquele país. Lembre-se, ainda, que embora ocorram casos espo-

rádicos de ensino das ciências sociais em escolas brasileiras (curso de Pro-

blemas de Sociologia Aplicada à Higiene, na Faculdade de Saúde Pública/USP,

em 1946; curso de "Fundamentos sócio-econômicos", na Escola Nacional de

Saúde Pública, do Rio de Janeiro, no início dos anos 50), o projeto inicial de

introdução das ciências sociais irá acontecer cerca de duas décadas após os

debates nos Estados Unidos.

Mesmo nos Estados Unidos, onde o fenômeno inclui-se nas ocorrências

do pós-guerra, há precursores na sociologia médica nas primeiras décadas

deste século. Mas, naquele momento, aparecia de maneira pouco distinta,

associada à saúde pública e à assistência social. Interessante que a denomi-

nação de sociologia médica aparece em fins do século XIX em um trabalho de

Charles Mclntire, e no começo deste século em James P. Warbasse e Elizabeth

Blackwell, obviamente com características muito diferentes das que assumiria

mais tarde. No período de 30 a 50, em diferentes pontos dos Estados Unidos,

a pesquisa sobre os fatores sócio-culturais na saúde estará presente: em Chi-

cago, com Faris e Dunham(3), em Nova York, com os estudos de educação

médica(4), em Yale, com pesquisas epidemiológicas (5). Há,

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