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Alison Freyre e Carlos Freitas

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Por:   •  6/3/2014  •  Resenha  •  1.505 Palavras (7 Páginas)  •  269 Visualizações

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Por Alyson Freire e Carlos Freitas

Diferentemente de outras áreas de conhecimento, as contribuições das Ciências Sociais não são tão evidentes e transparentes aos olhos das pessoas. E isso leva muitos a deduzir apressadamente que aquelas ciências humanas não trazem contribuições práticas ou mesmo significativas para a humanidade, se comparadas às ciências duras e naturais. Talvez isso se explique pela particularidade do tipo de “bem” disponibilizado continuamente pela produção científica nas ciências sociais assumir duas formas; uma geral, civilizatória e outra mais prática, objetiva e concreta. Neste texto, falaremos de ambas. Porém, para seguir a lógica utilitária da pergunta enfatizaremos mais a segunda dessas formas de contribuição.

As Ciências Sociais, de um modo geral, para além dos resultados práticos do conhecimento produzido, possuem sua relevância e “serventia” numa singularidade muito própria a elas, a que poderíamos chamar sua contribuição civilizatória à humanidade, qual seja: elas proporcionam um tipo de conhecimento, consciência e inteligibilidade dirigido ao mundo e à vida dos homens e que pode ser incorporado pelas pessoas, grupos e instituições.

As Ciências Sociais são a um só tempo uma forma de inteligência equipada com métodos, conceitos e teorias e um tipo de sensibilidade inquieta diante de tudo o que nos cerca, quer sejam fenômenos propriamente humanos ou fenômenos outros que deslaçam conseqüências humanas. Essa é sua dimensão fascinante e apaixonante da qual deriva sua grande contribuição no sentido de colaborar, de modo variado (sociologicamente, historicamente, antropologicamente), por meio dessa forma de inteligência e sensibilidade peculiar, para o autoesclarecimento da sociedade e dos indivíduos acerca do que se passa, de seu lugar no mundo, das questões e processos sociais que moldam seus destinos. Porque tal não se encerra em grandes mentes, teorias ou estudos mas pode sim ser apropriada por indivíduos, grupos, organizações e instituições diversas. E, como ferramenta reflexiva, “aplicada” as suas ações, ideias, crenças, projetos para entendê-las, moldá-las, transformá-las ou projetá-las dentro dos contextos de vida de cada qual.

No entanto, numa concepção pragmática de saber e de contribuição-utilidade isso pode parecer geral demais e abstrato. De modo que essa generalidade mais atrapalha do que ajuda a esclarecer a resposta da pergunta “para que servem as Ciências Sociais?”. Sem abrir mão ou envergonhar-se de sua contribuição civilizatória, vamos, então, em nome da objetividade e precisão com nos que inquirem, expor quais as contribuições das Ciências Sociais nesse quase século e meio em que elas existem. Para assim, quem sabe, lançar luz sobre aquela infame pergunta.

Os bens produzidos pelas Ciências Sociais são estritamente “sociais”, isto é, conhecimentos que vão ser compartilhados coletivamente, estruturando as formas de organização das sociedades humanas. Não são casas, computadores, estradas, automóveis ou compostos químicos que ajudam a salvar vidas ou a fabricar armas de destruição em massa o conjunto de bens produzidos e disponíveis pelos cientistas sociais. Mas sim informações, ideias e conhecimentos especializados sobre os significados e conseqüências desses inventos sociais acima e como eles se relacionam com uma série de fenômenos, condições e práticas humanas.

Para que fique mais claro, e darmos corpo a essas contribuições que, aos olhos mais exigentes, podem parecer demasiadamente gerais, vamos mencionar resultados mais concretos e objetivos, mais fáceis de serem mensurados e visualizados do que essas contribuições reflexivas, “bens de civilização”, cujo valor para a humanidade pode passar desapercebido para concepções que querem encerrar ciência em produção de tecnologia, esquecendo que ciência é igualmente produção de cultura, formação e reflexão mediante pesquisas, debate, produção intelectual de ideias.

Na passagem do século XIX para o século XX, nos EUA, houve um grande fluxo de imigrantes no país que se aglomeravam nas grandes cidades norte-americanas, resultando em situações de forte tensão e exclusão social. Gerados principalmente pela pobreza, violência, criminalidade e conflitos étnicos-raciais. Foi em meio a esse cenário de conflito social e urbanização acelerada que surgiram os famosos estudos sociais da Escola de Chicago, preocupada, nas suas pesquisas empíricas, em compreender o processo de assimilação e marginalidade urbana. Como se sabe, tais pesquisas forneceram, pioneiramente, importantes relatórios e propostas de intervenção pública, que foram utilizados na elaboração de políticas de habitação, de combate à criminalidade e à discriminação. As pesquisas da Escola de Chicago constituíram a base das políticas de planejamento urbano e de inclusão social para populações em situação de vulnerabilidade.

E o que dizer da contribuição das ciências sociais para os estudos da cultura? Na França, durante as décadas de 1960 e 1970, importantes pesquisas sociológicas e históricas na área de educação e cultura resultaram em grandes reformas do Estado, no que se refere principalmente a elaboração de políticas culturais e educacionais. O foco dessas pesquisas teórico-empíricas era a compreensão do fenômeno de produção e reprodução da desigualdade do desempenho escolar e aprendizado cultural entre indivíduos e coletividades (classes sociais, grupos de gênero, grupos de etnia). Até hoje, tais estudos são referências para aqueles que lidam com os temas da educação e cultura no mundo todo no sentido de elaborar propostas educacionais e administrativas para contrabalancear ou mesmo desconstruir tais desigualdades por meio de medidas políticas e pedagógicas.

Ainda nesse sentido, os estudos psicosociológicos de Piaget e Vigostky sobre as pré-condições psicossociais do aprendizado infantil que ajudaram a reformular as metodologias de ensino nas escolas e as didáticas e estratégias de aprendizagem de professores, é mais uma dessas contribuições “concretas”.

Não obstante, também sociólogos, antropólogos, linguistas, psicólogos têm se dedicado ao estudo da cultura, desde sua origem até os processos de assimilação e incorporação pelos indivíduos e coletividades. Tais estudos além de proporcionarem o conhecimento

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