Antropologia: Indivíduo e cultura
Por: Renato Giacomini • 19/5/2017 • Dissertação • 1.396 Palavras (6 Páginas) • 276 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
ANTROPOLOGIA: INDIVÍDUO E CULTURA
Juiz de Fora
2017
INTRODUÇÃO
“A Antropologia é tão antiga quanto a história da humanidade”. Esta afirmação sobre o surgimento desta ciência é controversa porque esse aspecto é analisado por diferentes perspectivas. Entretanto, entende-se “Antropologia” a sistematização dos esforços de intelectuais, principalmente europeus pós-modernos, para apreensão das relações intra-sociais e intersociais, os quais autores como Durkheim e Marcel Mauss tomam à frente para iniciar a compreensão do fato social. O etnocentrismo desse ditado, tão aceito entre a comunidade científica, não contempla as manifestações do pensamento sobre o “ser-homem” que fogem das ideias galileanas quando se limita o conceito de ciência. Se dirigirmos a atenção para fora dessas concepções, observamos que a literatura sobre aspectos humanos exteriores ao “eu” são produzidas desde de Heródoto e Aristóteles. Discursos de hierarquia cultural já eram citados por Agostinho quando declarava “inferiores” tribos germânicas pagãs – ideia que foi repetida e derrubada por estudos cada vez mais sofisticados por essa área.
O trabalho da Antropologia deve ser infindo em suas correções e renovações. A luz da antítese deve sempre indicar estruturas petrificadas e de mau funcionamento nesta ciência para que ela possa servir as necessidades de sua contemporaneidade já que novos conhecimentos surgem a todo momento e precisam ser integrados ao existente por diferentes meios.
Nesta dissertação estão contidos pontos históricos do estudo antropológico e as mudanças que o compõe ao longo do tempo; seus diferentes focos e objetos de estudo, cuja importância de cada elemento foi sendo alterada por revoluções, correntes filosóficas e conflitos sociais, o que manteve em movimento a atenção do antropólogo para o mundo.
DESENVOLVIMENTO
A etnografia corresponde aos “primeiros estágios da pesquisa: observação e descrição, trabalho de campo”; a etnologia é “um primeiro passo em direção a síntese” e, finalmente, a antropologia é “o último estado da síntese”, cuja elaboração conclui-se tanto da etnografia quanto da etnologia. O antropólogo Claude Lévi-Strauss organizou essa forma de pensamento para englobar o processo de desenvolvimento da Antropologia, a qual remete desde procedimentos muito simples de observação até a estruturação de ideias complexas e modelos científicos para que o homem, em suas diferentes esferas, seja estudado.
As origens da Antropologia, no século XIX, resgatam contextos do início da modernidade e atribuem-se da literatura etnográfica o seu arcabouço de informações para que sejam trabalhadas, ponderadas, criticadas, argumentadas e desconstruídas. De alguma forma, sua relação com esse período é estabelecida a partir de ideias que ou vão de encontro ou ao encontro às ideias do século XVI. A matéria prima para tal ciência escorava-se em outras áreas do conhecimento.
Esse período de trezentos anos que antecede o “Darwinismo Social” foi marcado pelas longas viagens de missionários europeus que entraram em contato com culturas nunca antes tocadas pela civilização europeia. Escritos sobre a fauna, flora, topografia, povos “descobertos”, hábitos e crenças feitos, por exemplo, por Pero Vaz de Caminha e Jean Baptiste Debret compõe as obras etnográficas necessárias para o desenvolvimento da Antropologia. Consequentemente, um aspecto fundamental para proporcionar ao ser humano relativo distanciamento de sua cultura – e a possibilidade de analisa-la - emergiu: a alteridade. Isso constitui a ruptura da naturalização de comportamentos relativos ao modo de vida de um grupo de indivíduos e condiciona-os a, inevitavelmente, compará-los a outros e, dessa forma, idealmente, seria reconhecida a pluralidade humana. Na prática, isso não ocorreu de forma tão simples e direta e sofreu perturbações de movimentos posteriores.
Em 1859, Charles Darwin publica o célebre A Origem das Espécies e sistematiza a teoria evolucionista, cujos conceitos foram aplicados tanto nas ciências biológicas como nas ciências humanas, ou seja, aferia-se que as sociedades evoluem ao longo do tempo assim como as espécies. Esse fato formalizou a Antropologia Física e deu respaldo para a criação da escola do Evolucionismo social.
Sincronicamente, a forte corrente iluminista da época moldou o objeto de estudo da Antropologia: o homem passou a ser visto, quando despido de sua cultura, como unitário e foi estudado em uma instância abstrata que corresponde a seu ser previamente inserido e sua sociedade e, logo, novamente sob suas indumentárias culturais, percursor de um desenvolvimento unilateral de uma cultura “primitiva” para uma “mais civilizada”, cujo parâmetro eram as sociedades europeias. Dessa forma, o evolucionismo aparece como a justificativa teórica de uma prática: o colonialismo. Acreditar-se pertencer a uma cultura superior estimula esforços de ocidentalização das sociedades, logo, um genocídio cultural que remonta as origens de problemas refletidos ao longo da história, como a filosofia nazista, e vividos atualmente. O reforço da hierarquização cultural ocorreu também com as ideias positivistas da Revolução Industrial onde se via presente o Darwinismo Social.
O cenário francês era construído por uma vertente paralela. Enquanto os evolucionistas da Antropologia biológica organizavam a cultura em estratos hierárquicos, Émile Durkheim viu a necessidade de elaborar instrumentos operacionais que permitissem construir um verdadeiro objeto científico, então a partir da publicação de Regras do "Método Sociológico", em 1895, se preocupou em observar as forças coercitivas exteriores aos indivíduos das sociedades e a forma como se dispunham internamente. Sob esse foco, o principal papel da cultura não era o seu “grau de desenvolvimento” – só era necessária uma forma de arranjo – mas sim sua influência em cada uma das pessoas inseridas em determinado contexto e que, no final, esse conhecimento tivesse uma utilidade prática, como a criação de políticas públicas, a fim de solucionar problemas enfrentados por uma população. Essa visão constituía o objeto “Fato Social Total” que representava a soma do biológico, psicológico, sociológico que constituem o ser humano. Inaugurou-se, assim, a linhagem francesa.
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