Análise De Discurso
Dissertações: Análise De Discurso. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: marleyrodrigues • 11/3/2014 • 1.599 Palavras (7 Páginas) • 251 Visualizações
ANÁLISE DE DISCURSO:
"Choque De Poderes", da Revista Veja
Outubro/2003
A entrevista analisada refere-se a disputa e ao choque de poderes ocorrido entre o presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Sr. Maurício Corrêa. Essa entrevista foi concedida a Eduardo Oinegue, jornalista da Revista Veja, sendo publicada em 03 de setembro de 2003.
O fato do entrevistado, o Sr. Maurício Corrêa, ser presidente do Supremo Tribunal Federal, legitima de certa forma seu discurso, dando-lhe o respaldo frente ao "lugar da cientificidade e da verdade de um saber"; ou seja, lhe confere a autoridade.
A partir dos conceitos de Foucault, de autoridade e de lugar de onde se fala, o autor do discurso (considerado aqui o Sr. Maurício Corrêa), dirigia-se a seu interlocutor como mero receptor de suas idéias, tomadas como incontestáveis, face a superioridade do saber científico que detêm: o da advocacia (representado pelas falas: pleito, habeas-corpus, agravo, homologação, embargo, declaratória, etc). Esse interlocutor é constituído pelo corpo dos leitores da Revista Veja, os receptores da mensagem.
Os Enunciados:
Os enunciados partem das alegações expostas na entrevista:
- "a justiça é boa para os ricos". Nesse sentido, o autor buscou mostrar a morosidade da justiça, que beneficia as classes mais abastadas pela própria procrastinação que favorece os advogados, por meio de "intrumentos de poder" que lhes são conferidos, como agravo regimental, embargo infringente, enfim, recursos que servem para adiar as decisões judiciárias, que acabam por favorecer e beneficiar os mais ricos.
- Não aceitação da Reforma do Judiciário. A Reforma, sugerida pelo presidente da República, foi criticada pelo Sr. Maurício Corrêa, evidenciada pela afirmação "A reforma do judiciário está para a agilização da justiça assim como a reforma ministerial está para a diminuição das desigualdades sociais". Para ele, não adianta mudar as pessoas, reorganizá-las, transferí-las, substituí-las e, sim afirma que é necessário uma mudança na legislatura, uma "reorganização das leis".
- Críticas ao modo de governo e seus governantes, nas figuras do presidente Luís Inácio Lula da Silva, do Ministro da Casa Civil, José Dirceu, e do Ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Verifica-se esse contexto na afirmação "o governo tem dois pólos que atuam como czares. Um é Antonio Palocci, outro é José Dirceu. O presidente Lula flutua no meio dos dois (...) fazendo discursos Brasil afora, modulando o tom de acordo com os locais onde está".
Nesse sentido, o autor critica o modo de atuação do presidente Lula, que atua como um joguete, dominado pelos seus ministros e sobretudo por José Dirceu, que centraliza todo o poder em suas mãos, poder delegado pelo prórpio presidente; que toma a forma de um ator, um mero expectador do governo e não como governante ativo e consciente de suas funções e atribuições.
- Lula mudou o discurso para chegar ao poder? Essa crítica ou dúvida do autor pode ser verificada a partir de "será que ele fazia aqueles discursos durante a campanha para alcançar o poder e depois mudar de opinião ou foi a realidade do poder que o transformou?"
Nessa perspectiva, entende-se que o poder pode dominar, contaminar e deslumbrar as pessoas, sobretudo o presidente. O autor continua "meu ponto de vista é que o presidente não é mais a mesma pessoa que se apresentou na campanha. A gente vê pela elegância dele em se vestir, pela forma de pentear o cabelo, suas gravatas e seu modo de agir. O poder é algo contagiante. O presidente tem uma origem humilde".
Aqui o autor remete ao fato do presidente ter origem humilde, um operário, metalúrgico, que chegou ao poder, sendo por ele contaminado. Transparece o fato do autor compará-lo com o presidente anterior, Fernando Henrique Cardoso, adversário político que Lula tanto criticava; como um pálida cópia (as roupas, as viagens e a política de governo).
- privilégios a magistratura, concedidos na aposentadoria. "não pleiteei privilégios. Apenas defendi direitos adquiridos na própria constituição". Dessa forma, o autor esquece que não são direitos que atendem a maioria, e sim privilégios de poucos.
- o comportamento irrepreensível merece ser recompensado. Os magistrados merecem altas remunerações para evitarem "a tentação de praticar determinadas ações não recomendadas". Como se o fato de se pagarem altos salários e benefícios aos magistrados pudesse evitar a questão da corrupção no judiciário.
- considera os magistrados como uma classe superior, um ser humano melhor que os demais. "nossa formação e responsabilidade não pode ser comnparada a de um cortador de cana (...). Os juízes tratam da liberdade, da preservação do direito à vida digna e do patrimônio das pessoas e do Estado em ações que muitas vezes envolvem milhões ou bilhões de reais.
Formações Discursivas e Ideológicas:
A partir da formação discursiva que transparece na entrevista, o autor estabelece uma relação hierárquica entre os magistrados e os demais profissionais, sendo os primeiros de formação, responsabilidade e comportamento "irreprochável".
Isso demonstra a formação ideológica cultuada entre os bacharéis e acadêmicos dos cursos de direito: de que são seres superiores, "doutores", onde a formalização das relações humanas, a negação da afetividade e da subjetividade do indivíduo são cultuadas por todos.
O pressuposto de que o presidente Lula foi contaminado pelo poder pelo fato de estar deslumbrado com os benefícios do cargo (segurança, comodidade, etc); o que é evidenciado em seu modo de vestir, seu gestual, seu próprio discurso, que nessa perspectiva, remete a uma forma de reprodução de Fernando Henrique Cardoso.
O autor contrapõe que, Itamar Franco, também de origem modesta, não se deslumbrou ao assumir a presidência, como Lula com o poder que lhe foi concedido. "Itamar Franco não mudou ao tomar posse". Porém ao ser contestado sobre o episódio de Itamar se pego com a "moça sem calçinha", Maurício Corrêa alega que "Olha, Itamar era e é solteiro".
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