CONSIDERAÇÕES FINAIS
Resenha: CONSIDERAÇÕES FINAIS. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: aldeires • 19/4/2014 • Resenha • 9.602 Palavras (39 Páginas) • 339 Visualizações
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O breve exame da proteção social para idosos na Política de Assistência Social em
Salvador revela uma tendência clara: os programas previstos nas políticas não estão se
realizando, sobretudo aqueles que, na área da saúde e assistência, preconizam a atenção
domiciliar e o cuidado com os idosos mais fragilizados.
A tônica, também na cidade de Salvador, é a mesma registrada nas discussões
teóricas: a mobilização da família e dos laços comunitários, ação entendida como
preventiva de agravos no campo da saúde e assistência. Ficam sem cobertura pública,
nesse modelo, os idosos dependentes, que necessitam de cuidadores, bem como aqueles
que sofrem violência e que, raramente, frequentam centros de convivência ou procuram
serviços de saúde. Isso, sem contar os idosos sozinhos, mas que não se encontram em
situação de abrigamento. Todos esses são grupos de idosos que parecem invisíveis para
as políticas. A atenção é pensada para idosos que tenham suas famílias, seus cuidadores
e que estão em boa condição de saúde para frequentarem grupos de lazer e sociabilidade.
Contudo, o que o estudo pretendeu mostrar é que as políticas reproduzem alguns
estereótipos sobre a família e os idosos, naturalizando sobretudo o papel da família
protetora e do idoso como um sujeito que apenas observa os processos de mudanças,
mas não é sujeito neles. Ou seja, as políticas parecem não acompanhar os novos papéis e
necessidades dos idosos e de suas famílias. Por exemplo, as políticas sociais no Brasil
negligenciam a questão fundamental posta pelos cuidados com os dependentes que
ficam a cargo da família, sobretudo das mulheres e, tantas vezes, das mulheres velhas,
enfocando apenas nos gastos do Estado e sua necessidade de cortes.
Isso fica muito claro quando falamos de mulheres velhas que vivenciaram, em
suas trajetórias, importantes mudanças em seus papéis e condição, ao mesmo tempo em
que continuaram sendo alvo de discriminação e desigualdade de tratamento.
As idosas que frequentam os CSU's são aposentadas/pensionistas, beneficiárias da
Previdência e usuárias da Assistência. São idosas pobres. Sua situação mostra, em parte,
esses novos “lugares” da velhice feminina: elas são senhoras ativas, que procuram se
cuidar e manter uma vida socialmente rica, mas sem que isso signifique a vivência de
uma liberdade plena, ou controle de seu tempo e escolhas, inclusive quanto a seus
gastos. Isso, pois são mulheres que ainda têm responsabilidades familiares, o que faz
com que, muitas vezes, sua participação em grupos de convivência seja fruto de esforço
pessoal e, em alguns casos, tenha também algum impacto em sua vida material. Sobre
isso, algumas idosas relataram a importância da alimentação oferecida pelos Centros na
sua reprodução diária, bem como na de sua família.
A participação em centros de convivência em seus bairros é uma demanda desse
grupo social. Contudo, pudemos observar que essas aposentadas apresentam outras
demandas para a Política de Assistência, as quais poderiam ser atendidas se tal política
fosse efetivada. É claro que o trabalho nos CSU's cumpre papel importante no
“fortalecimento de vínculos”, mas, em poucas visitas, percebemos como uma série de
direitos das idosas são negligenciados, mesmo porque a realidade social dessas mulheres
não é claramente conhecida pela instituição.
Penso, contudo, que essa não é a análise conclusiva desse quadro. Apesar, é claro,
da discussão aqui proposta ter um cunho muito preliminar, carecendo de mais dados,
ela aponta para algo que é muito difícil trabalhar no contexto da política social,
sobretudo para as populações mais “vulneráveis”, identificadas, dentre outros grupos,
com os velhos e as mulheres. Nesse contexto de proteção social, existe uma lógica
bastante perversa de naturalização de papéis que reforça a subalternidade dos grupos
que deveriam ser emancipados e justifica uma política pobre para os mais pobres. Nesse
caso, o reforço ao papel da idosa ativa, mas também da mulher que provê a família de
cuidados e/ou financeiramente, contribui para o silêncio social sobre as múltiplas tarefas assumidas pela idosa e, até mesmo em função disso, suas ampliadas necessidades
sociais que, parece-nos, estão para além dos serviços que lhes são prestados.
tarefas assumidas pela idosa e, até mesmo em função disso, suas ampliadas necessidades
sociais que, parece-nos, estão para além dos serviços que lhes são prestados.
Estudo das políticas de proteção
as pessoas da terceira idade no Brasil
Márcia Batista Gil Nunes, Cileia do Nascimento Silva Ramos
Mauro & Maria Yvone Chaves
Adicionado ao site em 07.07.2003
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