Campo da saúde coletiva

1 INTRODUÇÃO

Constitui um campo da Saúde Coletiva o estudo sobre territorialidade, território e lugar, a fim de que se possa construir conhecimentos e dispositivos para promover saúde.

De acordo com Teixeira et al. (1998), o reconhecimento e o esquadrinhamento do território, levando em consideração aspectos relacionais como condições de vida, ambiente e acesso às ações e serviços de saúde, se configura como ponto de partida para organização dos serviços e práticas de vigilância em saúde. A territorialização é uma das ferramentas para o planejamento estratégico situacional, metodologia pertinente para a construção da intervenção em saúde realizada pelo nosso grupo como proposta para o trabalho final de Promoção e Educação em Saúde V.

Para tanto, nos imbuímos de conceitos e aprendizagens/vivências in loco, ou seja, visitas e observações realizadas dentro do território. O reconhecimento deste território, situado no centro da cidade de Porto Alegre/RS (mais precisamente no entorno do Mercado Público) é de fundamental importância para se avaliar as reais necessidades da população, bem como, sua caracterização, compreendendo quais os possíveis impactos positivos para a saúde após a realização do trabalho proposto. Assim, o conceito de território perpassa para além de um espaço físico e geográfico; é constituído de interações históricas, culturais, sociais, políticas e econômicas. Envolve a dinamicidade de relações e suas complexidades. E, a partir das vivências, elaboramos a análise da realidade, a identificação de um problema de saúde, a criação de uma proposta de promoção da saúde e sua operacionalização prática.

A análise da realidade deu-se através da técnica de estimativa rápida, ou seja, a obtenção de informações sobre o conjunto de problemas, baseado na percepção da população do território, em um curto período de tempo e sem gastos significativos. Através das informações coletadas foram gerados dados primários que tratam do contexto da realidade presenciada.

2 PRIMEIRA VISITA DE OBSERVAÇÃO AO TERRITÓRIO

Na primeira visita ao território realizamos a observação e análise dos seguintes dados primários pré - estabelecidos: “quais os atores que frequentam/vivem no território?”; “como acontece a vida cotidiana no território?”; “como se dá o acesso desses atores?”; “quanto ao setor saúde, quais serviços são acessados e de que maneira?”; “quanto a alimentação, quais as opções oferecidas?”; “qual a avaliação da segurança no território?”, entre outros dados.

Após a observação, concluímos nossa análise identificando os seguintes aspectos:

- A população dispersa no território se constitui de trabalhadores, transeuntes em geral, população em situação de rua, drogaditos e outros que utilizam o território como ponto de encontro para diversas finalidades;

- A dinâmica cotidiana se apresenta de diferentes formas: lazer (shows alternativos), ações de cidadania e voluntariado, comércio ambulante, violência urbana, existência de boates (“inferninhos”),...

- Os principais transportes utilizados para o acesso ao território são os coletivos, como: metrô, ônibus, táxi e lotação.

- O principal serviço de saúde referido pela população do território foi o Centro de Saúde Santa Marta. No entanto, também foi referida certa dificuldade de acesso devido à distância e ao horário de atendimento da Unidade. Muitos alegaram se automedicarem quando acometidos de alguma patologia, devido às dificuldades citadas anteriormente. Há oferta de inúmeras farmácias no entorno do território, o que facilita o acesso a esse tipo de serviço.

- Os serviços de alimentação mais presentes são os bares e restaurantes, ainda que existam “carrocinhas” de cachorro-quente e churrasquinhos. Muitos desses locais funcionam em ambientes com acúmulo de grande volume de sujeira e em presença de odores fétidos.

- A segurança referente ao território em análise é precária. Não há proteção de policiais suficientes no ambiente, com exceção de grandes eventos, como a Copa do Mundo, por exemplo. A incidência de violência, mais especificamente o grande número de assaltos, é uma das características do entorno do Mercado Público de Porto Alegre e seus arredores.

- Finalmente, alguns outros dados foram observados e analisados, tais como: a precariedade de saneamento básico, a pouca oferta de banheiros públicos, as más condições de trabalho e de higiene e o calçamento irregular devido a obras inacabadas e/ou deficitárias.

Figura 1: Área Interna do Mercado Público (próximo às escadas no andar térreo).

Figura 2: Área Interna do Mercado Público ( em frente a Banca do Holandês).

Figura 3: Comercio carnes defumadas e diversos importados.

Figura 4: Grupo observando aspectos do acondicionamento dos alimentos.

3 SEGUNDA VISITA DE OBSERVAÇÃO AO TERRITÓRIO

Anteriormente a construção do mapa falante, a segunda visita ao território possibilitou a aproximação com os serviços escolhidos e com os funcionários e usuários daqueles locais para a realização da intervenção.

Entrevistamos diversos trabalhadores do território, que convivem diariamente no local e experienciam de alguma maneira o cotidiano do mesmo. Dentre as informações coletadas nas entrevistas, houve maior ênfase dada ao risco de algumas áreas, como por exemplo, na Rua Marechal Floriano Peixoto, local de vários bares noturnos.

Em relação à saúde, os entrevistados informaram doenças sazonais, principalmente as relacionadas ao aparelho respiratório, como gripes e tuberculoses (comum nas populações mais vulneráveis). Por outro lado, também foi relatada de forma preocupante e significativa, a relação entre o lixo produzido e as doenças causadas por animais sinantrópicos. Os animais sinantrópicos são aqueles que se adaptaram a viver junto ao homem, a despeito da vontade deste. Diferem dos animais domésticos, os quais o homem cria e cuida com as finalidades de companhia (cães, gatos, pássaros, entre outros), produção de alimentos ou transporte (galinha, boi, cavalo, porcos, entre outros). Destacamos, dentre os animais sinantrópicos, aqueles que podem transmitir doenças, causar agravos