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Cultura Um Conceito Antropológico

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Por:   •  27/9/2013  •  2.677 Palavras (11 Páginas)  •  1.635 Visualizações

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Primeira parte : DA NATUREZA DA CULTURA OU DA NATUREZA À CULTURA

No seu livro "Cultura: um conceito Antropológico", Roque Laraia fala sobre o conceito de cultura em diversas temporalidades e já no início apresenta qual será a discussão:

Este volume trata da discussão de um dilema: a conciliação da unidade biológica e a grande diversidade cultural da espécie humana. Um dilema que permanece como o tema central de numerosas polêmicas (...) A natureza dos homens é a mesma, são os seus hábitos que os mantêm separados. (p. 10)

Quando menciona Heródoto (484-424 a.C), o grande historiador grego, que ao considerar os costumes do povo lício diferente da sua própria sociedade patrilineal, mesmo agindo de maneira etnocêntrica, ele tenha renega esta postura ao dizer:

Se oferecêssemos aos homens a escolha de todos os costumes do mundo, aqueles que lhes parecessemmelhor, eles examinariam a totalidade e acabariam preferindo seus próprios costumes, tão convencidos estão de que estes são melhores do quetodos os outros. (p. 11)

“Desde a antiguidade, foram comuns as tentativas de explicar as diferenças de comportamento entre os homens, a partir das variações dos ambientes físicos”. (p. 13)

“Contudo, explicações deste gênero não foram suficientes para resolver o dilema proposto”. (p. 14)

Qualquer um dos leitores que quiser constatar, uma vez mais, a existênciadessas diferenças não necessita retornar ao passado. “Basta comparar os costumes de nossos contemporâneos que vivem no chamado mundo civilizado”’. (p. 14-15)

As diferenças de comportamento entre os homens não podem ser explicadas através das diversidades somatológicas ou mesológicas. “Tanto o determinismo geográfico como o determinismo biológico (...) foram incapazes de resolver o dilema proposto no início deste trabalho”. (p. 16)

1. O determinismo biológico

“São velhas e persistentes as teorias que atribuem capacidades específicas inatas a ‘raças’ ou a outros grupos humanos”. (p.17). Nesse sentido, o autor pontua determinismos biológicos como sendo a genética dos grupos sociais que determina o comportamento humano.

“Os antropólogos estão totalmente convencidos de que as diferenças genéticas não são determinantes das diferenças culturais”. (p.17). Assim, Felix Keesing discorre sobre o assunto:

Não existe correlação significativa entre a distribuição dos caracteres genéticos e a distribuição dos comportamentos culturais. Qualquer criança humana normal pode ser educada em qualquer cultura, se for colocada desde o início em situação conveniente de aprendizado.(p.17)

A espécie humana se diferencia anatômica e fisiologicamente através do dimorfismo sexual, mas é falso que as diferenças de comportamento existentes entre pessoas de sexos diferentes sejam determinadas biologicamente, o comportamento dos indivíduos depende de um aprendizado, de um processo chamado endoculturação. “Um menino e uma menina agem diferentemente não em função de seus hormônios, mas em decorrência de uma educação diferenciada”. (p.20)

2. O determinismo geográfico

“O determinismo geográfico considera que as diferenças do ambiente físico condicionam a diversidade cultural”. (p.21). Nessa teoria o ambiente físico determina as diferenças entre os povos humanos. Essa teoria foi desenvolvida principalmente por geógrafos no final do século XIX e no início do século XX, no qual ganharam grande popularidade.

No início do século XX, na de década dos anos vinte, antropólogos como Boas, Wissler, Kroeber, entre outros, refutaram este tipo de determinismo e demonstram que existe uma limitação na influência geográfica sobre os fatores culturais. E mais; que é possível e comum existir uma grande diversidade cultural localizada em um mesmo tipo de ambiente físico.

As diferenças existentes entre os homens, portanto, não podem ser explicadas em termos das limitações que lhes são impostas pelo seu aparato biológico ou pelo seu meio ambiente. A grande qualidade da espécie humana foi a de romper com suas próprias limitações: um animal frágil, provido de insignificante força física, dominou toda a natureza e se transformou na mais temível dos predadores. Sem asas, dominou os ares; sem guelras ou membranas próprias, conquistou os mares. Tudo isto porque difere dos outros animais por ser o único que possui cultura. Mas que é cultura?”(p.24)

3. Antecedentes históricos do conceito de cultura

Edwar Tylor (1832–1917) sintetizou a princípio o conceito de cultura do termo germânico Kultur, que era utilizado para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade, e da palavra francesa Civilization , referindo-se principalmente às realizações matérias de um povo. No entanto, do vocábulo inglês Culture ,que é tomado em seu amplo sentido etnográfico, é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade. Com esta definição Tylorabrangia em uma só palavra todas as possibilidades de realização humana.

O conceito de Cultura, pelo menos como utilizado atualmente, foi portanto definido pela primeira vez por Tylor. Mas o que ele fez foi formalizar uma ideia que vinha crescendo na mente humana. A ideia de cultura, com efeito, estava ganhando consistência talvez mesmo antes de John Locke (1632-1704) que, em 1690, ao escrever Ensaio acerca do entendimento humano, procurou demonstrar que a mente humana não é mais do que uma caixa vazia por ocasião do nascimento, dotada apenas da capacidade ilimitada de obter conhecimento, através de um processo que hoje chamamos de endoculturação. (p.26)

Jacques Turgot (1727-1781), meio século depois de Lock, já demonstrava um possível conceito de cultura ao afirmar:

Possuidor de um tesouro de signos que tem a faculdade de multiplicar infinitamente, o homem é capaz de assegurar a retenção de suas ideias eruditas, comunicá-las para outros homens e transmiti-las para os seus descendentes como uma herança sempre crescente. (p. 26-27 )

“Em 1871, Tylor definiu cultura como sendo todo o comportamento aprendido, tudo aquilo que independe de uma transmissão genética, como diríamos hoje.” (p.28)

Em suma, a nossa espécie tinha conseguido, no decorrer de sua evolução, estabelecer uma distinção de gênero e não apenas de grau em relação aos demais seres vivos. Os fundadores de nossa ciência, através dessa explicação, tinham repetido a temática

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