Dinâmica interna dos grupos
Por: Flávia Figueiredo • 10/10/2019 • Artigo • 5.057 Palavras (21 Páginas) • 183 Visualizações
PUC Minas Coração Eucarístico/Curso de Serviço Social
Disciplina: Técnicas e Estratégias em Serviço Social II
Profa. - Maria da Consolação Gomes de Castro
OS GRUPOS- CONSIDERAÇÕES GERAIS[1]
Este texto está dividido em duas partes. A primeira apresenta reflexões sobre as relações existentes entre grupo, indivíduo e contexto social e a segunda parte trata da discussão sobre conceito de grupo, abordando também os significados de multidão e de massa. Foi escrito tendo por base estudos teóricos da sociologia, da ciência política, da antropologia e da psicologia social, privilegiando, desta forma, a interdisciplinaridade.
O enfoque da sociologia aparece ao descrevermos os grupos como elementos constitutivos da organização da sociedade e como instrumentos de ação coletiva. O enfoque da ciência política irá surgir quando a reflexão se centrar em questões que envolvem distribuição e disputa de poder. Ao analisarmos comportamentos, situações de aprendizagem e de socialização advindas da experiência grupal, iremos nos deparar com estudos da psicologia social e da antropologia.
É extremamente extenso o estudo sobre grupo, a bibliografia é vasta, e este texto, entretanto, procura trazer algumas informações que possibilitem ao aluno dimensionar a importância desta realidade social. O trabalho com formas associativas grupais constitui-se estratégia valiosa de ampliação de conhecimentos, de defesa de direitos, de busca da cidadania. Por estes e outros motivos o grupo é um instrumento de intervenção relevante para o fazer profissional do Assistente Social.
1- O indivíduo e o grupo
Cada indivíduo, em seu cotidiano, participa de grupos diferenciados e não participa ou deixa de participar de uma imensa variedade de outros grupos.[2] Max participa do grupo de universitários, do seu grupo familiar e de trabalho e não participa do grupo de jogadores de peteca do prédio onde reside. Conforme as circunstâncias vivenciadas por nós, iremos hierarquizar e privilegiar a presença neste ou naquele grupo. Max, ao entrar para o curso universitário noturno, deixou de participar de um grupo religioso que se reúne à noite durante a semana.
Percebemos que o contexto grupal atravessa sobremaneira a nossa existência, sendo assim, a frase “nenhum homem é uma ilha isolada”, faz sentido. Os homens têm certas necessidades materiais, afetivas, psicológicas, sociais e espirituais que são atendidas com a ajuda de outras pessoas.
Nos textos sobre grupo encontramos a seguinte indagação: qual a influência do grupo sobre o indivíduo? Vários estudiosos admitem que os grupos exercem influências e pressões sobre o indivíduo, ocorrendo também o fato de o indivíduo influenciar o grupo.
Fonseca [3] examina a relação indivíduo/grupo apresentando três explicações. A primeira explicação refere-se à tendência individualista, segundo a qual os grupos são vistos como agregados de indivíduos; neste sentido, cada pessoa permanece no grupo defendendo seu interesse e seu ponto de vista. A tendência universalista, por outro lado, percebe os grupos como realidades preexistentes e super ordenadas; os grupos, sendo anteriores ao indivíduo, exercem sobre ele forte influência. Fonseca cita uma terceira explicação, influenciada pela Psicologia da Gestalt, segundo a qual a relação indivíduo/grupo é entendida como relação de reciprocidade funcional. Esta última tendência é defendida por Kurt Lewin que analisa as mudanças constantes a que estão sujeitos o indivíduo e o grupo, por força da interação grupal. Desta forma, tanto o indivíduo fica sujeito à pressão do grupo, quanto os grupos, mesmo aqueles cuja existência é anterior à inserção do indivíduo, podem se alterar por influência de seus componentes.
Kurt Lewin, teórico que deu um grande impulso à psicologia social e à dinâmica de grupo, considera o grupo como um setor do espaço vital onde evolui e se desenvolve a existência de um indivíduo. Lewin preocupou em elaborar
“[...] uma psicologia dos grupos que fosse ao mesmo tempo dinâmica e guestáltica, isto é, articulada e definida por referência constante ao meio social no qual se formam, integram-se, gravitam ou se desintegram os grupos”.[4]
Lewin chama a atenção para as implicações do contexto social sobre o grupo e seus estudos colaboram para a compreensão do processo de socialização do ser humano, sendo importante apreender três conceitos básicos adotados por ele, quais sejam:
a) totalidade dinâmica - todo conjunto de elementos interdependentes constitui uma totalidade dinâmica, e por isso os grupos são totalidades dinâmicas. Podemos interpretar Lewin, considerando a interdependência entre os indivíduos nos grupos, ocorrendo ainda a influência do meio ambiente externo.
b) eu social - cada indivíduo tem o seu “eu íntimo”, formado por valores fundamentais e de suma importância para cada pessoa. Em torno deste “eu” gravita o “eu social” que engloba sistemas de valores que são partilhados com certos grupos. O eu íntimo é um eu fechado e o eu social é um eu aberto que pode estreitar-se ou dilatar-se. Para Lewin, certas personalidades são abertas ao outro, configurando estruturas de acolhimento, mesmo no plano do eu íntimo. Outras, ao contrário, são dobradas sobre si mesmas, e têm como preocupação defender-se ou fechar-se frente ao outro.
c) campo social - o campo é o espaço de vida da pessoa. É formado pela pessoa e pelo meio em que ela vive, seja ele familiar, de vizinhança, relativo à escola, ao trabalho, Igreja, clube, etc. Um campo social é também uma totalidade dinâmica constituída por entidades sociais coexistentes, não necessariamente integrada. No interior de um mesmo campo social podem coexistir grupos, subgrupos, indivíduos separados por barreiras sociais, ou ligados por redes de comunicações. Expõe Lewin que o campo social é uma “gestalt”,[5] isto é, um todo irredutível aos sub-grupos que nele coexistem e aos indivíduos que ele engloba.
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